Resenhas

Resenha: A Evolução de Calpúrnia Tate, por Jacqueline Kelly

A_EVOLUCAO_DE_CALPURNIA_TATE__1409946703BNome do Livro: A Evolução de Calpúrnia Tate
Nome Original: The Evolution of Calpurnia Tate
Autor(a): Jacqueline Kelly
Tradução: Elisa Nazarian
Editora: Única
ISBN: 9788567028415
Ano: 2014
Páginas: 384
Avaliação: 4/5
Onde Comprar: Submarino

Calpúrnia Virginia Tate tem 11 anos em 1899, quando pergunta o porquê de os gafanhotos amarelos em seu quintal serem tão maiores do que os verdes… Com uma pequena ajuda de seu notoriamente mal-humorado avô, um ávido naturalista, ela descobre que os gafanhotos verdes são mais fáceis de ser vistos contra a grama amarela e, por isso, são mortos antes que possam ficar maiores. Por gostar de explorar a natureza ao seu redor, Callie acaba criando um relacionamento próximo com seu avô enquanto enfrenta os desafios de viver com seis irmãos e se depara com as dificuldades de ser uma garota na virada do século. Em seu livro de estreia, Jacqueline Kelly habilmente traz Callie e sua família para a vida, capturando o crescimento de uma jovem com sensibilidade e humor.

“Um dia eu teria todos os livros do mundo, prateleiras e mais prateleiras deles. Viveria em uma torre de livros. Leria o dia todo e comeria pêssegos. E, se algum jovem cavaleiro de armadura ousasse vir gritando em seu cavalo branco, me pedindo que soltasse o cabelo, eu o bombardearia com caroços de pêssego até que fosse para casa.”

(pág 25)

Esta é a história de alguns meses decisivos na vida de uma menina de 11 (quase 12 a) que vive no Texas em 1899. A evolução de Calpúrnia Virgínia Tate, conhecida como Callie Vee, é visível ao acompanharmos sua jornada de descobertas – nem todas agradáveis.

Conforme passa suas férias escolares a brincar no calor do Texas, Callie observa a natureza a sua volta. Quando questiona um dos irmãos mais velhos sobre o assunto (ela tem 6 irmãos) este a encoraja a perguntar a seu avô, um naturalista que não parece muito interessado nos netos, nas plantações ou no restante da família. Ela então se reconhece como uma naturalista e se apaixona pela observação das espécies de insetos, animais e plantas (essas nem tanto) e passa a sonhar com as possibilidades, seja encontrar uma espécie desconhecida ou ser livre para tentar encontrá-la. Mas, em 1899 as meninas não tinham essa liberdade.

Tendo o livro “A Evolução das Especies” de Charles Darwin como ponto de partida, Callie e seu avô passam seu tempo livre coletando amostras e contemplando a natureza a sua volta. O avô ensina ciência a ela, coisa que não é ensinada nas escolas, e Callie percebe a importância de todo esse aprendizado que lhe foi negado. Ela é incentivada a aprender costura, bordado, economia doméstica e as demais matérias que uma futura mãe de família deve saber para cuidar de uma casa, marido e filhos.

Narrado em primeira pessoa por Callie, seus pensamentos mais íntimos são expostos, assim como seu desprezo pelos trabalhos domésticos, considerados chatos, já que tudo o que era feito precisava ser refeito todos os dias. Criada em meio a seis irmãos homens a tão pouca consciência sobre as diferenças de gênero que Callie percebe são aceitáveis e a surpresa que demonstra ao entender o que é esperado dela no futuro – ou seja, nenhuma participação no mundo da ciência – a deixa entristecida e revoltada. A impotência de ser mulher nessa época era desgastante, tendo como exemplo a mãe de Callie que sofria de fortes dores de cabeça e “problemas femininos”, muitos desses causados pelo calor que chegou a ser de 40 graus e ser obrigada a andar vestida com espartilho e anáguas.

“(…)eu não gostava de conversar sobre moldes, receitas nem de servir chá na sala de visitas. Isso fazia de mim uma egoísta? Fazia de mim uma pessoa estranha? Pior de tudo, fazia de mim uma decepção?”

(pág 221)

Os irmãos de Callie são pouco identificados, sendo que Harry e Travis recebem um pouco mais de atenção, sendo Harry o irmão mais velho e o favorito da garota e Travis mais novo que ela e o mais sentimental, apegando-se a seus animais de estimação e até àqueles destinados ao sustento da casa. Ela interage com todos e  o carinho e uma rivalidade saudável existente entre os irmãos. Essa dificuldade em separar os gêneros não acontece só com Callie, mas também com seu irmão mais novo que não consegue entender por que não pode aprender a cozinhar se Callie está aprendendo.

Durante os meses em que se passa a narrativa vemos mudanças que ocorriam no mundo chegando ao Texas, como a linha telefônica até a cidade e empregando uma moça como empregada e a visão de uma “carruagem sem cavalos” , além do interesse de um avô por sua única neta em detrimento dos demais netos homens.

A capa do livro é linda e chama muito a atenção pelas cores fortes contrastando. O tamanho da fonte e espaçamentos são grandes, o que deixa a leitura muito confortável e dá a sensação de que as páginas são lidas rapidamente. Foram encontrados alguns erros de revisão, mas insignificantes. As folhas são amareladas como é o costume da editora. Para uma leitura leve, mas que gera uma reflexão sobre as diversas situações da vida, este é o livro indicado. A narrativa é fluida e Callie é carismática o suficiente para não entediar o leitor com introspecções. O livro tem um bom ritmo e fiquei triste por não saber mais da vida de Calpúrnia Tate.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

2 comentários sobre “Resenha: A Evolução de Calpúrnia Tate, por Jacqueline Kelly

  • Creio que deve ser daqueles livros em que a menina vai contra o tempo em que vive, mas a curiosidade não é nas atitudes da garota e sim do avô. Fiquei curiosa por saber o motivo dele desprezar os meninos e preferi-la.

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    • É mais ou menos assim, só que ela ainda é criança. A atitude do avô condiz com o comportamento dele no livro ^^

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