Resenhas

Resenha: O Ladrão do Tempo, por John Boyne (Terceira Opinião)

O_LADRAO_DO_TEMPO_1389243421PNome do Livro: O Ladrão do Tempo
Nome original: The Thief of Time
Autor: John Boyne
Tradução: Henrique B. Szolnoky
Editora: Cia. das Letras
ISBN: 9788535923780
Ano: 2014
Páginas: 568
Avaliação: 4/5
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Matthieu Zéla parou de envelhecer no final do século XVIII, quando se aproximava da meia-idade. Duzentos anos depois, ele rememora as muitas vidas que teve desde que fugiu da França para a Inglaterra, após ter presenciado o assassinato brutal de sua mãe. Seus companheiros na empreitada foram o irmão mais novo, Tomas, e Dominique Sauvet, seu único amor verdadeiro. Mas Matthieu sobreviveu aos dois, e desde então não parou de sobreviver a todos. Foi soldado, engenheiro, cineasta, investidos, executivo de televisão e amante de muitas mulheres. Em seu romance de estreia, John Boyne construiu uma trama maravilhosamente articulada, que nos leva a visitar os grandes eventos que marcaram o mundo nos últimos dois séculos pelos olhos de um personagem extraordinário.

Imagine viver por mais de dois séculos e passar por todo tipo de experiência em diversas áreas? Isso pode ser ao mesmo tempo bom e ruim. Em O Ladrão do Tempo seremos levados a pensar sobre como é a vida, as pessoas e as nossas atitudes, tudo isso de uma forma bem emocionante.

A trama acompanha a difícil, mas interessante e feliz vida de Matthieu Zéla, um homem que perdeu os pais muito novo e decidiu começar uma nova vida em outro país. Junto de seu irmão Thomas ele embarca em um navio onde conhece Dominique, seu primeiro e maior amor. Juntos eles passarão por diversas situações e Matthieu desde muito novo aprenderá lições importantes sobre o amor, a traição, a amizade e a responsabilidade. Logo, ele atinge a idade de 50 anos e percebe que não envelhece mais fisicamente, isso o permite acompanhar as gerações tão problemáticas de seu irmão Thomas, conhecer muitas mulheres e passar por diversos cargos e empregos. Quando Zéla já está se sentindo bem com a vida e prestes a se aposentar ele deve lidar com as escolhas e atitudes de seu sobrinho, Tommy, que pode ter um final tão trágico quanto seus ancestrais.

John Boyne criou muitos personagens para a sua trama, mas aqui vou destacar apenas três: Matthieu, Dominique e Tommy. Matthieu, que é o nosso protagonista, é um personagem agradável e acompanhar sua trajetória foi uma experiência incrível.  Ele passa uma calma e uma determinação ótima e é muito humano, comete erros e os admite e depois se ergue e faz o possível para corrigi-los. Há um pouco de humor e seriedade nas suas palavras, e sua construção de caráter baseada no que ele passou na infância e adolescência faz dele um dos personagens mais memoráveis do livro.

Dominique é extremamente odiável! Ela pode parecer uma boa pessoa e até torcemos para que no final ela fique com Matthieu, mas não dá, a cada capítulo vamos vendo o quanto ela é manipuladora, indecisa, ambiciosa e egoísta. E o pior que ela consegue fazer isso da pior maneira possível.

Thommy, o sobrinho de sexta ou sétima geração de Matthieu, também é um personagem adorável. É um jovem que tem muitas atitudes radicais e perigosas, mas sempre faz isso de uma maneira que não prejudique o próximo e principalmente decepcione seu tio. E é interessante ver como isso faz com que seu tio se dedique ainda mais para ajudar ele. A relação dos dois é muito bonita. O rapaz sabe de seus erros e podemos ver que ele também tenta melhorar a pessoa que é.

O formato que o autor escreveu o livro foi extremamente brilhante. Boyne criou três fases para o protagonista e os desenvolveu intercalando-as. Enquanto em um capítulo acompanhamos um Matthieu adolescente, no outro acompanhamos ele em suas viagens, casamentos e empregos na fase adulta, e logo depois vemos ele atualmente. Cada uma dessas partes possui seu próprio enredo que contribuirá para a formação da história de vida do protagonista, o que é bem divertido de acompanhar e saber como cada detalhe fará toda a diferença no futuro.

John também conseguiu trabalhar com assuntos importantes como por exemplo: o valor das pessoas na nossa vida, como nossas atitudes podem ter consequências boas ou ruins, como o amor pode ser traiçoeiro e como a família é uma parte importante na vida do ser humano. Cada ponto é discutido de uma maneira muito simples, direta e com palavras concretas, o que faz com que a leitura fique prazerosa e que acrescente muito ao nosso conhecimento e pensamentos. Quando acabei o livro eu fiquei pensando muito sobre a vida do protagonista e são poucos os autores que conseguem fazer isso comigo.

A edição que a Companhia das Letras fez para o livro ficou linda e no mesmo padrão dos livros do John Boyne já publicados aqui. Ótimo para quem já faz coleção. A tradução foi muito bem feita e eu não notei muitos erros na revisão.

O Ladrão do Tempo é o primeiro romance de John Boyne e nele o autor já prova porque conquistou tantas pessoas com sua escrita. Um livro leve, engraçado, emocionante e com algumas doses de suspense e ação. Na verdade esta história traz de tudo, pois afinal estamos falando de uma vida de mais de dois séculos! Recomendado!

Philip Rangel

Philip Rangel é estudante de direito, administrador e resenhista do Entrando Numa Fria, técnico em informática, nárniano, pertence a grifinória, leitor assíduo, futuro escritor, amante de livros, séries e filmes.

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