Resenhas

Resenha: A Coisa Terrível Que Aconteceu com Barnaby Brocket, por John Boyne

A_COISA_TERRIVEL_QUE_ACONTECEU_COM_BARNABYNome do livro: A Coisa Terrível Que Aconteceu com Barnaby Brocket
Nome Original: The Terrible Thing That Happened to Barnaby Brocket
Tradução: Érico Assis
Ilustrações: Oliver Jeffers
Autor(a): John Boyne
ISBN: 9788574066011
Páginas: 256
Editora: Companhia das Letrinhas
Ano: 2013
Avaliação: 5/5
Onde Comprar: Compare Preços, Submarino

A família Brocket tinha muito orgulho de ser perfeitamente normal. Alistair, Eleanor e seus dois filhos moravam numa casa normal, num bairro normal, onde faziam coisas normais, sempre evitando que algo fora do comum pudesse acontecer. E assim levavam uma vida pacata e sem sobressaltos – até o dia em que Barnaby Brocket veio ao mundo. Bastou o caçula nascer para todos perceberem que ele era um pouco diferente: logo que se separou do corpo da mãe, o bebê foi parar no teto do hospital… Ele flutuava! E aquela incapacidade de ficar com os pés no chão, que no começo parecia apenas uma esquisitice de criança, com o tempo se transformou num verdadeiro problema para seus parentes. Afinal, como seria a reação dos vizinhos quando descobrissem essa peculiaridade do filho mais novo dos Brocket? Barnaby virou motivo de vergonha. E depois de longos oito anos, quando o caso parecia não ter mais solução, Alistair e Eleanor decidem dar um ponto final nesse sofrimento. O garoto é abandonado à sua própria sorte e começa a flutuar sem destino. Mas, assustado e surpreso com o que tinha acabado de acontecer, Barnaby mal sabia que esse era apenas o começo de uma viagem pelo mundo, em que conheceria lugares impressionantes e pessoas muito especiais – que, como ele, não eram tão normais assim.

Este é um livro infanto-juvenil que eu recomendaria para todas as idades. John Boyne consegue nos prender do início ao fim com uma narrativa cativante e as ilustrações simples e significativas de Oliver Jeffers nos deixam adentrar cada vez mais no mundo em que Barnaby vive – que não é outro senão o nosso próprio. Em alguns momentos a facilidade com que deixam uma criança andar por aí me lembrou a série de livros Desventuras em Série, também publicado pela Cia Das letras, porém os adultos nem de longe são tão tapados quanto os que conviveram com os órfãos Baudelaire.

Mas, enfim, a questão é que, só porque sua versão de normal não é a mesma dos outros, não quer dizer que você tem algo errado.

Barnaby é um menino que nasceu com uma característica peculiar: ele flutua. Ele não pode controlar isso e, por mais que seus pais insistam, não pode parar de flutuar e virar uma pessoa normal. Ou o tipo de pessoa que eles consideram normal porque, afinal, o que é ser normal? Essa questão é o grande tema do livro e aparece na reflexão de vários personagens até chegarmos ao final onde o próprio Barnaby reflete sobre isso e toma uma decisão que mudará a sua vida.

A jornada de Barnaby pelo mundo após a “coisa terrível” é marcada pelo encontro com diversas pessoas que vão mudando os conceitos do menino sobre o que é ser normal e  ele vai compreendendo aos poucos que não está sozinho no mundo dos que são considerados anomalias. Cada um tem a sua própria “coisa terrível” e percebemos aos poucos que pouca coisa é aceita dentro desta normalidade. Que tudo tem um padrão e nada diferente dele pode ser considerado adequado. Como se sete bilhões de pessoas fossem iguais.

(…)Em alguns momentos ela pensava ter feito a coisa certa. Afinal de contas, ele era um garotinho teimoso demais, que se recusava a mudar. Porém, às vezes, ela se perguntava por que fora incapaz de amá-lo do jeito que ele era. Afinal, sempre tivera orgulho do fato de ser uma mãe absolutamente normal com uma família completamente normal. Mas era tão normal assim fazer o que ela fez? Será?

Em certo momento da narrativa o menino encontra-se com um grupo de pessoas consideradas anormais e percebe que elas são hostilizadas por um homem. Ele pergunta a eles por que não se voltam contra o homem pois ele é um só e eles muitos. Neste ponto percebemos a ideia de que como aberrações eles merecem o tratamento que lhes dão. Que existe algo errado com eles e as pessoas normais podem aproveitar isso para lidar com os não-normais da maneira que lhes aprouver; eles tem medo do que é diferente.

Os grandes vilões do livro são os pais de Barnaby. Gostei muito da maneira que o autor explicou as atitudes dos pais para com ele. Geralmente não encontramos as motivações dos vilões em livros infanto-juvenis, mas com uso de flashbacks na hora certa sabemos porque eles são tão obcecados em “ser normal”.

Conforme Barnaby avança na narrativa ele percebe que muitas pessoas consideradas diferentes tiveram que abandonar as suas famílias para que pudessem seguir em frente. Pois se não há apoio na família a pessoa não pode estagnar no lugar e viver de forma incompleta. Se para seguir em frente é preciso ir sozinho, então que seja. Mas existem todos os tipos de problemas familiares, inclusive o problema de não se ter uma família.

E aí ocorreu a Barnaby que ser normal não era tudo isso que diziam. Afinal de contas, quantos garotos que se dizem normais já haviam passado pelas mesmas aventuras que ele, ou conhecido as mesmas pessoas que ele? Quantos já haviam visto tanta coisa do mundo ou tanta gente pelo caminho? (…)Era normal ser tão, bom, tão normal o tempo todo

O livro mostra a jornada do menino para aceitar a si mesmo antes de querer que os outros lhe aceitem como é.

A Editora Cia das Letras (ou, no caso, Cia das Letrinhas) manteve a mesma capa do livro em inglês. Ela e as ilustrações dentro do livro são lindas e permitem que nos ambientemos no mundo infanto-juvenil proposto. A diagramação é simples e funciona muito bem. A tradução e revisão ficaram ótimas, sem nenhum erro perceptível.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

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