Resenha: Contos de Grimm, por Philip Pullman
Nome do Livro: Contos de Grimm – para todas as idades
Nome Original: Grimm Tales for young and old
Autor(a): Philip Pullman
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Alfaguara
ISBN: 9788579623363
Ano: 2014
Páginas: 416
Avaliação: 4/5
Onde Comprar: Submarino
Em Contos de Grimm para todas as idades, considerado pelo jornal britânico Sunday Times um dos melhores livros de ficção do ano, Philip Pullman recria seus contos de fadas preferidos. Afirmando que conservar uma única versão dessas histórias é como prender um pássaro numa gaiola, o autor toma a liberdade de acrescentar e inventar detalhes que tornem a narrativa mais fluida e divertida. Ao final de cada uma delas, um breve comentário sobre personagens, curiosidades, versões semelhantes e finais alternativos traz ainda mais riqueza para essas clássicas histórias.
Ao longo dos 53 contos reunidos na coletânea, belos príncipes e princesas, velhas feiticeiras, madrastas cruéis e animais falantes transitam entre o estranho e o absurdo. Estão presentes clássicos como Branca de Neve, Cinderela, João e Maria e Chapeuzinho Vermelho, e histórias menos conhecidas, mas não menos surpreendentes, como O junípero, Rumpelstiltskin e Hans Meu Ouriço.
A maestria e o cuidado de Pullman conferem novo vigor à preciosa obra dos irmãos Grimm, repleta de histórias fantásticas sobre amor, amizade e coragem, que há séculos encantam leitores de todas as idades.
“Tudo o que me propus a fazer neste livro foi contar as melhores e mais interessantes histórias dos irmãos Grimm, tirando do caminho qualquer coisa que pudesse impedi-las de fluir livremente. Não quis colocá-las em cenários modernos, produzir interpretações pessoais ou compor variações poéticas dos originais; tudo o que busquei foi produzir uma versão que fosse límpida como água. A questão que me orientou foi: Como eu mesmo contaria esta história, se a ouvisse de outra pessoa e quisesse passá-la adiante? Philip Pullman
Posso dizer que o livro cumpre aquilo que se propõe: recontar os contos mais interessantes dos irmãos Grimm ao leitor jovem ou adulto. Confesso que esperava ver mais do estilo de narrativa de Philip Pullman, um de meus escritores favoritos devido a trilogia Fronteiras do Universo, mas isso não acontece no livro. Os contos foram reescritos de maneira funcional, sem que o contador apareça e sem que saibamos sua opinião sobre os acontecimentos, mas ao final de cada conto encontramos Pullman com seus comentários, o que torna interessantes mesmo alguns dos contos mais enfadonhos.
Muitas das histórias neste livro são conhecidas por terem sido adaptadas para filmes e desenhos animados, como Branca de Neve, Bela Adormecida, Rapunzel, mesmo que nos contos os nomes dessas histórias sejam diferentes, e raramente os personagens recebem nomes. Por serem bem conhecidos, os contos não trazem muita novidade e seguem o estilo de narrativa oral, onde algumas vezes há erros de continuidade e soluções absurdas para o desfecho. É importante lembrar que essas histórias foram criadas e adaptadas por várias pessoas antes de chegar a bibliografia indicada por Pullman ao final de cada um dos contos, onde está a sua origem antes de serem escritas pelos irmãos Grimm. A repetição também se faz presente, com os personagens cometendo o mesmo erro por vezes seguidas ou repetindo as mesmas falas para realizar algum acontecimento mágico do conto, característica de outro clássico da literatura: O livro das 1001 noites.
Vários contos, devido a quantidade de vezes que foram recontados, filmados ou adaptados, serão enfadonhos à leitura já que acontece sempre o esperado: um príncipe ou princesa casará com o personagem principal. Outros, porém, são histórias inventivas e, ao menos para mim, inéditas. Esse é o caso de “Milpeles” que além do final contato pelos Grimm ganha um final extra inventado pelo próprio Pullman, que é muito melhor que o original como o próprio autor constata ao dizer que acha que “funcionaria bastante bem” (pág 262).
“Gosto desse conto por causa da simplicidade e potência de sua forma. Quando um conto é tão bem composto que a linha narrativa parece não ser capaz de tomar nenhum outro rumo e quando ele toca cada evento importante encaminhando para o final, só se pode curvar a cabeça em respeito ao contador.” (pág 161)
A edição da Alfaguara é linda. A capa contendo o branco, vermelho e preto (com variação para cinza) ajuda a entrar no clima do livro. As páginas são amareladas com espaçamento, tamanho da fonte e margem ótimos para a leitura. A revisão está impecável e não identifiquei nenhum problema que pudesse ser atribuído à tradução, pois quando existe algum erro de continuidade na história o autor comenta que era assim no original.
Para quem gosta dos famosos “contos de fadas”, mesmo que no livro não tenha nenhuma fada, vai gostar de conhecer a origem de seus contos favoritos e de descobrir novos que também dariam bons filmes da Disney. Outros vão gostar dos contos mais sombrios, voltados ao público adulto, onde coisas terríveis devem ter acontecido mesmo que não seja mencionado exatamente o quê. Este é um livro que vale a pena ser lido e que consiste em uma tradição que inspirou muitas gerações e certamente levou várias pessoas a se apaixonar por histórias e a contar as suas próprias em livros.