Resenha: Na teia do morcego, de Jorge Miguel Marinho
Título: Na teia do morcego
Autor: Jorge Miguel Marinho
Páginas: 264
Ano: 2012
Editora: Gaivota
Avaliação:
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A história se passa na região central da cidade de São Paulo e tem como um dos protagonistas o Batman. Será esse Batman o mesmo dos quadrinhos, fugido de Gotham City, ou somente um louco fissurado no personagem? O ponto de partida do mistério por trás de Na Teia do Morcego é a morte da jovem Abigail Aparecida Chaud, e seu envolvimento com o herói, conhecido pela alcunha de Cidadão Tristeza. Essa figura pula pelos telhados dos prédios, assusta gatos, dirige um Maverick e tem uma capa brilhante. De vez em quando, chora grossas lágrimas pretas iguais a nanquim e deixa copos borrados de batom. O Cavaleiro da Justiça, como se autodenomina, é um personagem peculiar – e vira alvo fácil de ataque dos moradores da região. Sem saber quem é o verdadeiro assassino e tendo suspeitos em todos que conheciam a moça assassinada, o autor convida o público a tentar desvendar esse mistério.
Batman está solto pelas ruas de São Paulo e não há como detê-lo. Deixando em seu rastro tinta negra, seguidores fiéis e inimigos raivosos, resolver um caso de assassinato é mero acessório. Neste livro intrigante e cheio de reviravoltas, Jorge Miguel Marinho desafia o leitor a diferenciar fato e ficção, realidade e fantasia. Envolto pelo mistério criado pelo personagem dos quadrinhos, o Batman de “Na teia do morcego” abre algumas novas possibilidades no labirinto de concreto.
“A nossa cidade está um misto de penumbra e neon […]” (pág. 42)
O Batman é um dos heróis favoritos de muitos fãs de quadrinhos. É fácil entender porque ao ler quadrinhos clássicos como “A piada mortal” e “Batman: Asilo Arkham”, o que torna a tarefa de trazer o personagem para o Brasil complexa, ainda mais em um livro desestruturado, composto basicamente por um mosaico de diferentes textos que obrigam o leitor a montar mentalmente a trama a partir do ponto de vista de vários personagens. Todos esses elementos divergentes fazem parte do prazer da leitura e o simples absurdo de toda a situação já é suficiente para entreter o leitor até a última página.
Este deve ser o livro mais adulto do catálogo da editora Gaivota, com várias alusões sexuais que dão ainda mais colorido ao texto. Coloridas mesmo são as páginas, que alternam a cor do fundo para criar um mosaico semelhante ao que o texto propõe; a variedade de cores e de “ilustrações” em todo o livro é um trabalho exemplar de competência. Parabéns para toda a equipe da Gaivota pelo grande trabalho de diagramação e revisão.
Apenas o trecho que mostra o diário do Batman em páginas laranjas é um pouco cansativo por serem páginas ininterruptas, enquanto o livro até aquele ponto e depois dele é constituído basicamente de trechos fragmentados. Mesmo assim a profundidade que dá ao personagem e a modificação do ponto de vista valem cada página. Um livro com essas características facilmente poderia ficar incompreensível ou absurdo demais, nesse ponto entra a experiência do autor para manter tudo nos eixos até o final que deixará a maioria dos leitores boquiabertos.
Como toque final, “Na teia do morcego” é melhor do que as novelas oficiais que tem o Batman como personagem principal.