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Resenha | Boitempo – Menino Antigo, de Carlos Drummond de Andrade

Por Mauro Antonio Evaristo

Eu nunca li nada de Drummond! Mas vale a pena ler de novo.

Então, Minha Cara, Meu Caro!

“Boitempo – Menino Antigo” é ideal também pra você navegar na Vila da infância de Carlos Drummond de Andrade, na Belo Horizonte da mocidade, hoje carinhosamente chamada de BH, e, o vasto mundo que, pasmem, á época só chegava via jornal, “ilustrado e longínquo “.

Assim que tomei gosto por poesia dividia minha atenção entre tantos poetas e poetisas com o muito que via, lia, ouvia de Drummond, passeando por bibliotecas das escolas, conversas com professoras, professores e vez ou outra raros amigos, numa curiosidade que se misturava fascínio a formação de caráter literário. Falar de Drummond é falar de Minas, de saudades e tantos belos sentimentos que jamais se perdem.

Boitempo – é um portmanteau – palavra-valise, também referida como amálgama ou mot-valise, termo na Linguística que se refere a uma palavra ou morfema resultante da fusão de duas palavras, geralmente uma perdendo a parte final e a outra perdendo a parte inicial (composição por aglutinação) de boi e tempo que remete à infância rural do poeta; também título de um dos poemas:

“Boitempo
Entardece na roça
de modo diferente.
A sombra vem nos cascos,
no mugido da vaca
separada da cria…”

Mais de duzentos poemas em que o poeta/repórter/Fotógrafo de uma época retida nas retinas do menino moço homem maduro que não esqueceu suas raízes nem a beleza dos sentimentos desperto neste belo imenso viver de não “Esquecer para lembrar” – parte final da trilogia composta por “Boitempo & a falta que ama (1968), Menino Antigo (1973) e Esquecer para lembrar (1979) – da fase mais madura de CDA.

Aqui em “Boitempo – Menino Antigo encontraremos motivos de sobra para voltarmos ao tempo em que ser menino na Vila de sua infância, é o tempo que se deseja imutável embora o fascínio do tempo esteja guardado em seu passar. Com Drummond chegaremos a respirar a pureza de um ar que só os poetas podem filtrar trazendo a nós a sensação de querer sempre mais num tempo que persiste e insiste em passar pois, cabe a nós parar e ver nos olhos desse menino que também somos moços presos em tempos loucos que aos poucos a poesia se atreve em libertar.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG), em 1902. Estreou em 1930, com Alguma poesia, e nos cinquenta anos seguintes publicou obras como Sentimento do mundoA rosa do povoClaro enigma e outros. Morreu no Rio de Janeiro em 1987, aos 84 anos.

(Fonte: Companhia das Letras)

Cabe a cada um de nós amantes amados da Poesia torná-la doce aos nossos olhos e olhares interiores que carregamos em nós sendo que muitos sequer viveram no interior das Gerais, mas quem ama a Poesia sabe o quanto ela nos ama e quem quiser pode viajar, navegar, se entregar, saborear lentamente na leveza que passa frente aos nossos olhos na estação chamada Boitempo onde um cicerone de nome Carlos Drummond de Andrade nos levará de volta ao infinito de um tempo que jamais deveria passar.

Spoiler: Drummond se foi, sua poesia não.

Capa Boitempo Menino Antigo CArlos Drummond de Andrade Companhia das Letras

Ficha Técnica

Boitempo – Menino Antigo
Capa: Raul Loureiro
Páginas: 336
Acabamento: Brochura
Lançamento: 01/06/2017
Selo: Companhia das Letras.

Mauro Antônio Evaristo é autor dos livros:
Banco (Frutificando – Editora Koinonia, 2020)
Namastê (Editora Protexto – 2013)
Cisne Negro (Grupo Scortecci, 1992)
Simples Poesia (Grupo Scortecci, 1990)

2 comentários sobre “Resenha | Boitempo – Menino Antigo, de Carlos Drummond de Andrade

  • Parabéns!!! Aprendi ao longo do tempo que as leituras nós transportam para varios lugares. Enquanto lia sua resenha, me vieram com muita alegria, lembranças dos tempos de criança. Gratidão

    Resposta
  • Obrigado, Silvio!
    Drummond tem essa facilidade de transportar a gente. Precisei fechar o livro várias vezes pra não perder a concentração. Senti como se estivesse ao lado assistindo ao que ele falava. Essa é uma das tantas virtudes da Poesia.
    Tudo de bom pra você! Muito Bom Mesmo.

    Resposta

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