Resenhas

Resenha: Mago Aprendiz, por Raymond E. Feist

9788567296005[1]

Título: Mago Aprendiz
Série: A Saga do Mago, Livro 1
Título original: The Magician
Tradutora: Cristina Correia
Autor: Raymond E. Feist
ISBN: 9788567296005
Páginas: 431
Ano de publicação: 2013
Editora: Saída de Emergência
Avaliação: 4/5
Onde comprar: Submarino

Na fronteira do Reino das Ilhas existe uma vila tranquila chamada Crydee. É lá que vive Pug, um órfão franzino que sonha ser um guerreiro destemido ao serviço do rei. Mas a vida dá voltas e Pug acaba se tornando aprendiz do misterioso mago Kulgan. Nesse dia, o destino de dois mundos altera-se para sempre.

Com sua coragem, Pug conquista um lugar na corte e no coração de uma princesa, mas subitamente a paz do reino é desfeita por misteriosos inimigos que devastam cidade após cidade. Ele, então, é arrastado para o conflito e, sem saber, inicia uma odisseia pelo desconhecido: terá de dominar os poderes inimagináveis de uma nova e estranha forma de magia ou morrer.

Por Jairo Canova

Se o livro tem algum defeito é não ter sido traduzido mais cedo. Publicado originalmente em 1982, a vantagem da edição brasileira é ter utilizado uma reedição de 1992 em que o autor teve liberdade de ampliar e revisar diversas passagens.

O elogio da BBC de que este é um dos 100 melhores livros de todos os tempos parece exagerado, mas a informação vem de uma pesquisa de 2003 feita com mais de 200 mil pessoas.  O livro The Magician que é composto por Mago – Aprendiz e Mago – Mestre (no Brasil se optou por publicar em dois livros) ficou em 89º lugar na pesquisa encabeçada por, claro, O Senhor dos Anéis. Aqui a lista completa original e traduzida.

Em carta antes do livro o editor já nos avisa que esta é uma história com “…elfos sábios, e graciosos, os anões corajosos e festeiros, dragões de um poder inimaginável, magia complexa, batalhas épicas, vitória, perda, amor e ódio…“ e assim temos tudo o que precisamos para uma saga emocionante, que começa como muitas outras: a história de um órfão perambulando pela cozinha de um castelo, enganando o leitor nas primeiras páginas quando é difícil imaginar um vilão entre tantos personagens nobres e de bom caráter. Erro grave, como o autor não perde tempo em demonstrar.

Raymond E. Feist em seu primeiro livro parece delinear com traços grosseiros uma grande obra, que aos poucos vai ganhando detalhes pela narrativa em terceira pessoa. Na melhor tradição de desventuras os personagens são retratados com emoções simples e intensas. Os elementos fantásticos estão presentes com frequência, mas nunca deixam de entusiasmar. As cenas de lutas mudam completamente a atmosfera, com frases curtas, precisas e com o mínimo essencial para o entendimento dos acontecimentos e algo raro nas obras do gênero: toda luta tem consequências nos personagens, físicas e psicológicas.

Os motivos orientais da paisagem na capa do livro tem uma explicação implícita no nome de uma das nações apresentadas: os Tsurani, que imediatamente lembram a palavra Tsunami (onda gigante), povo inspirado no Japão feudal. Os Tsurani, que neste livro são apenas parte do plano de fundo, são mais explorados na Trilogia do Império escrita pelo autor como parte de um enorme cenário que neste primeiro volume se vislumbra de maneira imprecisa.

A construção do personagem principal começa um pouco decepcionante. Pug é o órfão, rejeitado, tem nome de raça de cachorro, é feliz a sua maneira, pequeno para a idade e tem tudo para que o leitor se identifique. Com o desenvolver da narrativa que ele vai ganhando personalidade conforme tem que enfrentar problemas cada vez mais complexos. Nesse aspecto um dos pilares do livro é o mago Merlin Gandalf Dumbledore Kulgan, fonte de sabedoria, piadas e fumaça de cachimbo. Outros personagens vão se alternando como foco da narrativa, criando histórias paralelas de maneira natural e eficiente.

Uma ótima escolha da jovem editora Saída de Emergência foi ter anexado um mapa de Midkemia independente do livro, aproximadamente quatro vezes o tamanho da capa. Com papel de qualidade e detalhes que não poderiam ser reproduzidos dentro do livro. Assim como outras obras que citam muitas cidades, montanhas, mares, estreitos bosques e ilhas ao longo do texto é bom ter sempre a referência por perto.

Fica a reclamação de um livro tão bom ser publicado com pouca diferença de outros livros mais recentes de fantasia, correndo o risco de ser confundido com uma cópia – já que possui elementos básicos do gênero. Assim, o comprador desatento (aconteceu comigo) pode confundir o livro como mais um da enxurrada que se segue aos filmes das obras do Tolkien e a série Game of Thrones. Até a capa que é linda lembra um pouco a imagem usada na edição brasileira de O Nome do Vento de Patrick Rothfuss e também Elantris de Brandon Sanderson.

É animador saber que esta é apenas a primeira parte de um dos maiores cenários fantásticos da literatura, que já conta com mais de 30 novelas (a mais recente publicada em 2013), que se mantiverem o nível valerá a pena cada hora passada em Midkemia.

Por que não dei 5 estrelas: algumas passagens são parecidas demais com O Senhor dos Anéis. Em carta publicada em 1997 o autor diz que escreveu o livro depois de ter lido Tolkien, em um universo tão rico já no primeiro volume que se expandiria exponencialmente em várias outras trilogias escritas ao longo dos anos seguintes pareceu ter faltado inspiração ao jovem Raymond E. Feist de 1982 para criar uma maneira mais interessante de atravessar uma montanha do que pelas minas dos anões por um caminho conhecido como Mac Mordain Cadal. Reconheço que a passagem pode ser entendida como uma homenagem, mas para isso valeria mais batizar um personagem ou fazer alguma citação. Quase esperamos ver Balrog. Quase.

Para finalizar, uma pérola do machismo (na melhor acepção da palavra) dos anões:

“…Fora a cerveja de outono, e a companhia da minha adorável esposa ou uma boa peleja, é claro, poucas coisas se comparam ao cachimbo em termos de puro prazer.”

 

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

5 comentários sobre “Resenha: Mago Aprendiz, por Raymond E. Feist

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