Resenhas

Resenha: Doctor Who – Shada, por Douglas Adams e Gareth Roberts

DOCTOR_WHO_SHADA_1388970450PTítulo: Shada
Título original: Shada
Tradutor: Juliana Romeiro
Autor: Douglas Adams e Gareth Roberts
Páginas: 352
Ano de publicação: 2014
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4/5
Onde comprar: Submario

Vista e cultuada em mais de 200 países, a série de TV Doctor Who é um ícone cultural britânico que conquistou mais de 70 milhões de fãs em 50 anos de aventura.

O seriado acompanha o Doutor: um viajante misterioso, vindo do planeta Gallifrey, movido pelo desejo de explorar todos os cantos do tempo e do espaço. Um dos Senhores do Tempo, o Doutor é capaz de se regenerar para escapar da morte, mudando de corpo, rosto e personalidade. Com seus companheiros, humanos e alienígenas, ele protege a Terra e o cosmos contra perigos de todos os tipos.

Shada reconta um episódio que nunca foi transposto para as telas de televisão, uma aventura “perdida” de 1979. Escrita pelo então editor de roteiros da série, Douglas Adams, o autor de O guia do mochilerio das galáxias, Shada traz a quarta encarnação do Doutor e sua companheira Romana II.

Por Jairo Canova

Shada parece normal por fora, mas é muito maior por dentro. Direto da imaginação de Douglas Adams, autor do Guia do Mochileiro das Galáxias, o roteiro foi escrito para uma série de episódios de Doctor Who. As filmagens iniciaram em 1979 e estavam no sexto episódio, com os figurinos e cenários prontos… e uma greve dos funcionários da BBC parou tudo. Houve reuniões e planos nos anos 80 para retomar as filmagens, mas nada foi feito. Em 2011 Gareth Roberts, que já escreveu outras 9 novelas do Doutor, assumiu os manuscritos da época e surge Shada.

Na trama Chris Parsons, estudante de pós-graduação em Cambridge, visita o excêntrico professor Chronotis em busca de alguns livros para impressionar Clare Keightley. Ele não imagina a implicação que levar também um estranho livro cheio de rabiscos teria em sua vida. Enquanto isso, Skagra, um cientista que só se permite dois sorrisos por dia, chega a Terra atrás do O venerável e ancestral livro das leis de Gallifrey, que ninguém no universo deveria saber que foi roubado pelo professor Chronotis.

Também chegando na Cambridge de 1979 está o Doutor e sua jovem companheira Romana em visita de cortesia ao aposentado Senhor do Tempo Chronotis. Com todos os personagens em cena, vemos uma corrida desesperada atrás do livro mais poderoso do universo.

Chris Parsons é um personagem tão interessante quanto o Doutor conforme sua limitada mente humana de pouco mais de 20 anos tem que se adaptar aos novos paradigmas que são comuns aos seres mais avançados de outras galáxias. Newton, Einstein, Hawking, são muitas as coisas que ele deve esquecer para começar a entender o universo. Assim como Clare Keightley, um símbolo da liberdade feminina dos anos 70, precisa lutar praticamente durante toda trama para manter seu papel de destaque ativo. Clare não permite que os homens a sua volta a deixem de lado enquanto resolvem tudo, ela tem papel decisivo na narrativa exclusivamente por suas escolhas.

Um dos pontos fracos é a previsibilidade do final, como fã de livros policiais e de mistério, além de conhecer o andamento das temporadas de Doctor Who, muito antes do final já era possível saber seu desfecho. Pensando por outro lado, isso se deve em parte ao autor ter posicionado adequadamente os personagens para convergirem em um final satisfatório, que não tenha sido forçado demais, apesar dos exageros.

Durante a leitura percebi que a maioria das sinopses disponíveis está inadequada, até mesmo contam acontecimentos além da página 200. Algumas fazem referência ao sucesso da série Doctor Who ou a Douglas Adams, outras apresentam fatos incorretos como o título de Senhor do Tempo para vilão Skagra.

Se você é fã de Douglas Adams e não conhece absolutamente nada de Doctor Who, não terá problemas. Pequenas explicações dos pontos centrais da série, apenas o suficiente para entender a narrativa e as piadas são o suficiente para uma leitura satisfatória. Se você decorou todas as falas da série saiba que essas notas são esparsas o suficiente para manter a leitura interessante.

O roteiro de Shada foi escrito na mesma época em que Douglas Adams escrevia o segundo livro do Guia, então alguns elementos em comum são encontrados nas duas obras – aquele humor britânico de piadas sutis, robôs em crise existencial, aleatoriedade e surrealismo. Genial novamente é o uso de símbolos na página 274 que praticamente obriga o leitor a voltar para a página 272 para ter certeza de que entendeu a piada, e a explicação está no rodapé da página 271.

Aproveitando muito bem sua posição de escritor em 2011 Gareth Roberts soube usar recursos criativos interessantes para incluir elementos do futuro em 1979, o que seria impossível na época. Mesmo trabalhando com materiais incompletos, rabiscados e antigos, Roberts ainda era pressionado pela difícil tarefa de agradar a dois públicos muito fiéis às obras originais. Shada é uma obra que se sustenta, lida bem com cenários e pontos críticos da série, enquanto consegue manter os elementos que fizeram famosos os livros de Douglas Adams. Enriquece o cenário de Doctor Who, sem alterá-lo substancialmente, permitindo desvios e variações que não atrapalharão o andamento da série, ninguém pediria mais de uma aventura do Doutor.

Leitura leve para um final de semana, por sorte recebi a cortesia da Suma a tempo de ignorar o Carnaval completamente. As páginas levemente amareladas são um descanso para os olhos, a capa mais limpa do que a da edição original também é um ponto a favor. O problema fica mesmo pela falta de informações sobre o conteúdo da narrativa, já que na contracapa também só há informações sobre a série e o roteiro.

Leitura obrigatória para os apaixonados pelo Guia do Mochileiro das Galáxias, Doctor Who e seres de todas as espécies. Sem cenas explícitas nem violência exagerada, livre para todas as idades.

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“- Segundo o banco  de dados desta unidade, os registros de idiotice no comportamento dos terráqueos superam os de sofisticação numa razão de 77 para 1.” Pág. 147.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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