Tempos de Barbárie | Crítica
Um filme de vingança geralmente encontra simpatia fácil devido as experiencias de violência urbana a que estamos sujeitos e quando não encontramos a tão esperada justiça, o que acontece frequentemente, então imaginamos como seria corrigir com nossas próprias mãos e com poderes ilimitados, o mal sofrido. Tempos de Barbárie trata com ousadia esse tema, pelas cenas fortes e por colocar os personagens pensando em si e nas merdas que fazem em nome de valores que julgam irrepreensíveis.
Muito da ousadia do longa nacional está na quantidade de profissionais de alto nível envolvidos que possuem experiência sólida na TV, trazendo uma naturalidade em momentos difíceis de se filmar e consequentemente no resultado dessas imagens. Por isso, o destaque vai para atores e direção. Claudia Abreu, atriz querida do público e sempre potente, nos entrega com facilidade a história de uma mãe que sofre assalto onde sua filha fica ferida tão gravemente, que altera a sanidade dessa mãe, que cada vez mais não sabe diferenciar limites, indo em busca de vingança. Ela domina a ação e a tensão da narrativa, sendo limitada apenas pelo próprio diretor do filme. Este, cuja competência é inquestionável, decidiu nos mostrar de pouco a pouco a dor do drama que essa família vive, curiosamente como uma novela faz em seus meses de transmissão. Se foi exitoso ou não essa escolha, só quem assiste é que pode afirmar.
Se vingar de violência que uma família sofreu é o tema central dessa história. A mãe ao participar de grupo terapêutico vê sua dor redimensionada quando escuta outros casos. Estupro, assassinatos, torturas, quase sempre vitimas mulheres. E o desenrolar do filme se torna interessante não somente quando a justiça pelas próprias mãos é iniciada, mas quando esta mãe começa a questionar tudo das diferentes realidades diante de si. Pois nesse momento não é mais só sua dor, a barbárie implica vários outros personagens que contribuem para a tragédia, inclusive aqueles que não tem absolutamente noção nenhuma que um pequeno gesto contribui para uma cadeia de outros atos.
Por outro lado, a escolha talvez menos favorável do diretor do longa foi na do ritmo do filme. Um drama contado a medidas é uma coisa, mas excesso de cenas mais lentas podem soar como uma tentativa de aumentar a carga dramática e acaba cansando-nos. Para isso bastava deixar a cargo do elenco incrível que tinha a disposição. A terapeuta que Júlia Lermmertz entrega já faz isso magistralmente apenas com uma cena em que toma café calmamente. Alexandre Borges em uma pequeníssima participação arrebenta com presença de cena. Ou Claudia di Moura, camaleônica, como a sogra com inesperada atitude. Bastava deixar para eles darem o próprio ritmo ao filme como de fato já o fazem.
Ficha Técnica:
Tempos de Barbárie. Ato I : Terapia da Vingança
Elenco: Cláudia Abreu, Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, César Melo, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima
Direção: Marcos Bernstein
Roteiro: Marcos Bernstein, Victor Atherino e Paulo Dimantas
Produção: Katia Machado, Alex Mehedff, Gualter Pupo, Luis Vidal e Marcos Bernstein
Empresas Produtoras: Hungry Man, Pássaro Films e NeanderthalMB
Coprodução: Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Produtor associado: Fernando Meireles
Produção Executiva: Carolina Aledi, UPEX e Mário Diamante
Direção de Fotografia: Gustavo Hadba
Direção de Arte: Tiago Marques
Montagem: Tainá Diniz, Danilo Lemos e Marcelo Moraes
Trilha sonora original: Lucas Marcier, Fabiano Krieger e Rogério da Costa Jr
Som direto: Jorge Saldanha
Edição de Som: Beto Ferraz
Produção de Elenco: Marcela Altberg
Figurino: Valeria Stefani
Caracterização: Auri Mota
Oi, não conhecia o filme, e parece bem forte, sua resenha me passou isso e deixou curiosa até pelo elenco, ótimos atores que, ao que parece, sendo explorados em sua potência máxima de atuação.
Esse filme é novidade pra mim. Que tema forte! Eu imagino como deve ser angustiante… Porque a gente como brasileiro que somos, já estamos saturados de tanta violência e impunidade no nosso dia a dia, né? Creio que por isso não deve ser nem complicado para os atores vivenciarem tão bem seus papéis.
Gostei da recomendação e de saber quão bem cada um está em sua devida escalação. Um abraço.
Olá, tudo bem?
Eu ainda não tinha ouvido falar sobre esse filme, mas só o elenco já chama a atenção. Em especial, adoro o trabalho da Cláudia Abreu. O que me desanima um pouco, além da questão do ritmo que você citou, é a temática da vingança. É um assunto muito pesado e confesso que ando optando por histórias mais leves. Mas vou deixar a dica anotada para um outro momento, porque esse elenco parece fazer o filme valer a pena.
Beijos
Olá,
Interessante o filme. Raramente costumo assistir filmes deste gênero e gostei de conhecer mais, como não acompanho muito tudo é uma novidade.
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