Resenha: O Rei Demônio, por Cinda Williams Chima
Título: O Rei Demônio
Título Original: The Demon King
Série: Os Sete Reinos – Livro 1
Tradutora:
Autora: Cinda Williams Chima
Páginas: 384
Ano: 2014
Editora: Suma de Letras
Avaliação: 4/5
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O jovem ladrão reformado Han Alister é capaz de quase qualquer coisa para garantir o sustento da mãe e da irmã, Mari. Ironicamente, a única coisa valiosa que ele possui não pode ser vendida: largos braceletes de prata, marcados com runas, adornam seus pulsos desde que nasceu. São claramente enfeitiçados — cresceram conforme ele crescia, e o rapaz nunca conseguiu tirá-los. Enquanto isso, Raisa ana’Marianna, princesa herdeira de Torres, enfrenta suas próprias batalhas. Ela poderá se casar ao completar 16 anos, mas ela não está muito interessada em trocar essa liberdade por aulas de etiqueta e bailes esnobes. Almeja ser mais que um enfeite, ela aspira ser como Hanalea, a lendária rainha guerreira que matou o Rei Demônio e salvou o mundo. Em O Rei Demônio, primeiro de quatro livros, os Sete Reinos tremerão quando as vidas de Han e Raissa colidirem nesta série emocionante da autora Cinda Williams Chima.
Quando você abre um livro de fantasia e há um mapa nas primeiras páginas, já sabe que tem uma grande obra pela frente, só para citar alguns exemplos: Tigana (Guy Gavriel Kay), Guerra dos Tronos (George R. R. Martin), O nome do vento (Patrick Rothfuss). Foi difícil evitar um sorriso ao ver o mapa dos Sete Reinos. Para evitar comparações da obra de Cinda Williams Chima com o universo de George Martin basta saber que a ideia de sete reinos vem da Inglaterra medieval (em uma divisão que perdura até hoje), e ambos os universos se passam em territórios com geografia semelhante.
No livro, a lenda do Rei Demônio inspira terror nas crianças desde o berço. Conta-se que mil anos atrás ele sequestrou a amada Rainha Hanalea e mergulhou os Sete Reinos em uma violenta guerra, conhecida como Cisão, que quase destruiu o mundo. Para terminar o conflito foi criada a Naéming, um conjunto de regras que estipulava, entre outras coisas, a separação entre a monarquia e os magos. Já os Clãs, habitantes das montanhas próximas ao castelo de Fellsmarch, passaram a se encarregar exclusivamente da confecção de amuletos mágicos e outros itens que são indispensáveis para os magos: essa é outra das limitações impostas aos feiticeiros para evitar que o mundo chegue tão perto da destruição novamente. Mil anos depois, essas regras são parte do cotidiano dos habitantes dos Sete Reinos.
Nesse contexto conhecemos Han Alister, que também é conhecido nas ruas de Fellsmarch como Algema por causa dos braceletes de prata que carrega desde a infância. Ele divide seu tempo nas ruas da cidade e nos campos das terras altas, território dos Clãs. Han tem que se esgueirar de gangues e outros larápios para conseguir dinheiro suficiente para sustentar a mãe e a irmã, que mesmo assim estão sempre a um passo da inanição. Suas dificuldades aumentam quando tem um fatídico encontro nas montanhas com três jovens magos, que pela idade são proibidos de usar magia (imposição da Naéming) e também estão invadindo a área dos Clãs onde magos não podem entrar. Han, que estava acompanhado do amigo Dançarino de Fogo, adquire um valioso amuleto mágico que é abandonado pelo rapaz que se identifica como Micah Bayar, filho do Grão Mago (título concedido ao mago mais poderoso, para ser um representante). Han é cauteloso com o objeto mágico e aguarda a melhor oportunidade de vender o medalhão. Mas logo Han começa a ser perseguido pela Guarda da Rainha por assassinatos que não cometeu.
Já no castelo de Fellsmarch, rodeada pelos presentes de pretendentes a matrimônio e todo luxo da corte está a Princesa-herdeira Raisa ana’Marianna. Filha de uma descendente direta da Rainha Hanalea com o consorte real, um rico comerciante dos Clãs, Raisa acabou de retornar a Fellsmarch após um período de três anos com o pai em Campo Demonai, onde tinha liberdade para pensar e agir. De volta a corte, Raisa se vê inexoravelmente bloqueada de todas as opções que gostaria de ter na vida. Empurrada de uma proposta de casamento para outra, Raisa percebe que a Rainha Marianna está se aproximando do Grão Mago e que o filho dele, Micah, a corteja com insistência renovada.
Nossos jovens herois enfrentam problemas dignos de uma vida adulta: Han tem que sustentar a família e fugir das brigas de gangues enquanto se desvia da truculenta Guarda. Raisa tenta agradar a mãe da melhor maneira possível, tentando fugir de um casamento prematuro e tem dificuldades em controlar os sentimentos pelos muitos rapazes que disputam sua atenção. Mesmo com todas essas características precoces, eles frequentemente são assolados por dúvidas, contradições e erros inocentes, problemas que dão cor à obra e geram forte empatia.
O dilema da luta entre a conveniência e as tradições também é abordado de forma tão natural e inserido na própria narrativa, que apenas com reflexão posterior conseguimos compreender a mensagem. Uma leitura superficial da trama já deixa o leitor consciente da profundidade de temas como poligamia, tabu e autoritarismo. A autora quebra constantemente a imagem idealizada que temos de uma princesa ao criar Raisa: ela quer beijar quantos rapazes puder antes de se casar, se esgueira por buracos e passagens secretas, aprendeu a barganhar e a comerciar enquanto vivia entre os Clãs. Tendo a lendária Rainha Guerreira Hanalea como inspiração, Raisa não hesita em abandonar o conforto e a proteção exagerada da corte por uma vida de aventuras e incertezas.
O destino tem forte influência na obra, considerando a natureza mágica de muitos de seus personagens podemos atribuir tudo a algo muito superior ao mero acaso. Ao fim da última página vemos que esse é só o pontapé inicial de uma série com muito potencial. Espero que a autora evolua os personagens gradativamente, como temos visto em outras séries.
Gostei da opção da Suma de alterar um pouco o padrão da capa em relação ao original. A série “O Herdeiro” da autora está sendo lançada pela Farol Literário e seria fácil confundir as editoras, veja as capas abaixo para entender melhor:
(A esqueda a capa da Farol, a direita a capa em inglês que a Suma adaptou.)
O tamanho grande do livro, com páginas amareladas, a fonte confortável e a completa ausência de erros de digitação contribuem para uma leitura muito agradável. Com a excelente qualidade que já é característica da Suma e o preço bem atraente, o livro tem tudo para ser um sucesso. Somado a isso, ter um mapa nas primeiras páginas é um extra sempre bem-vindo.
Leitura ideal para os fãs órfãos de Harry Potter (existe uma escola de magia em Vau de Oden), uma série perfeita para os jovens leitores que se interessam pela literatura de fantasia.
Quando vi o lançamento dessa série até fiquei curiosa em ler, mas antes de tudo ainda preciso ler “As Cronicas de Gelo e Fogo”! rs…
Beijos
Camis
Oi Camila! Eu recomendaria ler primeiro essa série dos Sete Reinos, pelo menos os 4 livros já foram escritos e a Suma já mostrou as capas, só falta traduzir.
Os do Martin teremos que rezar para ele estar vivo até o fim da série!