Verissimo | Crítica

Luís Fernando Veríssimo é escritor de extensa obra literária e pode-se dizer de popularidade relevante. Famoso por suas crônicas que tratam do cotidiano com humor leve e ao mesmo tempo com doses boas de sarcasmo. Curiosamente citado na internet por frases, textos ou até livros em que na realidade não foram escritos por ele. Dos escritores é uma celebridade, concede entrevistas a diversos meios e isso vai de contra sua figura extremamente tímida e reservada.

Levando em conta nossa natural curiosidade em conhecer o mundo pessoal e a mente por tras de tantas deliciosas criações, o documentário “Verissimo” tem por característica principal nao facilitar em nada nessa investigação. No pouco tempo de filme, nos posicionamos como uma testemunha fria do cotidiano super comum e simples do escritor e sua interação com a familia e o mundo que o rodeia.

Inclusive o filme adota a curiosa marcação de tempo antecipando a data de aniversário do escritor, nos dando a entender que algo especial vai acontecer. E no fatídico dia realmente acontece algumas coisas, mas talvez não na proporção de quem está esperando grandes revelações.

A realidade é que passamos boa parte do filme rodeando aqueles olhinhos afetuosos do escritor, na tentativa de captar alguma coisa do que não foi dito ou mostrado. E de fato percebemos seu cuidado discretíssimo com sua familia, não fazendo impor sua presença, embora boa parte do cotidiano da casa gire em torno dele. Seu amor pela esposa é algo visível, quase gritante, mas é o grito típico de Luis Fernando: super contido. Mas está ali, visivelmente.

A sensação que o documentário causa é que durante as conversas do diretor Angelo Defanti com o escritor e seus representantes ficou claro que Luis Fernando é a celebridade mais comum que a atualidade merece e portanto nao seria honesto um documentário cheio de firulas e manipulações de emoções, com entrevistas chorosas, e voltas no tempo. Inclusive a importante figura de seu pai é apenas mencionada como de fato foi: pai.

Concordo que essa escolha narrativa não é nada fácil. Inclusive arrisco a dizer que faltou mais tempo de filme com mais dessas informações simples que o filme coloca, porque como foi dito, aqui e ali encontramos informações na figura tão cativante do escritor, extremamente calmo e as vezes parecendo que está no seu mundo próprio, mesmo quando está assistindo a partida de seu time de futebol favorito. E em outro momento quando está em entrevistas essa timidez por vezes é esquecida e coisas preciosas são ditas. Ainda assim, arrisco a dizer que o grande mérito do documentário é captar diversas vezes o olhar do Luis Fernando, e não do escritor.

Avaliação:  3 de 5