Resenhas

Resenha: Se Vivêssemos Em Um Lugar Normal, de Juan Pablo Villalobos

SE_VIVESSEMOS_EM_UM_LUGAR_NORMAL_1377789448BNome do Livro: Se Vivêssemos Em Um Lugar Normal
Nome Original: Si Viviéramos En Un Lugar Normal
Autor: Juan Pablo Villalobos
Tradução: Andreia Moroni
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535923247
Páginas: 160
Ano: 2013
Nota: 4/5
Onde Comprar: Amazon

Nos anos 1980, em uma pequena cidade no México, onde há ‘mais vacas que pessoas e mais padres que vacas’, uma família pobre tenta sobreviver às intempéries do cotidiano. O pai é um professor de educação cívica, apaixonado pelo período helênico e mestre em propagar todo tipo de insulto. A mãe, uma mulher de inigualável tendência cênica, mais afeita ao melodrama, que se encarrega de preparar, todo santo dia, a mesma refeição à base de quesadillas. É essa comida típica mexicana, aliás, que desperta na prole – sete filhos no total – certos pensamentos impróprios – cada um deseja que o outro desapareça, para que sobre um pouco mais de comida na mesa. Na iminência de ver a pequena casa em que moram ser demolida pela chegada de um empreendimento imobiliário de alto padrão, cada membro da família cria subterfúgios, muitas vezes delirantes, para lidar com uma realidade cada vez mais opressiva. É nesse cenário que se dá a saga de Orestes, um dos filhos do casal, e protagonista deste romance que conta, sob um ponto de vista que oscila entre o adolescente entediado e o adulto raivoso, a sua percepção da luta de classes e do papel insignificante que sua família ocupa no mundo.

Vivendo na pobreza, porém sem realmente acreditar serem pobres, a família de Orestes passa seus dias entre a escola e a casa que mais parece uma caixa de sapatos que fica no alto do morro da Puta Que Pariu. Não que este seja necessariamente o nome do morro, é só que todos o chamam assim. Os dias passam de maneira parecida até que em determinado momento os gêmeos da família somem e a busca desesperada por eles ao invés de despertar o amor entre irmãos, suscita ainda mais a rivalidade, pois onde afinal comem nove, sete se alimentam tranquilamente.

Orestes não é um menino mau, mas desde criança aprendeu a pensar de maneira prática e entendeu que não vive em um lugar considerado normal. Para ele e seus pais (e também para o leitor) o México não é um lugar normal pois não são tomadas decisões que beneficiam a população, as pessoas são alienadas, existe corrupção, rios são usados para se jogar dejetos e tudo parece muito melhor nos Estados Unidos, onde é limpo e as coisas reluzem como na televisão. Flertando com o surreal no início e depois passando para o surreal completo até o final do livro, a história vai sendo contada pela visão cética de Orestes sobre as injustiças da vida.

Fazendo realmente uma paródia sobre a vida na periferia, a narrativa mostra as falhas na sociedade em que vive Oreo (apelido de Orestes): a falta de tato da polícia, a luta de classes, as manifestações com boa intenção mas sem sentido ou organização, etc. Nas páginas finais do livro temos um relado do autor sobre alguns presidentes do México – os piores – onde podemos perceber que a situação do povo não foi fácil.

Com muito humor nas críticas sociais, Juan Pablo Villalobos consegue criar um livro simples, capaz de divertir e fazer pensar ao mesmo tempo. A edição da Companhia das Letras está impecável na revisão; tem uma diagramação simples e muito confortável, semelhante a do livro Te Vendo Um Cachorro, do mesmo autor. A capa é muito bonita e chamativa.

Recomendo a leitura para quem gosta de livros que ficam entre o real e o irreal e não tem medo de ter uma visão realista do mundo inserida em uma história surreal.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.