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Resenha | Reformatório Nickel

Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer, constroi em “Reformatório Nickel” um relato ficcional impactante, inspirado na história real da Arthur G. Dozier School for Boys. Recebeu uma adaptação cinematográfica recente, sendo indicado ao prêmio de Melhor Filme no Oscar 2025, vale a consideração como leitura para este ano. 

O romance denuncia a brutalidade do sistema de reformatórios nos Estados Unidos e escancara como o racismo institucionalizado moldou – e ainda molda – a sociedade americana. Com uma narrativa contida, mas extremamente poderosa, o autor expõe como a violência sistêmica é perpetuada através das gerações.

Várias histórias reais transformadas em uma ficção

A trama acompanha Elwood Curtis, um jovem negro nos anos 1960. Estimulado a sonhar e influenciado pelos discursos de Martin Luther King, ele ambiciona seguir nos estudos em busca de uma vida melhor para si e sua família O livro é bem enfático em mostrar no início que esse garoto acredita ser possível encontrar justiça no mundo. 

E isso é importante para o choque de realidade, pois é devido a um erro de julgamento, que o protagonista é levado ao reformatório Nickel, onde descobre a verdadeira face da segregação e da brutalidade. Lá, ele conhece Turner, um garoto esperto e pragmático, cuja visão de mundo contrasta com seu idealismo.

O reformatório, comandado pelo superintendente Maynard Spencer, funciona como um microcosmo da sociedade racista da época, onde regras arbitrárias favorecem os brancos e condenam os negros a um ciclo de exploração e violência. 

Whitehead constroi esse cenário com detalhes precisos e assustadoramente reais, baseando-se nos registros históricos da Dozier School, que permaneceu ativa até 2011.

Violência, racismo e sobrevivência

Apesar da temática brutal, o livro evita uma exposição gráfica excessiva da violência, optando por uma abordagem mais contida e, por isso mesmo, ainda mais impactante. O autor mostra como o racismo não era apenas um sistema de leis segregacionistas, mas uma engrenagem econômica que beneficiava a população branca comum, desde lojistas até donas de casa que exploravam o trabalho dos meninos do reformatório.

A relação entre Elwood e Turner é o coração do romance. Enquanto Elwood acredita na luta por justiça, Turner entende que sobreviver exige aceitar as regras impostas – mesmo que injustas. O contraste entre seus pontos de vista reforça a complexidade da experiência negra na América, onde esperança e pragmatismo se chocam constantemente.

O livro não apenas resgata um capítulo obscuro da história americana, mas também evidencia como os ecos desse passado ainda ressoam no presente, através de uma das reviravoltas mais emocionantes e dolorosas dos últimos anos na literatura estadunidese. 

O sistema carcerário, a brutalidade policial e a exclusão social são reflexos diretos de um racismo institucionalizado que, como mostra Whitehead, não foi erradicado, apenas reformulado.

Reformatório Nickel é um romance necessário, que obriga o leitor a confrontar verdades incômodas sobre poder, privilégio e injustiça. Mais do que um livro sobre o passado, é um alerta sobre o presente – e um chamado à reflexão.

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Reformatório Nickel

Autor: Colson Whitehead
Editora ‏ : ‎ HarperCollins
Capa comum ‏ : ‎ 240 páginas
Disponível em: Amazon

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