Resenha: A Floresta Sombria – Cixin Liu

Ficha Técnica
Título original:  The Dark Forest
Páginas: 472
Acabamento: Brochura
Lançamento: 2017
ISBN: 9788556510501
Selo: Suma

Depois de “O problema dos três corpos”, a humanidade se prepara para a iminente invasão alienígena. A Organização Terra-Trissolaris — formada por habitantes da Terra que traíram seus iguais para se associar aos alienígenas — pode ter sido derrotada, mas a presença de partículas subatômicas, os sófons, revela todo o conhecimento da humanidade para os invasores, e as defesas terráqueas são um livro aberto para os trissolarianos. Nesse contexto, em que só a mente humana é segura, é montado o Projeto Barreiras: quatro pessoas serão encarregadas de pensar em uma estratégia para a salvação do mundo. A Barreira está completamente isolada, protegendo seus pensamentos do restante da humanidade, mas até que ponto é possível guardar um segredo?

Me agrada muito a ideia de um autor chinês ter tanto destaque no campo da da ficção científica. O primeiro livro desta trilogia é excelente e, embora o segundo volume tenha um ritmo um tanto quanto inconstante, o saldo final é bastante positivo. Gosto muito da perspectiva de tempo e de espaço que a obra como um todo apresenta, pois não se trata de uma invasão alienígena que, em um belo dia de céu azul, chega de surpresa pulverizando nossos principais monumentos; no contexto proposto por Cixin Liu, a raça humana já sabe que os Trissolarianos vão chegar em algumas centenas de anos e, portanto, precisa planejar suas ações tendo em vista uma perspectiva longínqua de realização. E se esses planos se mostrarem obsoletos quando chegar o momento?

Os Trissolarianos têm a vantagem de estar em todos os lugares com seus sófons, partículas subatómicas com as quais conseguem até mesmo frear o progresso da nossa tecnologia de base. Porém, por mais que eles sejam capazes de nos vigiar e, até certo ponto, interferir em nosso cotidiano, não podem penetrar em nossas mentes e saber o que cada pessoa está pensando. E é aí que entra o Projeto Barreiras, uma iniciativa da ONU de colocar a humanidade uma jogada à frente nesse tabuleiro de xadrez…

Quatro indivíduos são escolhidos como Barreiras e têm recursos de sobra à disposição para empreender um plano que só eles mesmos sabem como irá transcorrer. Admito que essa ideia me perturbou um pouco durante a leitura, pois como uma pessoa poderia ter, sozinha, a solução perfeita para a vitória da humanidade? Além disso, cada uma delas tem o direito de pedir o que quiser, citando apenas que “faz parte do plano”. Nem tudo seria tão fácil para essas pessoas, no entanto, já que Trissolaris colocaria um Destruidor no encalço de cada uma – alguém que eliminaria a Barreira designada após se encontrar com ela e revelar suas intenções ocultas.

Não vale a pena entrar em mais detalhes sobre esses planos – alguns extremamente engenhosos – e nem revelar o significado da metáfora da “floresta sombria”, que só aparece perto do final do livro e que mistura profundidade e beleza. Há lampejos de genialidade na escrita de Liu, ainda que algumas partes se mostrem um pouco arrastadas devido à existência de diversos núcleos de personagens. Por conta de alguns desses trechos, acabei interrompendo algumas vezes a leitura e, infelizmente, perdendo um pouco do impacto que a narrativa teria se tivesse sido lida no prazo devido.

De toda forma, quem gosta de ficção científica precisa ler esta saga. Há trechos absolutamente fantásticos e desconfortavelmente verossímeis em ambos os livros, e o desfecho traz indícios de que fará jus à toda a aura de admiração que vem sendo construída em torno do autor. Estou curioso para saber quais serão os próximos passos de Trissolaris após os acontecimentos finais de “A Floresta Sombria” e se a humanidade terá alguma condição de responder a eles. Mas não vou declarar qual o lado que tem a minha torcida!