Resenha: Ouça a canção do vento / Pinball, 1973, de Haruki Murakami
Nome do Livro: Ouça a canção do vento / Pinball, 1973
Nome Original: Kaze no uta o kike e 1973 nen no pinboru
Autor(a): Haruki Murakami
Tradução: Rita Kohl
Editora: Alfaguara
ISBN: 9788556520296
Ano: 2016
Páginas: 264
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As duas novelas iniciais de Murakami publicadas pela primeira vez no Brasil
Em 1978, um jovem Haruki Murakami se instala na mesa da cozinha para começar a escrever. Como resultado temos duas novelas brilhantes que marcam o início da carreira de um dos mais cultuados autores contemporâneos.
Duas histórias poderosas, e levemente surreais, que tratam de amadurecimento, solidão e erotismo, no melhor estilo Murakami. Alguns dos personagens que conhecemos nessa obra irão reaparecer em Caçando carneiros e Dance, dance, dance, formando uma espécie de trilogia inicial do autor — e esse conjunto, em vez de mostrar um escritor procurando sua voz, já mostra um autor maduro e seguro de seus temas.
Traduzidas no Brasil pela primeira vez, Ouça a canção do vento & Pinball, 1973 são uma janela para o mundo fascinante de Murakami.
Essas duas novelas, escritas no final dos anos 1970, são os primeiros trabalhos de ficção de Haruki Murakami. Por muito tempo ficaram esgotadas, até mesmo no Japão, o autor as considerava trabalhos muito fracos e de uma outra época. Mas com o rápido crescimento da base de fãs do autor principalmente depois do lançamento da trilogia 1Q84 os leitores queriam tudo o que o autor havia publicado e o interesse por esses primeiros trabalhos aumentou.
Ouça a canção do vento e Pinball, 1973 são trabalhos de um autor em fase de experimentação, que não se arrisca nas tramas, está procurando a própria voz e começando a explorar suas obsessões. Ainda assim é uma das melhores obras de ficção que li este ano (esta resenha foi escrita em dezembro de 2016).
Um aspecto que diferencia enormemente Haruki Murakami de outros escritores nipônicos é a estrutura das frases. Na introdução deste livro ele brinca que já lhe disseram que seus livros em japonês parecem traduções. Isso ocorre porque muitos autores japoneses tradicionais usavam longas sentenças para compor suas obras. Mas Murakami usou sentenças curtas e diretas, chegando a começar a escrever um novela em inglês para depois transpondo para o japonês, o que não só teve um resultado mais dinâmico, como também se tornou a fórmula mais usada por autores populares japoneses contemporâneos – embora raramente com o mesmo nível de qualidade.
Os personagens Rato e J (dono de um bar) aparecerão nas novelas posteriores Caçando carneiros e Dance, dance, dance, mas a leitura deste livro não é obrigatória para a compreensão da trama, apesar dos livros agora serem considerados uma espécie de trilogia do início da carreira de Murakami.
Os protagonistas das novelas são diferentes, mas virtualmente indistinguíveis: são pessoas passivas, que literalmente vivem à margem da vida de outros personagens, não se comprometem, agem por intuição e mesmo já tendo passado dos vinte anos não sabem o que querem fazer no futuro – mas tem a impressão de que, quando chegar o momento, vai dar tudo certo, até lá procuram viver um dia de cada vez – basicamente o oposto do que é pregado incessantemente pela cultura japonesa.
A edição lançada pela Alfaguara é de capa dura, com uma capa simples e chamativa: duas cores berrantes em degradê inclusive com o corte pintado. Senti falta das ilustrações levemente surreais como nos outros livros do autor, mas se levar em conta que este livro tem histórias muito mais secas, é parcialmente desprovido dos elementos estranhos que tornaram o autor conhcido, uma capa mais simples passa a mensagem correta. Não encontrei erros de tradução, o que sempre é um extra, junto com a tradução a partir do japonês de Rita Kohl tornam a experiência da leitura muito agradável.
Fãs de Haruki Murakami não precisam de incentivo para comprar o livro, mas se você tem curiosidade em conhecer o autor deve começar por este – além de ser uma ótima leitura, a partir daqui todos os livros são melhores.