Resenha: Trilogia Millennium, de Stieg Larsson
Nome do Livro: Os homens que não amavam as mulheres; A menina que brincava com fogo; A rainha do castelo de ar
Nome Original: Män som hatar kvinnor; Flickan som lekte med elden; Luftslottet som sprängdes
Série: Trilogia Millennium
Autor: Stieg Larsson
Tradução: Dorothée de Bruchard
Editora: Companhia das letras
ISBN: 9788535926187
Ano: 2015
Páginas: 1824
Nota: 5/5+++
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Os homens que não amavam as mulheres é um enigma a portas fechadas – passa-se na circunvizinhança de uma ilha. Em 1966, Harriet Vanger, jovem herdeira de um império industrial, some sem deixar vestígios. No dia de seu desaparecimento, fechara-se o acesso à ilha onde ela e diversos membros de sua extensa família se encontravam. Desde então, a cada ano, Henrik Vanger, o velho patriarca do clã, recebe uma flor emoldurada – o mesmo presente que Harriet lhe dava, até desaparecer. Ou ser morta. Pois Henrik está convencido de que ela foi assassinada. E que um Vanger a matou. Quase quarenta anos depois, o industrial contrata o jornalista Mikael Blomkvist para conduzir uma investigação particular. Mikael, que acabara de ser condenado por difamação contra o financista Wennerström, preocupa-se com a crise de credibilidade que atinge sua revista, a Millennium. Henrik lhe oferece proteção para a Millennium e provas contra Wennerström, se o jornalista consentir em investigar o assassinato de Harriet. Mikael descobre que suas inquirições não são bem-vindas pela família Vanger, e que muitos querem vê-lo pelas costas. De preferência, morto. Com o auxílio de Lisbeth Salander, que conta com uma mente infatigável para a busca de dados – de preferência, os mais sórdidos -, ele logo percebe que a trilha de segredos e perversidades do clã industrial recua até muito antes do desaparecimento ou morte de Harriet. E segue até muito depois…. até um momento presente, desconfortavelmente presente.
A Trilogia Millennium justifica plenamente seu sucesso de vendas com uma história ágil e contemporânea. Aliado à mística em torno de seu lançamento – infelizmente Stieg Larsson faleceu poucas semanas depois de entregar os manuscritos dos três volumes ao seu editor – e às adaptações para o cinema na Suécia e nos EUA, é uma leitura que deixará entusiasmado mesmo aqueles que não são fãs do gênero policial. Alias, dizer que o livro é um thriller policial é subestimar as diversas ramificações sociais e psicológicas que o autor insere sutilmente ao longo da série.
A melhor comparação para explicar como funciona o desenvolvimento da trama é imaginar três círculos concêntricos: o primeiro volume, Os homens que não amavam as mulheres, trata de uma situação específica, montando o círculo interno. No segundo volume, A menina que brincava com fogo, o passado de Lisbeth Salander é explorado e se amplia o tema da obra. Por fim, em A rainha do castelo de ar a trama toma grandes proporções e todas as pontas são muito bem amarradas em um final devastador. Vale destacar que no último livro ocorre a melhor cena de um julgamento que já li – impecável em lógica e humor.
Para explicar superficialmente a história, “Os homens que não amavam as mulheres” gira em torno de um desaparecimento. O renomado jornalista Mikael Blomkvist passa por um período crítico após ter sido condenado na justiça por publicar uma reportagem com denúncias que continha provas que ele não sabia que eram falsas. Ele recebe a proposta de investigar um desaparecimento ocorrido quarenta anos antes em troca de provas que irão embasar suas denúncias.
Enquanto isso, em Estocolmo, Lisbeth Salander dá os primeiros passos para ser uma das personagens mais queridas e misteriosas de toda a série. Ela teve problemas com o sistema judiciário, por isso mesmo sendo maior de idade tem como guardião legal um advogado indicado pelo estado que controla até mesmo o dinheiro que ela ganha como secretária de uma empresa de segurança. Entretanto, esse emprego é apenas uma fachada: Lisbeth é uma hábil hacker que faz serviços para clientes de alto perfil da empresa, além de manter seus projetos privados. Com diversas dificuldades em manter relações sociais, ela é subestimada por todo tipo de predadores e já sofreu diversos abusos ao longo dos anos. Aos poucos, o caminho dela cruzará com o de Mikael conforme as investigações de casos diferentes avançam e se cruzam.
Quando li a série pela primeira vez adquiri a box com os três volumes e pensei em fazer o sistema de rodízio que sempre faço com séries: ler o primeiro volume, ler outros livros, ler o segundo volume, ler outros livros, ler o último volume. Com a “Millennium” isso não deu certo. Ao terminar o primeiro volume imediatamente li o segundo, que comecei a ler pela manhã e fiquei até de madrugada acordado para terminar. No dia seguinte já comecei o último livro. Apesar de alguns trechos mais lentos que contam até detalhes do dia-a-dia (tem gente que fica com raiva do Mikael por tomar tanto café), essa rotina bem estabelecida marca bem o ritmo de trabalho dos personagens e a disciplina mental. Muitas das críticas negativas que a série recebeu são justificadas, mas o leitor fica à margem de tais preocupações quando está completamente imerso na leitura.
A edição lançada pela Companhia das letras continua impecável: a revisão está de parabéns, não encontrei erros de digitação (em quase 2000 páginas!), o formato do livro é excelente, confortável de segurar e com letras de bom tamanho.
A “Trilogia Millennium” é uma excelente leitura, com uma história mais ampla do que parece, abrange temas pouco comuns nesse gênero e cria personagens marcantes que vão acompanhar o leitor por muito tempo.
Agora é aguardar com muita ansiedade o novo volume para a série, A garota na teia de aranha, escrito por David Lagercrantz, que tem a difícil missão de igualar ou superar uma das melhores séries da atualidade.