Resenha | Reinações de Narizinho – Monteiro Lobato
Reinações de Narizinho
Autor: Monteiro Lobato
Ilustrador: Lole
Páginas: 248
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 25/02/2019
Selo: Companhia das Letrinhas
O mais clássico dos livros de Monteiro Lobato ganha nova edição de luxo, com ilustrações da premiada artista Lole e organização de Marisa Lajolo, a maior especialista da obra lobatiana no Brasil.
Qual criança desse Brasil, contaminada pela TV ou pela literatura não quis um dia viver uma aventura no Sítio do Pica-Pau Amarelo? Monteiro Lobato foi um dos escritores mais influentes da literatura infanto juvenil brasileira e nesse 2019 volta as livrarias de cara nova pela Companhia das Letrinhas.
“Reinações de Narizinho” é o livro que abre as portas do sítio, em 1931, para que possamos conhecer a rotina de Dona Benta, Tianastácia e dos irmão Pedrinho e Narizinho. Monteiro, munido de grande criatividade complementa o ambiente com lúdicos personagens como bonecas e sabugos de milho falantes, animais que se acham parte da realeza e até mesmo um saci.
A nova edição da obra está de roupagem nova. Além do formato maior (20.30 X 27.60 cm), em capa dura, o visual de suas personagens foi reformulado por Lole, ilustradora repleta de referências surreais, que mora de mala e cuia em Loleland (visitem o site dela para apreciar a maravilha que é seu trabalho). A cada página desenhada pela ilustradora a viagem na obra é duplamente garantida.
Me peguei lendo um livro novo, por meio das imagens e por meio da maturidade alcançada com os anos, mas também lendo como a menina de sete anos que fui um dia e ganhou da avó um livrão empoeirado cheio de magia. A sensação, o prazer é a que permite transformar as horas livres em férias descalça pela terra, subindo em árvores e comendo broa de fubá.
Mas também há o lado a ser questionado na obra. Aqui entra, além de todo o cuidado de Lole com as ilustrações, a organização de Marisa Lajolo, pesquisadora, critica literária e professora, que é uma grande pesquisadora da obra de Monteiro Lobato no país. Diante dos questionamentos feitos ao longo dos anos sobre o racismo proferido por Lobato em sua vida pessoa e em suas obras, a editora teve o cuidado de adicionar uma nota abordando o assunto.
O projeto editorial inicia o livro com o sumário seguido de uma nota de duas páginas nas quais Marisa contextualiza a obra e aborda o conteúdos sexista e racista que está contido na série do Pica-Pau Amarelo. O que fica de mais marcante no texto de Lajolo é ela apontar que para que um ato desumano desse seja combatido ele deve ser reconhecido. Ser ligada a obra de Lobato em minha formação leitora não pode nem deve me isentar de entender que o autor era alguém ligado a ideias eugenistas, de raça pura, que se correspondia com membros da Ku Klux Klan. O racismo não anulará a criatividade aplicada na criação desse universo e tampouco me impedirá de desprezar a pessoa por trás dessa mente criativa.
Essa edição de “Reinações de Narizinho” merece ser relida por todos que tiveram algum contato com a obra ou descoberta por quem ainda não havia se interessado. O cuidado com a macha no miolo do livro, as ilustrações dos pontos de linhas, botões e agulhas que acompanham os subtítulos e as páginas inteiras, as vezes duplas, pintadas pela arte de Lole são alguns dos elementos que tornam o contato com o livro prazeroso.
Além disso, ter em mãos a obra de Monteiro Lobato sempre é uma oportunidade de conhecer a formação da Literatura Infanto Juvenil no Brasil e discutir o quanto essa literatura é responsável por manter em nossa vida bons e, principalmente, péssimos hábitos, pensamentos e ações que deveriam ter se encerrado com o passar dos anos.
