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Resenha: Voos e sinos e misteriosos destinos, por Emma Trevayne

VOOS_E_SINOS_E_MISTERIOSOS_DESTINOS__1404184579PNome do livro: Voos e sinos e misteriosos destinos
Nome Original: Flights and chimes and mysterious times
Autor(a): Emma Treavyne
Tradução: Álvaro Hattnher
Editora: Seguinte
ISBN: 9788565765435
Páginas: 312
Ano: 2014
Nota: 4/5
Onde Comprar: Compare Preços

Nesta fábula moderna, com gosto das aventuras clássicas que encantam os jovens leitores há tantos anos, conhecemos a história de Jack Foster, um garoto de dez anos que, como qualquer um da sua idade, sonhava viver grandes aventuras. Ele morava em Londres mas estudava em um colégio interno, voltando para casa apenas nas férias, quando ficava completamente entediado. Mas, um certo dia, Jack atravessa uma porta mágica e, do outro lado, encontra uma cidade ao mesmo tempo muito parecida e muito diferente daquela que conhecia. Em Londinium, apesar de reconhecer as ruas e prédios, ele encontra um cenário steampunk, com engrenagens e fuligem por todos os lados. Por ali era raro encontrar alguém que não tivesse nenhuma parte do corpo feita de metal. E era justamente isso que a Senhora – uma mulher rígida e temperamental que governava a cidade desde sempre – buscava: um filho de carne e osso. Jack logo descobre que aquele lugar era extremamente perigoso, e que voltar para casa não seria tão fácil quanto tinha sido chegar até ali…

 

Se Tim Burton resolvesse fazer uma adaptação de Pinóquio o resultado certamente seria bem parecido com o que Emma Trevayne criou em Voos e sinos e misteriosos destinos. Mesclando elementos sobrenaturais e Steampunk com uma história para todas as idades, o resultado é um livro incrível de aventura com uma grande lição.

Na história, Jack Foster é o filho único e mimado de uma rica família da Londres vitoriana. O maior problema que ele tem que enfrentar é espiar pelas fechaduras quando os adultos não o deixam ver algo interessante. A curiosidade do menino é enorme, sempre querendo aprender mais sobre dispositivos mecânicos e imaginando como seria ver o mundo a bordo de um navio. Quando a mãe de Jack recebe um novo espiritualista, o Sr. Havelock, Jack fica intrigado com o misterioso homem que diz que pode falar com pessoas do outro mundo. Durante um passeio, Jack foge de perto da babá e segue o Sr. Havelock através de uma porta que o leva a uma cidade completamente diferente da Londres que ele conhece – Londinium, onde o sol está sempre encoberto por uma nuvem de poluição e as pessoas são pálidas e tem pelo menos um membro mecânico (pé, mão, pulmão, narinas…). Conforme Jack conhece essa magnifica cidade, tão mais interessante do que a Londres movida a cavalos, vai descobrir que algumas portas deveriam continuar fechadas.

Primeiramente cabe um pequeno destaque para a escolha dos nomes. O protagonista, Jack Foster: Foster pode significar “adotivo”, como em “Foster home” = “lar adotivo”, já antecipando quando Jack encontrará o Dr. Cataplasma. E “Havelock” é, ao pé da letra, “tem fechadura”, clara alusão ao poder do personagem de abrir a porta entre Londres e Londinium. Outro ponto interessante é a tradução do título, que conseguiu manter a sonoridade e a rima do original, com pouca alteração do significado: literalmente, o título original seria “Voos e badaladas e tempos misteriosos”, assimilando diversas referências a relógios que se explicam ao longo da trama.

O mesmo cuidado com nomes vi na outra séria para jovens da autora, chamada Coda, que tem a música como tema e o protagonista se chama Anthem (Hino). Mais informações no Goodreads.

A linguagem de “Voos…” é simples mas bem elaborada para impulsionar a história rapidamente. Alguns termos mais elaborados sempre são seguidos de explicações na própria trama para que mesmo o leitor iniciante nunca fique perdido. Há pouco espaço para demoradas descrições de personagens, cenários e sentimentos, todos acabam mesclados no andamento da narrativa, o que é adequado ao ritmo. A cronologia é um pouco confusa, sendo difícil manter a conta de quanto tempo se passou entre os acontecimentos que são narrados em sequencia – podem ter sido algumas horas, dias ou semanas, só sabemos depois de algumas linhas. Os acontecimentos dos últimos capítulos são alucinantes, com eventos se atropelando até o ápice em poucos parágrafos, o que pode ser considerado apressado ou uma característica própria da percepção de uma pessoa naquela situação – deixo para o leitor julgar se isso é um defeito ou uma emulação da realidade.

A revisão está excelente, como é a marca registrada de todos os selos da Companhia das letras. Sem erros de digitação ou de concordância, o texto é exemplar na tradução desde o título. Voltado ao público pré-adolescente, as belas imagens aparecem com pouca frequência, mas combinam perfeitamente com o clima obscuro que a autora criou, lembrando ainda mais a atmosfera de filmes como o novo “A Fantástica Fábrica de Chocolates” e “O Estranho Mundo de Jack”. Foi usada uma capa emborrachada, que eu adoro e é de excelente qualidade. A letra grande, com linhas bem espaçadas, torna o texto bem mais curto do que as 303 páginas.

Indicado para jovens leitores e para crianças mimadas que acham que tem a pior família do mundo, “Voos…” ensina boas lições sobre família, aventura e destino, envoltas em uma trama tão interessante que até a criança mais marrenta irá ler até o fim. E se um dia for adaptado para o cinema, queremos Tim Burton como diretor!!

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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