Resenha: Cloud Atlas, por David Mitchell
Por Jairo Canova
Nome Original: Cloud Atlas
Autor(a): David Mitchell
ISBN: 97808112984415
Editora: Random House
Páginas: 514
Ano: 2012
Nota: 4,5/5
Onde Comprar: Livraria cultura
Sinopse com tradução livre a partir do Skoob:
Um relutante viajante cruzando o Pacífico em 1850; um compositor deserdado levando uma vida precária na Bélgica do período entre as guerras mundiais; uma jornalista na Califórnia do governo Reagen; um editor fugindo de seus credores; uma garçonete modificada geneticamente modificada que está no corredor da morte; e Zachry, um jobem das ilhas do Pacífico presencia a queda da ciência e da civilização – o narrador de Cloud Atlas escuta cada um desses ecos pelos corredores da história e seus destinos mudam de maneiras diferentes.
Em 2012 fui assistir “A Viagem” no cinema, título no Brasil para o filme baseado nesse livro. Depois das quase 3 horas de filme uma pessoa na minha fileira disse “Não entendi nada”. Também não é fácil explicar rapidamente a história do livro. Basicamente são seis narrativas ao longo de vários séculos, com pequenos detalhes para conectá-las, onde cada uma se torna essencial para as outras. A adaptação para o cinema teve forte campanha publicitária, vi o trailer diversas vezes na TV, mas poucas pessoas assistiram no Brasil – talvez em função da sinopse complexa. A editora Companhia das Letras lançará “Cloud Atlas” no Brasil, só ainda não há data definida.
O primeiro personagem apresentado é Adam Ewing, escrevendo o diário das suas viagens por várias ilhas do Oceano Pacífico no ano de 1850. Em uma dessas paradas ele se vê envolvido com um escravo que tenta fugir do cativeiro.
Então pulamos para 1931 e as cartas que Robert Frobisher, um excelente músico e pilantra, escreve para seu amigo e ex-amante Rufus Sixsmith. Ele narra sua fuga da Inglaterra, indo para a Bélgica encontrar um famoso compositor aposentado, Vyvyan Ayrs, que o aceita como empregado para escrever as composições. Frobisher ainda mantém um caso com a esposa de Ayrs, Jocasta. Também encontra parte de um interessante livro, chamado “O diário do Pacífico de Adam Ewing”, que foi rasgado na metade. Em certa noite Ayrs lhe conta um sonho que teve, sobre um restaurante onde todas garçonetes eram parecidas.
A próxima narrativa se passa em 1975, quando a jornalista Luisa Rey segue pistas deixadas por Sixsmith para descobrir a conspiração que esconde problemas graves em um reator nuclear. Após Sixsmith ser assassinado Luisa encontra as cartas de Robert Frobisher e conhece sua obra-prima: o sexteto Cloud Atlas (que fica melhor no filme, onde ouvimos parte da composição).
Já nos dias atuais (a data não é especificada) o editor oportunista Timothy Cavendish aproveita que durante uma recepção um de seus autores assassina um crítico literário para fazer uma pequena fortuna, que logo acaba e o deixa com ainda mais dívidas do que antes. Na mais escrachada das histórias do livro, Cavendish procura a assistência do irmão mais novo, que o engana e prende em um sanatório. Em certo ponto, Cavendish recebe uma novela intitulada (tradução livre) “O primeiro mistério de Luisa Rey”, com linguagem semelhante ao que vimos no capítulo anterior.
A partir da história de Sonmi-451 (nome inspirado na novela Farenheit-451 de Ray Bradbury) o livro abandona os maneirismos de época e se foca na distopia. Sonmi-451 é uma garçonete de uma rede de restaurantes, que está dando seu depoimento para um “arquivista”. Ela é um clone, uma entre diversos modelos, que tem uma vida pré-ordenada exclusivamente para o trabalho. Com as diversas perguntas do arquivista e as respostas de Sonmi percebemos muito da personalidade e objetivos de cada um. Em certo ponto, Sonmi descreve um antigo filme chamado (tradução livre) “A provação de Timothy Cavedish” e o impacto que a rebelião do personagem teve nela.
A última história, cronologicamente, também é a de mais difícil compreensão. Trata-se do ancião Zachry contando histórias da sua juventude, onde o povo pacífico da grande ilha do Havaí é atacado pela violenta tribo Kona. A Deusa adorada por eles é Sonmi, da qual conhecem algumas poucas palavras de sabedoria.
A partir desse ponto da narrativa, as histórias são retomadas em ordem inversa (Somni, Cavendish, Rey, Frobisher e Ewing) adicionando mais detalhes que as conectarão. É muito criativa e difícil a escolha de David Mitchell em contar cada uma dessas histórias em formatos literários diferentes, em ordem: diário, cartas, novela, roteiro, entrevista e narrativa. Cada personagem tem linguagem e características próprias (o que inclui gírias da época). Separadamente seriam apenas seis contos, mas reunidos de maneira alternada se tornam um grande quebra-cabeças, complexo em seus detalhes.
Certamente esse foi o livro mais difícil que já li em inglês, principalmente os capítulos de Ewing e Zachry, que são quase incompreensíveis (na verdade, já ter visto o filme ajudou bastante a entender a ideia geral da narrativa, ou eu poderia ter desistido depois das primeiras páginas). A complexidade das expressões de época será um desafio à parte para a tradução, mas é exatamente um dos elementos da riqueza do texto. Outro ponto significante é a adequação da linguagem a cada personagem: a natureza inquisitiva de Luisa Rey sempre a coloca em problemas maiores do que imagina; em Frobisher percebemos a todo momentos a malandragem e a linguagem das cartas reflete bem o temperamento arbitrário do personagem.
Em geral não gosto de livros com a capa do filme, esta de Cloud Atlas parece demais um pôster padrão, e quando comparado a essa outra capa até valeria a pena perder a publicidade do longa para ter uma imagem melhor.
Aguardamos ansiosamente o lançamento no Brasil, torcendo para que não usem o título “A Viagem”. Até lá podemos assistir o filme.
Nossa, Jairo! Que coragem…
Eu já tentei ver esse filme umas três vezes, mas sempre acabo perdida na história e acabo desistindo!
Saber que há um livro sobre essa história me deixou mais animada, mas não é uma história que eu leria em inglês!! hehehe
Beijos
Camis
hahaha obrigado, só os primeiros minutos de filme são confusos, quando tudo começa a fazer sentido vale a pena!
Realmente o inglês quase me fez desistir várias vezes da leitura, só por já ter visto o filme que pude entender e continuar mesmo.
abraço!