Resenha: Caçadores de nazistas, de Damien Lewis
Nome do livro: Caçadores de nazistas – A ultrassecreta unidade SAS e a caça aos criminosos de guerra de Hitler
Nome Original: The Nazi hunters
Autor(a): Damien Lewis
Tradução: Gilson Cesar Cardoso de Sousa
Editora: Cultrix
ISBN: 9788531613524
Páginas: 384
Ano: 2016
Nota:
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Damien Lewis nos conta uma história incrível, até então inimaginável, do capítulo mais secreto da história do Serviço Aéreo Especial (SAS) britânico. Oficialmente, a unidade de forças especiais de elite mais secreta do mundo foi dissolvida no final da Segunda Guerra Mundial e não voltou à ativa até a década de 1950. Lewis nos revela que, na realidade, o SAS nunca foi extinto. A unidade continuou existindo sob o comando do próprio Winston Churchill e foi mantida em segredo até mesmo do governo, sendo paga e equipada graças a um orçamento clandestino. Pela Europa devastada, os Caçadores perseguiram os criminosos de guerra e os comandantes da SS dos campos de concentração e descobriram, antes de todos, os horrores do regime de Hitler e alguns dos mais tenebrosos segredos da nova guerra: a Guerra Fria e a crescente ameaça da Rússia de Stalin.
As histórias de bravura e honra durante a II Guerra Mundial já renderam inúmeros livros e filmes e é nesse espírito que Damien Lewis busca resgatar mais um capítulo importante deste conflito, os homens e mulheres que lutaram e morreram pelo que acreditavam.
Criado em 1941 a mando de Winston Churchill, o SAS (Special Air Service) era uma unidade que a princípio operou no norte da África, patrulhando e atuando na área de comunicações. Seus membros logo foram desdenhados pelo exército regular pois eram tidos como um bando indisciplinado que não agiam como soldados e faziam o que bem entendiam. De fato, a hierarquia era muito mais versátil dentro do SAS, mas isso também tornava a unidade mais elástica para se adaptar a missões extraordinárias.
O livro começa com a descrição, levemente romantizada, da Operação Loyton que o SAS participou em 1944 para penetrar nos Vosges, uma região entre a França e a Alemanha de grande importância estratégica. A guerra já tinha sido deslocada do norte da África para a França e eventualmente seria contida na Alemanha. Soldados de outros destacamentos que se identificavam com as características do SAS foram incorporados até o último momento. O objetivo da missão era cortar a retaguarda alemã e dificultar a chegada de suprimentos, para impedir que os soldados que estavam na França ocupada conseguissem voltar para a Alemanha depois do desembarque de tropas americanas na Normandia (conhecido como Dia D). Para isso, o SAS deveria sabotar linhas de trem, perseguir os oficiais nazistas na região e colaborar com a resistência francesa. Uma unidade pequena, que pudesse se mover com facilidade no terreno irregular e assolar o inimigo com táticas de guerrilha foi mandada de avião e pularam de pára-quedas. Desde o início a operação foi problemática, com soldados feridos e armamento perdido. Mas a alta capacidade de adaptação da SAS permitiu que a missão continuasse, inclusive por meses além do tempo inicialmente previsto. A falta de munição, rádios e alimentos era problema constante.
Com o subtítulo escolhido e a sinopse, imaginei que o livro falasse prioritariamente sobre o período pós-guerra e a investigação e captura dos nazistas que tentaram escapar da justiça. Entretanto, mais da metade do livro trata da operação Loyton ainda em 1944, com grande esforço nos detalhes de toda a missão e suas dificuldades. Só a partir da página 225 (após as fotos) que a caça aos nazistas realmente começa e não tem tantos detalhes por abranger um período muito maior.
Com o fim da guerra, os oficiais do SAS (especialmente o major Barkworth) se empenharam primeiramente em descobrir onde estavam os corpos de seus companheiros mortos ou executados durante a guerra, para então perseguir os responsáveis e levá-los a julgamento. Com o inesperado sucesso e várias prisões, eventualmente o escopo da missão aumentou para abordar também outros casos. O mais intrigante é que oficialmente o SAS foi desmobilizado em 1945 e os homens teoricamente voltaram para suas unidades originais. Mas com o apoio de Winston Churchill (que já não era mais primeiro ministro, mas continuou fornecendo ajuda por influência) a unidade continuou a operar com poucos recursos e sem autorização. Na prática, eles tinham apenas a própria consciência para os guiar e não se reportavam a ninguém, sequer podiam circular na área britânica dentro da Alemanha, mas essas pequenas burocracias internas do exército nunca impediram o SAS de atingir seus objetivos.
O autor deixou pendentes algumas análises, as informações aparecem em trechos diferentes do texto e cabe ao leitor fazer as conexões; por exemplo: o filho de Winston Churchill, Randolph Churchill, fazia parte do SAS no início de sua formação, o que pode explicar porque outros ramos do exército viam o SAS como um bando indisciplinado e um brinquedinho para o filho do primeiro ministro dizer que fez algo durante a guerra. Infelizmente só o tempo poderia dizer quão produtivos seriam os resultados daquela unidade e mesmo esses esforços foram soterrados nos documentos classificados como secretos.
A edição lançada pela Cultrix é incrível, vem no mesmo formato dos demais livros da editora que são muito confortáveis de segurar, a letra é de bom tamanho e o papel de boa qualidade. As fotos no meio do exemplar dão faces mais humanas aos soldados, tanto aliados quanto nazistas. Não encontrei erros de digitação, o que é mais um ponto extra.
Livro recomendadíssimo para os interessados no período da II Guerra Mundial. Ele adiciona alguns traços de narrativa para o texto ficar menos maçante e mais fluente. Por último fica um trecho que poderia ser engraçado se não fosse trágico: durante a operação Loyton um francês achou que um pacote de explosivo plástico fosse queijo e morreu envenenado com o arsênico.