Resenha: Os Caçadores de Nuvens, de Alex Shearer
Nome do livro: Os Caçadores de Nuvens
Série: Os Caçadores de Nuvens Livro 1
Nome Original: The Cloud Hunters
Autor(a): Alex Shearer
Tradução: Ana Carolina Mesquita
Editora: Farol
ISBN: 9788582770528
Páginas: 312
Ano: 2014
Nota:
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Em um mundo dominado pela conformidade, os caçadores de nuvens são figuras excêntricas, que vivem à margem. Para Christien, eles representam aventura e independência, tudo aquilo com que ele sempre sonhou. Os caçadores de nuvens é uma história rica e cativante sobre um garoto que vai em busca daquilo que o move e que o guiará pelo resto da vida…
Desde que Homero escreveu o clássico absoluto “Odisséia” inúmeros autores publicaram livros de aventuras em alto mar, para citar alguns: Jules Verne com seu “Vinte mil léguas submarinas”, Herman Melville e o épico “Moby Dick” e em português Luis de Camões com o temido “Os lusíadas”. Com um passado tão rico no gênero Alex Shearer teria uma difícil tarefa para escrever um bom livro sobre navegação, mas também excelente material de pesquisa e referência. O autor certamente fez seu dever de casa, entregando um livro moderno que faz algumas referências extremamente indiretas a esse rico passado de aventura e emoção.
“Os caçadores de nuvens” é um dos melhores livros infantojuvenis que li recentemente. O cenário de ficção científica consegue aproveitar os melhores elementos dos grandes livros de aventura e entregar uma obra que agradará aos leitores contemporâneos de todas as idades.
O livro conta a história de Christien, um menino de família abastada que vive em uma ilha. Séculos atrás, colonizadores abandonaram o velho mundo, a Terra, que estava poluído, destruído e quase inabitável. Encontraram esse planeta onde era possível viver, que tem o núcleo exposto chamado de Sol e ao seu redor orbitam milhões de ilhas de diversos tamanhos. A atmosfera é tão densa que se pode nadar em qualquer lugar, ou navegar de uma ilha para outro pelo espaço usando navios movidos a energia solar. A água é o produto mais precioso que existe e uma das formas de consegui-la é caçando nuvens. Esse é o trabalho de uma tribo nômade que viaja por todo o mundo atrás de nuvens para condensar e vender a água.
Um pequeno navio de caçadores de nuvens atraca de maneira mais ou menos permanente na ilha que Christien vive para que uma menina, Jenine, possa frequentar a escola. Os caçadores de nuvens são considerados párias, nômades bandidos, ladrões e assassinos, mas para Christien eles são misteriosos, aventureiros fantásticos que fazem o que querem. Christien e Jenine se tornam mais ou menos amigos, até que ele finalmente consegue convencê-la a ir com eles buscar água durante um final de semana. Assim começam as aventuras de Christien com os caçadores de nuvens.
“Acho que o céu era como um livro para ele: um vasto volume caleidoscópico com páginas inumeráveis que relatava uma história sem fim e em constante mudança.” (página 80)
O livro é separado em capítulos relativamente curtos de até 20 páginas, que dão um bom ritmo à leitura. A insegurança de Christien é palpável e justificada, mas não chega a ser irritante como geralmente ocorre com personagens que se sentem inferiores. As observações do menino sobre o universo e a natureza livre dos caçadores de nuvens são o ponto alto do livro. São reflexões simples e contundentes de um ponto de vista ainda inocente. A própria filosofia de vida dos caçadores é muito interessante: eles não tiram a vida de um animal a menos que seja para se alimentar e nunca mais do que o necessário, suas casas são seus navios, por isso estão em casa onde quer que estejam, ao mesmo tempo que não são bem vindos na maioria das ilhas e sua cultura os separa das outras pessoas.
Outro ponto muito interessante são os paralelos que o autor traça entre o Oriente Médio e as Ilhas Proibidas. Nestas ilhas, centenas delas situadas lado a lado, em cada uma algo é proibido e a pena pelo descumprimento é a morte. Essas ilhas também são ricas em água, o bem que substituiu o petróleo como produto mais importante do mundo, mas mesmo assim estão sempre em guerra umas com as outras. Para citar alguns exemplos do que é proibido em cada ilha: em algumas são proibidos cães, ou andar com o rosto descoberto, ou usar chapéu, ou não ser da religião dominante.
Me surpreendi bastante pela boa qualidade do texto, que facilmente poderia ser uma história superficial e descartável que seria esquecida até semana que vem. “Os caçadores de nuvens“ provou ser um livro incrível que vale a pena conhecer.
Seria um desperdício manter uma universo tão rico em um livro enquanto tantos outros autores que tem tão pouco a dizer ganham trilogias. Alex Shearer já publicou a continuação da série, chamada “Sky Run” (ou “A corrida no céu”) e tem como protagonistas gêmeos órfãos que vão embarcar numa aventura para poder ir à escola.