Resenha: Cinco esquinas, de Mario Vargas Llosa
Nome do Livro: Cinco esquinas
Nome Original: Cinco esquinas
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
Autor(a): Mario Vargas Llosa
ISBN: 9788556520227
Páginas: 216
Editora: Alfaguara
Ano: 2016
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A amizade de Marisa e Chabela se transforma quando, presas tarde da noite na casa de uma delas, as duas se veem sozinhas, deitam-se na mesma cama e, sem conseguir dormir, dão asas aos seus mais reprimidos desejos. Quique e Luciano, seus maridos e amigos de longa data, são empresários peruanos de sucesso e não desconfiam de nada. Na verdade, Quique não tem tempo para isso. Ao receber a visita de um jornalista que possui fotos comprometedoras, ele se vê enredado num submundo de intriga e violência controlado pelas mais altas esferas do poder. Parte romance de costumes — na melhor tradição de Travessuras da menina má — parte suspense, Cinco esquinas é um livro envolvente, que retrata uma sociedade às voltas com a corrupção e o terrorismo, acossada pelo jornalismo sensacionalista, mas que luta até o fim pela liberdade.
Desde que venceu o Prêmio Nobel de Literatura, em 2010, Mario Vargas Llosa se tornou figura de destaque na literatura mundial e qualquer título que publique terá atenção instantânea. Mas muito antes do Nobel Llosa concorreu à presidência do Peru em 1990 e perdeu para Alberto Fujimori. Fujimori se manteve no poder até 2000 e na prática seu governo foi uma ditadura. Seu braço direito foi Vladimiro Montesinos, também conhecido como Doutor, que foi acusado de comandar torturas, assassinatos, sequestros, extorsões e pagamentos de propina.
Cinco esquinas é uma obra de ficção que se insere exatamente nesse período a partir de 1990 e cita constantemente o presidente Fujimori, inclusive o Doutor aparece como um dos personagens.
A obra é dividida basicamente em três núcleos de personagens cujas histórias se desenvolvem independentemente e afetam uns aos outros. Quique e Luciano são amigos de infância e pessoas ricas e influentes em Lima. Quique é um engenheiro e minerador, recatado e tímido. Luciano é um advogado renomado, um legítimo cavalheiro. Suas esposas, Marisa e Chabela, se tornaram amigas com a convivência. Em uma noite que Chabela está na casa de Marisa e não pode sair para não infringir o toque de recolher, decide passar a noite com a amiga, já que Quique estava viajando. As duas dividem a cama e durante a noite, naturalmente, começam um caso.
Em outra parte da cidade o idoso Juan Peineta é um recitador de poemas aposentado, ele nutre um profundo desgosto por Rolando Garro, o proprietário de uma pequena revista chamada Revelações, que é parte da imprensa marrom que se desenvolveu durante o governo Fujimori. Mais tarde se descobriu que o presidente apoiava essas publicações para detratar opositores e servir de vantagem em extorsões. Juan Peineta é um personagem trágico, quando não consegue mais trabalho como recitador ele é convidado para assumir um papel de comediante em um popular programa chamado Os três piadistas, onde sempre que começava a recitar um poema era interrompido com um tapa, algo extremamente humilhante para alguém que idolatra a poesia. Mas uma forte campanha na revista Revelações contra Peineta termina com a demissão dele do programa e uma richa duradoura.
Por fim, o último núcleo são os personagens envolvidos com a revista Revelações, seu proprietário Ronaldo Garro que apesar de todos os seus defeitos é visto com um profissional competente por outros jornalistas, e em especial a Baixinha, uma de suas mais fiéis alunas. Garro se depara com fotos de uma orgia com prostitutas que Quique participou e decide usar esse material para conseguir dinheiro para a revista.
Llosa mostra todo seu potencial de laureado do Nobel no capítulo XX, adequadamente intitulado “O redemoinho”, que em um ponto ideal de tensão o autor desenvolve a cada parágrafo, sem nenhum tipo de transição, a ação simultânea de diversos personagens. A cada poucos parágrafos a ação muda de um núcleo para outro, causando um efeito cinematográfico. Além do timing na narrativa, colocar um capítulo com essa estrutura quase no fim do livro, quando o contexto de cada personagem já é familiar, ajuda o leitor a não se perder.
Nos anos 1990 no Peru eram comuns os atos de terrorismo, propina, apagões de energia elétrica, sequestros e assassinatos. Quique, Luciano, Chabela e Marisa pertencem a uma pequena elite social e econîmica do Peru e ainda assim sofrem constantemente dos problemas que o país enfrentava, mas fica bem claro em várias partes do livro que eles também se beneficiavam da corrupção no governo ao mesmo tempo que pessoalmente sequer cogitam que estivessem fazendo algo errado ou cometendo um crime (a maioria dos brasileiros pode facilmente reconhecer esses sintomas).
A edição da Alfaguara seque o padrão de todos os outros livros da editora, que tem um tamanho confortável, fonte adequada e não encontrei erros de revisão.