Resenha: O mercador de livros malditos, por Marcello Simoni
Título: O mercador de livros malditos
Título original: Il mercante di libri maledetti
Tradutor: Gilson César Cardoso de Sousa
Autor: Marcello Simoni
Páginas: 368
Ano de publicação: 2012
Editora: Jangada
Avaliação: 3 / 5
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No ano de 1205, um monge foge de um esquadrão de cavaleiros com algo muito precioso, que não está disposto a entregar a seus perseguidores. Treze anos mais tarde, Ignazio de Toledo, um mercador de relíquias, recebe de um nobre veneziano o encargo de procurar um livro raríssimo, que supostamente contém antigos preceitos da cultura talismânica oriental com os quais é possível evocar os anjos e sua divina sabedoria. Assim começa a arriscada viagem de Ignazio, à procura de um manuscrito que alguém desmembrou em quatro partes e escondeu cuidadosamente, protegendo-o com intricados enigmas. Mas o mercador não é o único a querê-lo. Quem descobrirá primeiro onde ele se encontra? E até que ponto aqueles que o buscam estarão dispostos a se arriscar para desvendar seus mistérios?
Por Jairo Canova
Na capa o livro já é comparado a O nome da rosa ( de Umberto Eco) e a Os pilares da terra (de Ken Follett), deixando a expectativa um pouco alta. Como não encontrei a profundidade do primeiro nem a maestria do segundo a comparação parece um pouco exagerada, as semelhanças são o período (século XIII) e a temática eclesiástica. No estilo de narrativa seria mais fiel compará-lo com O código da Vinci, com grande vantagem para Marcello Simoni que não escreve como se quisesse provar que sabe mais do que o leitor.
Na trama somos apresentados a Ignazio de Toledo, mercador de relíquias santas e/ou pagãs, acompanhado de seu fiel escudeiro Willalme de Bèziers, francês lutador de savate e proveniente de uma cidade destruída injustamente pelos templários sob acusação de heresia, que recebem em sua campanha para encontrar um livro raro o jovem Uberto, órfão criado no mosteiro de Santa Maria del Mare, que sonhava em viajar pelo mundo. Logo as preces de Uberto são atendidas enquanto o grupo é perseguido por todos os países da cristandade de 1218 à procura de pistas obscuras e quebra-cabeças em diversos idiomas na busca do livro que revelará o poder dos anjos.
A nomenclatura dos personagens é outro ponto forte da obra. Ao ouvir Ignazio Alvarez de Toledo já sabemos que é o herói de capa e espada. E Scipio Lazarus certamente é nosso vilão, se escondendo nas sombras sob um manto negro de conspirações. O ponto fraco é que a construção de muitos personagens parece caricata, artificial e previsível, principalmente quando agem exatamente da maneira que imaginamos que a trama os levará, baseados apenas em outros livros que já lemos. Poucos personagens têm uma centelha caótica, capazes de agir de maneira impulsiva, imprevisível.
O que me incomodou foi a troca constante de capítulos, frequentemente sem necessidade alguma. Geralmente é para mudar o núcleo da narrativa, mas quando se mantém o mesmo personagem em foco o efeito é retardatário. Imagino que o objetivo era deixar a leitura mais dinâmica, mas no começo a história evolui pouco em cada capítulo de 2-3 páginas e não se cria muito suspense em trechos tão curtos, quebrando um pouco o efeito desejado. A partir da metade do livro, conforme conhecemos melhor os personagens e os capítulos são mais longos, a leitura evolui rapidamente.
Entre os personagens principais é mais fácil se identificar com Uberto, para ele tudo o que vê é uma descoberta e as piores privações são importantes lições, pedras fundamentais no aprendizado, na descoberta do mundo e do que ele próprio é capaz e não sabia. Alguns dos personagens secundários acabam sendo mais interessantes do que os centrais conforme conhecemos seus dilemas e segundas, terceiras intenções, sempre de acordo com alianças de conveniência que firmam até alcançarem seus objetivos pessoais.
Muitas vezes o autor tenta enganar o leitor com subtramas, paranóias e conspirações, infelizmente a maioria delas fica evidente demais e são fáceis de serem desmascaradas, exceto os grandes mistérios que ficam reservados para o final, estes sim são de surpreender até os leitores mais experientes em thrillers e fãs de Robert Langdon.
Não se assuste pelo volume do livro: as letras são grandes, as frases curtas e o espaçamento amplo, deixando a leitura bem confortável e aumentando consideravelmente a quantidade de páginas. A revisão primorosa não permitiu nenhum erro de digitação, parabéns para a Jangada. Mesmo fazendo uso de vários idiomas ao longo da trama, o rico idioma italiano costuma render boas traduções devido à proximidade do português, então temos em mãos uma obra bem semelhante ao texto original.
O livro não é recomendado para beatos ortodoxos devido a grande quantidade de informações ligadas ao esoterismo persa (sempre com influência da matemática e da astronomia), doutrina muçulmana, cabala, alquimia e diversos outros assuntos espirituais que são constantemente comparados com os ritos cristãos. Tendo a ambientação no século XIII ajuda muito a excluir uma gama de superstições que viriam nos séculos seguintes durante a inquisição, dando mais liberdade aos personagens para beirar a heresia.
A leitura é para maiores de 16 anos, há algumas cenas leves de nudez, muito sangue, mortes, batalhas com armas medievais e tortura, tudo o que nós fãs de aventura gostamos e não encontramos em outros títulos do gênero.
Veja também a resenha de A biblioteca perdida do alquimista, segundo volume da trilogia.
Achei interessante =) Mas é sempre bom lembrar que o que na trama é previsível pra ti, pra maioria não deve ser hehehehehe. Tu adora desvendar os mistérios do livro sozinho. Sem esperar pelo autor.
Eu lembro da primeira vez que li esse título, nem li a sinopse, só pelo título já quis ler. Agora lendo a resenha, é uma pena que não seja tão bom assim, mas ainda acho que vou me arriscar. Eu adorei Os Pilares da Terra *.*
Bjs
O livro é bom sim, Rafaela, pode ler sem medo, só tem essas coisinhas que incomodam. A continuação já está bem melhor, logo publico a resenha.
bjs