Resenhas

Resenha: Doutor Sono, por Stephen King

DOUTOR_SONO_1416183974319185SK1416183974BNome do Livro: Doutor Sono
Nome Original: Doctor Sleep
Autor(a): Stephen King
Tradução: Roberto Grey
Editora: Suma de letras
ISBN: 9788581052434
Ano: 2014
Páginas: 480
Avaliação: 3/5
Onde Comprar: Submarino, Compare

 

Mais de trinta anos depois, Stephen King revela a seus leitores o que aconteceu a Danny Torrance, o garoto no centro de O iluminado, depois de sua terrível experiência no Overlook Hotel. Em Doutor Sono, King dá continuidade a essa história, contando a vida de Dan, agora um homem de meia-idade, e Abra Stone, uma menina de 12 anos com um grande poder.
Assombrado pelos habitantes do Overlook Hotel, onde passou um ano terrível de sua infância, Dan ficou à deriva por décadas, desesperado para se livrar do legado de alcoolismo e violência do pai. Finalmente, ele se instala em uma cidade de New Hampshire, onde encontra abrigo em uma comunidade do Alcoólicos Anônimos que o apoia e um emprego em uma casa de repouso, onde seu poder remanescente da iluminação fornece o conforto final para aqueles que estão morrendo. Ajudado por um gato que prevê a morte dos pacientes, ele se torna o Doutor Sono.
Então Dan conhece Abra Stone, uma menina com um dom espetacular, a iluminação mais forte que já se viu. Ela desperta os demônios de seu passado e Dan se vê envolvido em uma batalha pela alma e sobrevivência dela. Uma guerra épica entre o bem e o mal, uma sangrenta e gloriosa história que vai emocionar os milhões de fãs de O Iluminado e satisfazer os leitores deste novo clássico da obra de King.

 

“O homem que escreveu Doutor Sono é muito diferente do alcoólatra bem-intencionado que escreveu O iluminado…” (nota do autor, página 474)

Stephen King já tem experiência com continuações inesperadas. “A Torre Negra” teve 7 volumes publicados entre 1977 e 2005, a parceria com Peter Straub trouxe “O Talismã” em 1984 e 27 anos depois os dois lançaram uma continuação, chamada “A Casa Negra”. Agora, depois de 35 anos do lançamento de “O Iluminado”, um de seus livros mais célebres, Stephen King continua a história de Dan Torrance, sobrevivente do Hotel Overlook, com Doutor Sono.

Muitos livros têm como cena final os personagens se afastando do local da tragédia, aliviados por terem sido resgatados e felizes apenas por estarem vivos, com uma vaga impressão de que tudo vai ficar bem. Stephen King nos lembra que as marcas deixadas por traumas perduram por mais que se tente fugir do medo e do arrependimento, e são os problemas psicológicos que criam obstáculos a uma vida satisfatória.

Para entender como Dan chegou ao fundo do poço sua história é contada aos poucos, geralmente com os arrependimentos de cada bebedeira. Na adolescência ele descobriu que o álcool minimizava seu dom e que a ressaca era muito melhor do que as visões que tinha como iluminado. Com a sombra do alcoolismo do pai, Dan se entrega ao vício por vários anos até que seu velho amigo de infância, o fantasma de Tommy, reaparece e o guia até uma pequena cidade em New Hampshire. Lá Dan tenta, mais uma vez, recomeçar a vida. Lembrando as muitas conversas que teve com Dick Halloran para guiar seu caminho, Dan entra em contato com a jovem Abra Stone, uma menina que desde bebê manifesta incrível capacidade e poder muito além do que Dan jamais teve.

Já o grupo conhecido como “Verdadeiro Nó” se alimenta da essência expirada por um iluminado ao morrer. Quanto mais dor e medo o iluminado experimentar perto de seus momentos finais, melhor a qualidade do “vapor” que poderá ser consumido, o que ajuda os membros do Verdadeiro Nó a manter a juventude e os poderes ao longo dos séculos. Alguns dos integrantes são tão velhos que já andavam entre os humanos quando eles ainda adoravam árvores na Europa. Todos os integrantes eram também iluminados que em algum momento experimentaram o vapor e se tornaram predadores da própria espécie, sentindo-se como predestinados e escolhidos de uma raça superior. Nos Estados Unidos, eles vivem em trailers, rodando por todo o país atrás de vítimas sem atrair atenção. Uma das lendas que se propagam entre o grupo é que recentemente menos crianças nascem com esse dom e o alimento está ficando mais escasso. A líder, Rosie Cartola, já havia encontrado Abra psiquicamente, mas decidiu esperar que os poderes da menina amadurecessem, para que gerassem mais vapor. Quando Dan e Abra descobrem que o Verdadeiro Nó está cada vez mais próximo da menina, terão que mantê-la viva enquanto ajudam outras vítimas do grupo.

Carregar o titulo de “a continuação de O iluminado” é um fardo pesado. Stephen King acertou ao sequer tentar imitar a sua escrita de décadas antes; escreveu Doutor Sono mais próximo do estilo de suas obras contemporâneas, usando frases entre parênteses em parágrafo separado para repetições ou para pensamentos soltos. O desenvolvimento dos personagens é eficiente, mas a narrativa é um pouco amarrada pelas paranóias contemporâneas, faltando o suspense que era tão característico em “O iluminado”, sem a mesma liberdade de criação e a completa ausência de preocupação com o “politicamente correto”. Mesmo com a iminência do perigo, os conflitos são resolvidos com menos empecilhos do que o esperado. Há uma pequena surpresa guardada para o final, mas parece um remendo na narrativa e tem pouca sustentação. Algumas pontas soltas, que estavam no cerne do desenvolvimento da obra, são simplesmente largadas sem conclusão, o que é frustrante em vários níveis.

A nota do autor ao final do texto reflete um pouco a insatisfação do próprio King com o texto, com a mesma justificativa que já vi em outros livros razoáveis dele de que esta era “uma história que precisava ser contada”. Há ainda uma alfinetada ao filme do Kubrick, cuja resposta podemos apenas supor: “Doutor Sono” não é um livro que Kubrick teria interesse em levar aos cinemas. 

A edição da Suma de Letras é excelente, segue o mesmo padrão gráfico das demais obras recentes de Stephen King, com lombada colorida e as mesmas dimensões de todos os exemplares, para ficar bonito na estante. O espaçamento amplo, a fonte grande e o papel amarelado deixam a leitura confortável. A revisão é competente, só encontrei um erro insignificante.

Leitura obrigatória para todos os fãs do autor, “Doutor Sono” pode desagradar aqueles que são excessivamente apegados aos trabalhos mais antigos de Stephen King, mas não será um choque para quem está habituado aos títulos recentes como “Sob a Redoma” e “Ao Cair da Noite”.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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