Resenha: Nocilla Dream, por Agustín Fernández Mallo

Nome do Livro: Nocilla Dream
Nome Original: Nocilla Dream
Série: Trilogia Nocilla
Autor(a): Agustín Fernández Mallo
Tradução: Joana Angélica d’Avila Melo
ISBN: 9788535922356
Páginas: 211
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2013
Avaliação: 4/5
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Prostitutas pintam as unhas na varanda de um bordel e observam carros passando na estrada. Um jornalista austríaco casado com uma chinesa aposta em corridas de ratazana e filma road movies pequineses. Dois amigos inventam a Passagem a Ferro Radical, fenômeno que se espalha pelos cinco continentes e ganha federações. Esses são alguns dos fios condutores de Nocilla dream, que, publicado em 2006 na Espanha por uma editora independente, logo se tornou um fenômeno no país, chamando a atenção tanto da crítica — o jornal El mundo incluiu o romance na lista dos dez melhores do ano — quanto do público. Depois do sucesso do primeiro volume, as duas partes finais da trilogia Nocilla seriam publicadas pela editora Alfaguara: Nocilla experience, em 2008, e Nocilla lab, em 2009. O projeto literário de Augustín Fernandez Mallo também é reconhecido por ter pavimentado o caminho de uma nova geração de escritores, a Geração Nocilla, ou Geração Afterpop. Nocilla, creme de avelã espanhol semelhante à Nutella, é um dos muitos objets trouvés de Mallo; ao longo deste romance-manifesto carregado de humor e paródias dos procedimentos da arte contemporânea, aparecem também chicletes de menta mascados, um par de tênis Nike, biquínis e camisinhas usadas. Lê-se Nocilla dream, espécie de road movie com ares de filme B, como quem está diante da tv, passando os canais. Entre ficções, passagens reflexivas e citações, seus 113 microcapítulos alternam entre o registro pop e o erudito, enriquecidos com trechos de Italo Calvino, Thomas Bernhard e Jorge Luis Borges. No centro dessas diversas referências e constelações está um álamo que conseguiu água para sobreviver em pleno deserto de Nevada, e que atrai como um ímã centenas de pares de sapatos pendurados pelo cadarço. China, Polônia, Argentina, Dinamarca: eis alguns dos horizontes deste romance de estrutura arbórea, que se expande pelo território globalizado e revela a essência da experiência contemporânea.

Nocilla Dream é um livro de Agustín Fernández Mallo, espanhol, físico e poeta, é conhecido no meio por cunhar o termo “poesia pós-poética” que é a junção da arte e ciência. Nocilla é o primeiro livro de uma série que revolucionou o cenário literário espanhol e foi considerado o livro mais importante da década de 2000, em língua espanhola, pela revista Quimera. Não estamos falando de pouca coisa e isso fica bem nítido depois de termos lido o livro!

Em Nocilla Dream várias histórias diferentes que se convergem em um único ponto, uma árvore que sobreviveu no meio do deserto de Nevada e que é famosa por “guardar” pares de sapatos pendurados pelos cadarços. Apesar de as personagens das histórias contadas em Nocilla Dream não se encontrarem, a paisagem citada acima é comum a todas assim como a ânsia eminente por mudanças em suas vidas, seja em patamar amoroso, seja financeiro, profissional, tudo o que aquelas pessoas desejam é mudar.

 “Carregamos dentro de nós um deserto que não avança, um tempo mineralizado e detido. Daí o “eu” constituir em uma hipótese inamovível que nos é atribuída no nascimento e que até o fim tentamos comprovar sem êxito.” (p.32)

Ler Nocilla Dream é mais do que uma experiência puramente literária, é um exercício de desapego de desconstrução, destruição e reconstrução de alguns parâmetros relacionados à literatura. É, muito comum nos tempos atuais, principalmente nos grandes centros urbanos, performances culturais, e ler este livro é assim. Assistir a uma performance diferente a cada página. Se me fosse pedido que definisse este livro com uma palavra seria: performático!

Na orelha do livro, diz que lê-lo é como estar zapeando por entre páginas na internet, e é exatamente esta a impressão que fiou ao final o livro. Me senti como se tivesse colocado um determinado tema em um site de buscas qualquer, e fosse abrindo cada uma daquelas opções que me foram dadas em resposta ao que eu havia solicitado. As histórias não se relacionam diretamente entre si, mas trazem uma relação que vai além da familiaridade entre as personagens, que contada aos poucos, vai fazendo com que você se aprimore de tudo aquilo, de cada pouco de coisa que viu, de cada sentimento, de cada graça, de cada medo, de cada anseio.

 “Todo mundo sabe que escrever é ter morrido. Só a morte passa a vida a limpo e a essa distância é capaz de reescrevê-la. Por isso, só o escritor é quem narra o mundo dos vivos a partir do mundo dos mortos.” (p.65)

Os 113 micro capítulos que estão em Nocilla Dreams, além do texto do próprio autor, contam com pequenos trechos de Borges, Ítalo Calvino entre outros autores e traz também uma barca de conhecimentos sobre arte conceitual, arquitetura, música, esportes, não é nada didático, não quer dizer que está lá pra ensinar alguma coisa, mas faz parte do todo louco que é este livro.

Uma obra que não está classificada em nenhuma categoria além de literatura espanhola, e esse é um dos seus méritos, é um divisor de águas para a literatura espanhola. Nocilla está muito bem indicado, é um livro de fácil leitura, os capítulos são bem pequenos, o maior se não me engano tem 2 páginas no máximo. Acho muito válida a experiência para todo leitor, um livro sem uma formula pronta, inusitado e delicioso de ser lido. Uma das faces da literatura que me fascinam é a capacidade de inovação, de invenção e o que Mallo faz com o leitor neste livro é incrível.