Resenha: O Que é Fascismo? E Outros Ensaios – George Orwell
Nome do livro: O Que é Fascismo? E Outros Ensaios
Autor(a): George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 160
Ano: 2017
Nota: 5/5
Romancista celebrado pelas distopias de 1984 e A revolução dos bichos, George Orwell também foi um prolífico repórter e colunista. Entre as décadas de 1930 e 1940, o autor de O que é fascismo? colaborou em diversos veículos da imprensa britânica. Nesta coletânea de 24 ensaios publicados em revistas e jornais, Orwell explora um amplo espectro de assuntos, sempre perpassados pela política, sua principal obsessão intelectual e literária. Com temas que variam de Adolf Hitler à pornografia, de W. B. Yeats a O grande ditador, os textos selecionados pelo jornalista Sérgio Augusto compõem um inteligente mosaico das opiniões de Orwell durante o período crítico da Segunda Guerra Mundial e do início da Guerra Fria. Com sua visão irônica do mundo conflagrado da época, os ensaios demonstram a potência criativa e democrática adotado pelo escritor após sua experiência na Guerra Civil Espanhola, em contraposição aos totalitarismos de esquerda em voga na época.
Há termos e expressões que passam por períodos de baixa e, motivados por algum acontecimento, reaparecem com força nos noticiários e na vida cotidiana. Como consequência do uso irrestrito e da falta de discernimento de quem as emprega, essas palavras podem vir a ter seu significado original deturpado ou, até mesmo, sofrer um esvaziamento de sentido. “Fascismo” (e suas derivações) talvez seja um bom exemplo: basta correr os olhos pela sua timeline para ver como algumas pessoas fazem uso indevido dessa palavra em uma tentativa de conferir peso às suas argumentações – ou aos seus xingamentos.
“O que é fascismo? e outros ensaios” é uma coletânea de textos publicados entre 1938 e 1948 por George Orwell, escritor inglês nascido na Índia e bastante conhecido por obras como “1984” e “A Revolução dos Bichos”. Apesar de terem sido escritos há tanto tempo, os ensaios não soam datados e nem são inacessíveis ao público geral. Pelo contrário: muitos trechos do livro ressoam com o período histórico que estamos vivendo e a escrita de Orwell faz com que consigamos compreender sem problemas as suas ideias e impressões sobre um período tão conturbado quanto a II Guerra Mundial. Não à toa, existe o adjetivo “orwelliano” para qualificar um texto redigido com extrema clareza.
Orwell, morto em 1950, é conhecido por ser um opositor ferrenho dos regimes totalitários. Sendo assim, a maioria das passagens deste livro tratam de política e têm como foco o contexto vivido pela Europa durante a ascensão e queda de Adolf Hitler. Mas o autor não se limita a expor sua visão crítica acerca desse assunto; há, ao longo das 160 páginas, resenhas de livros em voga naquela época e linhas sobre a literatura pulp norte-americana, os filmes de Charles Chaplin e escritores como Oscar Wilde e W.B. Yeats.
O interessante de toda coletânea é permitir que o leitor percorra a obra da maneira que desejar, lendo aquilo que julga mais importante em determinado momento. Para mim, que fui em busca da definição e da contextualização do que é o fascismo conforme o ponto de vista de George Orwell, as resenhas de livros ficaram em segundo plano por enquanto. Considero que o livro entrega o que promete, pois é claro sem ser didático e opinativo sem ser taxativo. É bastante útil tê-lo à mão como fonte de consulta rápida sobre o assunto em questão.
Tendo em mente a realidade atual dos Estados Unidos e, de certa maneira, a que vivemos no Brasil, a leitura desses ensaios é bastante recomendável, independentemente da posição política de cada leitor – afinal, apesar de suas inclinações à esquerda, Orwell era capaz de tecer uma análise crítica acerca do lado que defendia.
Vale a pena dedicar algumas horas para tentar compreender um pouco melhor o mundo de hoje.