Resenhas

Resenha: Um outro amor, de Karl Ove Knausgård

13089_ggNome do livro: Um outro amor
Série: Minha luta #02
Autor: Karl Ove Knausgård
Editora: Companhia das letras
ISBN: 9788535923995
Ano: 2014
Páginas: 592
Nota: 5/5
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Com A morte do pai, Karl Ove Knausgård inaugurou o projeto monumental de seis romances autobiográficos que totalizam mais de 6 mil páginas e revelam os detalhes mais íntimos da vida do autor e de seus familiares. Se no primeiro volume da série acompanhamos sua infância e o processo destrutivo que levou seu pai a beber até a morte, na sequência, “Um Outro Amor”, Knausgård se debruça sobre o começo turbulento de seu segundo casamento e a descoberta da paternidade, conflituosa com suas ambições literárias. Logo depois de se separar da primeira mulher, Karl Ove deixa Oslo e se muda para Estocolmo, onde irá começar uma nova vida, experimentando a perspectiva do estrangeiro. Lá, ele cultiva uma amizade profunda e muitas vezes competitiva com Geir e persegue Linda, uma poeta que o conquistara anos antes durante um encontro de escritores. Uma conversa com amigos durante o jantar pode se estender por cem páginas; saltos no tempo e flashbacks demonstram o pleno domínio do autor, capaz de conciliar a narrativa de episódios pontuais com longas digressões que acompanham o tempo interno das personagens. Na construção narrativa de Knausgård, a memória se torna ficção e a ficção, memória. Entre questões existenciais e reflexões acerca do fazer literário, o que emerge ao fim desse romance honesto e profundo é a conturbada e bela história de amor de um homem por sua mulher e seus filhos.

 

Você pode ler no Entrando numa fria a resenha do primeiro volume da série “Minha luta”: A morte do pai.

Dando continuidade à sua “épica” ficção autobiográfica Knausgård agora aborda o período quase no presente de sua vida: está em seu segundo casamento e tem três filhos com Linda, uma poetisa sueca com aspirações de atriz. Knausgård abordará também o período imediatamente posterior ao divórcio do primeiro casamento, quando decidiu sair da Noruega e ir morar na Suécia, praticamente de um dia para o outro.

Muitas páginas do livro se dedicam a citar e analisar as diferenças entre a Suécia e a Noruega, um tópico também bastante comum nas conversas informais. Knausgård não cansa de dizer que os suecos são loucos, que o país é maluco e as regras e rígidas imposições sociais sufocam a individualidade. A princípio é exatamente o que acontece a Knausgård ao ir viver em outro país que, mesmo que geograficamente próximo, é tão diferente da sua Noruega natal. Mas os problemas não se restringem ao cotidiano, Knausgård também enfrenta a solidão que não consegue ter depois que os filhos nascem, os problemas conjugais, de habitação e a humilhação diária que apenas ele percebe. 

Ao ler a sinopse oficial, que consta no topo da página, fiquei surpreso ao saber que a descrição de uma conversa com amigos durante um jantar pode ocupar 100 páginas. Durante a leitura não me recordo de um episódio assim, mesmo que o autor tivesse tomado 100 páginas para descrever um jantar certamente é em função das constantes digressões e saltos no tempo, não deixe que este detalhe o impeça de começar a leitura, sei que muitos desistiram da série “Em busca do tempo perdido” por motivo semelhantes. O ritmo do texto de “Um outro amor” é constantemente fluido. É basicamente impossível de prever o fluxo da narrativa, o que torna cada página surpreendente a sua maneira. 

A edição da Companhia das Letras é ótima, com uma escolha de imagem para a capa no mínimo curiosa, mas a qualidade geral do exemplar compensa. Encontrei alguns erros de digitação (principalmente letras trocadas ou adicionais), mas nada demais. A tradução a partir do original em norueguês é um ponto positivo para a editora, que até agora já lançou até o quarto volume da série (de um total previsto de 6).

Leitura altamente recomendada principalmente para quem, como eu, costuma idealizar os países do norte europeu como o Paraíso. A partir da vivência diária de um nativo, que escreve de maneira tão honesta e sem reservas, podemos ter uma nova perspectiva sobre lugares que só ouvimos falar pelas notícias da mídia. Além disso a universalidade dos problemas que Knausgård aborda torna muito fácil para o leitor se aproximar e simpatizar com ele.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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