Resenhas

Resenha: O Ministério da Felicidade Absoluta – Arundhati Roy

Nome do livro: O Ministério da Felicidade Absoluta
Nome Original: The Ministry of Utmost Happiness
Autor(a): Arundhati Roy
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535929324
Ano: 2017
Nota: 5/5

Após exatos vinte anos longe da ficção, a autora do best-seller O deus das pequenas coisas, publicado em 42 idiomas com mais de 8 milhões de exemplares vendidos no mundo, volta ao romance com O ministério da felicidade absoluta.
Pela emocionante história do jovem Aftab, que mais tarde se torna a bela Anjum, descortina-se uma Índia repleta de conflitos e beleza. Dos bairros sinuosos e pobres aos shoppings reluzentes de Delhi, passando pelas montanhas nevadas da Kashmira, onde guerra e paz se mesclam em ciclos de vida e morte, a vida de Anjum transcorre e, com ela, a história de uma país.
A um só tempo história de amor e protesto, este romance tem como heróis pessoas que foram destruídas pelo mundo no qual vivem e em seguida resgatadas por atos de amor e esperança. Desta forma, por mais frágeis que pareçam ser, eles nunca se rendem.
Aos entrelaçar vidas complexas, este romance arrebatador e profundamente humano reinventa o que um romance pode ser e fazer. E demonstra a cada página o talento de Roy para contar histórias.

O erro da parteira é apresentado logo nas primeiras páginas: Jahanara Begum dera à luz um menino com uma “pequena, informe, mas inquestionável parte de menina”. Na Índia de hoje, na qual o sistema de castas ainda – apesar de tudo! – faz parte do cotidiano, nascer entre os gêneros masculino e feminino significa viver entre os párias da sociedade. Há um nome para aqueles nessas condições: hijra. As superstições indianas carregam essa palavra de poderes sobrenaturais e fazem com que as hijras sejam temidas e evitadas. Quando há um casamento, por exemplo, elas chegam em grupo, balançando suas pulseiras, com o intuito de abençoar a cerimônia em troca de dinheiro. O mesmo ocorre quando há um nascimento na vizinhança, mas com um porém: se a criança for hermafrodita, ela normalmente é levada para crescer entre as hijras em sua própria comunidade. Esse acabou sendo o destino de Anjum, nascida Aftab – e muçulmana – em uma Délhi majoritariamente hindu.

A primeira parte do livro narra como Anjum lida com seus conflitos internos e se integra a essa coletividade liderada por Ustad Kulsum Bi, uma hijra de idade mais avançada, e baseada em um local chamado Khwabgah – palavra em Hindi que significa “A Casa dos Sonhos˜. É lá que Anjum permanece por anos a fio, buscando lampejos de esperança às margens de uma cidade lotada e hostil, antes de se instalar em um cemitério semiabandonado e construir ali uma espécie de refúgio para suas semelhantes: a Hospedaria Jannat. É ali que muitas histórias se cruzam, entre elas a de Tilottama, arquiteta que protagoniza a segunda parte da obra. Vale dizer que as duas partes que compõem “O Ministério da Felicidade Absoluta” são praticamente independentes, pois uma se passa em Délhi e outra na Caxemira, uma região do norte do país imersa em conflitos religiosos e no clima de tensão permanente entre Paquistão e Índia.

Trata-se de uma obra extensa e que não se concentra nas personagens, e sim nas feridas abertas de uma Índia repleta de contradições, violações aos direitos humanos, animosidades – entre indianos e paquistaneses, hindus e muçulmanos, nacionalistas e antinacionalistas – e, principalmente, abarrotada de seres humanos em situação de exclusão. Arundhati Roy, famosa por O Deus das Pequenas Coisas (1997), utiliza habilmente a sua escrita como forma de protesto.

Tenho uma ligação bastante forte com a Índia e, por isso, o livro trouxe uma experiência de leitura bastante positiva. Recomendo caso você também se interesse por esse país tão fascinante.

Ronan Sato

Especialista em assuntos aleatórios. Apesar de descendente de japoneses, não sabe afirmar com certeza se prefere comida indiana ou sushi

3 comentários sobre “Resenha: O Ministério da Felicidade Absoluta – Arundhati Roy

  • Olá Ronan,
    Não conheço nenhum trabalho dessa autora e achei interessante vc ter colocado que ela escreveu esse livro em forma de protesto conta o que acontece na India. Mas tbm acho necessário para mostrar as pessoas sobre como é a cultura de um país e percebemos que mudanças tem que ser feita em muitos lugares.
    Achei interessante o fato do livro ter duas estórias totalmente diferente e com protagonistas diferente.
    Não é o tipo de livro que eu costumo ler, mas se um dia tiver chance darei uma oportunidade.

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  • Ronan!
    Já gostei de ver que temos dois livros em um só, com histórias que se passam em Délhi e outra na Caxemira.
    Sem contar que achei interessante ver como os indianos tem suas crenças em relação ao hermafroditismo.
    E ainda saber que a autora trata o assunto como forma de protesto em seus escritos.
    E o que mais me chamou a atenção é poder conhecer um pouco mais sobre a cultura da Índia e de outros povos.
    Desejo uma ótima semana produtiva!
    “Saber quando se deve esperar é o grande segredo do sucesso.” (Xavier Maistre)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  • Oi Ronan.
    Essa história parece ser bem interessante.
    Ainda não li nenhum livro que se passa na Índia e seria ótimo saber um pouco mais sobre a cultura.
    Achei interessante haver duas histórias no livro, com narradores diferentes. Eu gosto bastante de livros assim.
    Adorei a capa!
    Bjs

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