Semana Especial Neil Gaiman: Resenha de Mitologia Nórdica
Nome do Livro: Mitologia Nórdica
Nome Original: Norse Mythology
Autor(a): Neil Gaiman
Editora: Intrínseca
Ano: 2017
Páginas: 288
Nota: 5/5
Neil Gaiman tem sido inspirado pela mitologia antiga na criação dos reinos fantásticos de sua ficção. Agora ele volta sua atenção para a fonte, apresentando uma versão bravura das grandes histórias do norte.
Na mitologia nórdica, Gaiman permanece fiel aos mitos ao prever o maior panteão dos deuses nórdicos: Odin, o mais alto dos altos, sábios, ousados e astutos; Thor, filho de Odin, incrivelmente forte, mas não o mais sábio dos deuses; E Loki-filho de um irmão de sangue gigante para Odin e um malandro e insuperável manipulador.
Gaiman modela essas histórias primitivas em um arco romântico que começa com a gênese dos nove mundos lendários e mergulha nas façanhas de deidades, anões e gigantes. Uma vez, quando o martelo de Thor é roubado, Thor deve disfarçar-se como uma mulher – difícil com sua barba e enorme apetite – para roubá-lo de volta. Mais pungente é o conto em que o sangue de Kvasir – o mais sagaz dos deuses – se transforma em um hidromel que infunde bebedores com poesia. O trabalho culmina em Ragnarok, o crepúsculo dos deuses e o renascimento de um novo tempo e de pessoas.
Através da prosa hábil e espirituosa de Gaiman surgem esses deuses com suas naturezas ferozmente competitivas, sua susceptibilidade a ser enganados e enganar os outros e sua tendência a deixar a paixão inflamar suas ações, fazendo com que esses mitos há muito tempo respirem uma vida pungente novamente.
Para mim, esta foi uma das leituras mais aguardadas e prazerosas dos últimos tempos.
Neil Gaiman é conhecido por ter concebido uma vasta mitologia, na qual se destacam as histórias de Sandman, o Senhor dos Sonhos. Os domínios do Sonhar não são barrados pela fronteira do tempo e do espaço, o que permite ao personagem-título cruzar os caminhos de divindades do panteão greco-romano, mitos africanos, fadas etéreas e demônios abissais. Até mesmo Loki e Odin, expoentes do folclore nórdico, tiveram a oportunidade de ficar frente a frente com o Príncipe das Histórias.
Gaiman é hábil ao evocar deuses e semideuses e exaltar tanto suas virtudes inefáveis quanto seus fracassos monumentais – e isso faz “Mitologia Nórdica” ser delicioso. Seres de capacidade sobre-humana caem em trapaças, cometem erros e são traídos por emoções, assim como nós, e às vezes precisam pagar um preço alto para se redimir. São quinze contos no total e é preciso ressaltar a qualidade do trabalho da Intrínseca: a capa está belíssima e é realmente um prazer manusear essa edição.
Os mitos são organizados de modo a contar uma história que vai do início dos tempos ao Ragnarök, o chamado “crepúsculo dos deuses”. Ainda que o foco esteja na tríade formada por Odin, Thor e Loki, há menções frequentes a gigantes, anões e a criaturas lendárias como o lobo Fenrir e Jormungand, a serpente que circunda o mundo conhecido. Correndo o risco de denunciar minha idade, fiquei feliz ao ler uma breve citação às deusas do anime “Ah! My Goddess”, Belldandy (Verdandi), Urd e Skuld.
De qualquer forma, seja qual for a sua referência de mitologia nórdica, este é um livro que merece ser lido. É difícil escolher um ponto alto, mas uma das partes imperdíveis é certamente a que diz respeito ao martelo de Thor. Você ficará sabendo como e por que ele foi conquistado, conhecerá uma imperfeição na sua construção e entenderá o motivo dele ser um artefato tão reverenciado. Mesmo que você já tenha familiaridade com o assunto, a escrita de Gaiman cria uma experiência fantástica por si só.
Ah, se você procura um Loki carismático e perspicaz como o dos filmes dos Vingadores, suas expectativas serão mais do que atendidas. O Deus da Trapaça é um personagem extremamente interessante, notabilizado por ser ardiloso, estrategista e, sobretudo, ambíguo. De suas ações, geralmente surgem consequências que afetarão a todos em um primeiro momento, mas que podem trazer um ou outro benefício no futuro. Thor, por outro lado, não é representado como a mente mais brilhante de Asgard – o que não chega a ser uma novidade.
Lamento apenas a quantidade de páginas, que não chega a trezentas. A sorte é que existe uma vasta bibliografia de Neil Gaiman a ser explorada e que essa fonte de histórias fantásticas ainda se encontra bem longe de se esgotar. Por ora, ergo um chifre cheio de hidromel para um brinde.
Até a próxima!
* Resenha escrita por mim e publicada anteriormente no blog Livros e Sushi.