Resenha: Tabuleiro dos Deuses, por Richelle Mead
Título: Tabuleiro dos Deuses
Título original: Gameboard of the Gods
Série: A era de X
Tradutor: Guilherme Miranda
Autor: Richelle Mead
Páginas: 421
Ano de publicação: 2014 – lançamento em 14 de fevereiro
Editora: Paralela
Avaliação: 3/5
Onde comprar: Submarino ou Compare
Justin March, um investigador de religiões charmoso e traiçoeiro, volta para a República Unida da América do Norte (RUAN), após um misterioso exílio. Sua missão é encontrar os responsáveis por uma série de assassinatos relacionados com seitas clandestinas. Sua guarda-costas, Mae Koskinen, é linda, mas fatal. Membro da tropa de elite do exército, ela irá acompanhar e proteger Justin nessa caçada. Aos poucos, os dois descobrem que humanos são meras peças no tabuleiro de poderes inimagináveis.
Por Jairo Canova
Comecei a leitura com preconceito dos outros livros dela – especialmente Academia de vampiros, em que só o título já me faz ter vontade de gritar, chorar, espernear e rir ao mesmo tempo. Mais uma vez tive que ser lembrado para não julgar um livro pela capa, ou pelo título.
Na trama conhecemos Mae Koskinen, soldado de uma elite conhecida como Pretorianos. Após um incidente ela recebe o castigo de escoltar o investigador exilado Justin March, que fugiu para o Panamá e é resgatado depois de quatro anos para resolver uma série de assassinatos, tudo no melhor estilo hollywoodiano com tramas, subtramas, lutas desesperadas e sexo. O cenário de distopia se passa em um futuro de recuperação pós-apocalíptica após o período conhecido como Declínio, onde o vírus Mefistófeles aniquilou mais da metade da população mundial. O vírus atacava principalmente pessoas com pouca miscigenação racial, o que levou a Europa de volta a idade média. O país conhecido como RANU, ou RUAN na sinopse, ou ainda RUNA no original – Republic of United North America-, que abrange o que era o Canadá e parte dos Estados Unidos, é a nova potência mundial e um dos poucos lugares estáveis no mundo.
A leitura é bastante acessível, mesmo sendo uma novela direcionada para adultos acredito que seja mais adequada para adolescentes órfãos com o fim da série Jogos Vorazes. O cenário de distopia é montado aos poucos, detalhes sobre o Declínio e a nova ordem mundial são adicionados aos poucos conforme a necessidade da narrativa. Isso é bastante conveniente para a autora, principalmente levando em conta que haverá mais dois livros na série, permitindo que acontecimentos e a própria geografia seja manipulada conforme a imaginação da autora desejar, todo ambiente é flexível e manipulável. Pelo lado do leitor o livro não é cansativo e podemos nos surpreender até quase o final com pequenas surpresas na narrativa que ainda não tinham sido apresentadas, mas acabam fazendo sentido.
A maior parte da lógica científica é aceitável, um dos itens que me deixou inquieto foi a citação constante que os pretorianos não precisam dormir devido a um implante que recebem quando se unem às forças armadas. Essa tecnologia controla todo metabolismo, impedindo que fiquem embriagados, por exemplo, aumentando a produção de adrenalina durante a batalha e de endorfinas para aliviar a dor de qualquer ferimento. Uma rápida pesquisa mostra que todos mamíferos dormem, sem exceção, e humanos privados de sono enlouquecem. A falta de explicação para algo que aparece tantas vezes não me
convenceu.
Outro ponto negativo é o uso de frases “enlatadas”, como quando a personagem está prestes a contar a história de sua vida e começa com “- Agora é. Senta que lá vem a história” (página 285). Acredito que esse exemplo seja mais culpa da tradução, mas levando em conta que o inglês também tem uma série de frases prontas desse tipo, que são usadas até o esgotamento na ficção pulp, o mais aproximado possível no português foi usado. Talvez tenham imaginado que, se o livro é direcionado ao público adulto, usar expressões comuns na tv infantil dos anos 90 funcionaria. Não funciona. Irrita.
Assim como em Jogos Vorazes o livro se sustentaria sozinho, a leitura das continuações não parece ser obrigatória e quem não gostou ou não tem interesse no que acontecerá pode muito bem terminar a série na última página – outro recurso da flexibilidade da autora.
Tabuleiro dos Deuses acaba sendo um título bem adequado para a trama, fazendo cada vez mais sentido conforme ela se entrelaça. Além disso, a escolha da sigla para o principal país é mais do que adequada e deveria ser mantida: RUNA, lembrado as runas nórdicas usadas para proteção e adivinhação, uma grande ironia em um país onde a religião é proibida e os cultos são fortemente vigiados. Como leitor de mitologia nórdica e religiões pagãs apreciei bastante as inúmeras referências, sempre superficiais, mas corretas no contexto.
Fica na religião outro tropeço, quando o pensamento de Mae é apresentado assim: ” Você não sabe da missa um terço…” (página 217), a autora passa os três capítulos seguintes mostrando o quanto a personagem despreza as religiões.
E ainda: você sabe qual é a divindade associada a dois corvos? Se souber, você é mais inteligente do que Justin March: considerado um gênio e especialista em cultos e seitas.
A imagem da capa é uma das melhores da autora, mesmo que as sobrancelhas enfeitadas na imagem não sejam descritas em momento nenhum, ainda assim é melhor dos que as ilustrações lançadas em inglês. A revisão também foi caprichada, não há erros de digitação. Páginas amareladas de excelente qualidade, tamanho da fonte ideal e bom espaçamento fecham o mesmo alto padrão de qualidade da Paralela como nos livros de tamanho grande da Companhia das Letras.
Leitura recomendada para fãs de ficção científica, distopias, intrigas, investigações e religião. Algumas cenas de sexo não muito explícitas, então recomendado para maiores de 16 anos.
A Kaya aprova:
Eu também comecei lendo a sua resenha com certo preconceito, mas perto do final, vc me ganhou. Parece ser um livro interessante!
Bjs