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Placa-Mãe | Crítica

Placa-Mãe, dirigido por Igor Bastos, é uma das mais recentes animações brasileiras a chegar aos cinemas, estreando no dia 3 de outubro. O filme narra a história de Nadi, uma robô que, em meio a uma sociedade preconceituosa, tenta adotar dois irmãos órfãos. Em sua jornada, a obra toca em temas profundos e relevantes, sempre com uma abordagem sensível e contemporânea.

A trama segue Nadi, que, após obter sua cidadania, deseja adotar David e Lina, duas crianças que vivem em um orfanato. No entanto, um mal-entendido leva David a fugir, temendo que será separado de sua irmã. Enquanto ele atravessa uma cidade repleta de perigos e desafios, Nadi tenta desesperadamente reuni-los novamente, enfrentando obstáculos que revelam as complexidades de um mundo que mistura alta tecnologia e desigualdade social.

Desde o início, ¨Placa-Mãe¨ se destaca por abordar temas sociais importantes, como o tráfico de órfãos e o abandono de crianças baseado em raça e cor. Bastos utiliza esses elementos para construir um cenário em que a realidade da marginalização social se entrelaça com um futuro tecnológico, sem perder o foco nas questões humanas que permeiam a história.

A animação também mergulha em outros problemas, como o trabalho infantil e a exploração de robôs e humanos em situações de vulnerabilidade. Essas questões são apresentadas de forma clara, sempre integradas à narrativa, o que fortalece o roteiro e mantém o público atento ao desenrolar dos acontecimentos.

Outro aspecto relevante é a crítica política que o filme traz. A figura de Asafe, um influente personagem que utiliza as redes sociais para alavancar sua candidatura ao Senado, é um exemplo de como a mídia pode ser manipulada para obter ganhos pessoais. Essa camada política enriquece a história, adicionando complexidade ao enredo.

A ambientação de ¨Placa-Mãe¨ é um de seus pontos altos. Situado em Minas Gerais, o filme mescla o tradicional ambiente rural com um universo futurista, criando uma atmosfera única de um sci-fi regional. Essa combinação inusitada de cenários reforça a originalidade da obra e contribui para a construção de um mundo visualmente rico.

O longa também trata de forma sensível os direitos dos robôs, particularmente quando Nadi discute a possibilidade de adotar crianças. Essa abordagem levanta reflexões sobre os novos formatos de família, baseados no afeto em vez dos laços sanguíneos, um tema bastante atual e relevante, que é tratado até em uma votação no Senado dentro da trama.

Em termos técnicos, a animação não decepciona. A direção de arte de Elisa Guimarães é eficiente ao criar um universo estético que equilibra o futurismo com o regionalismo. O trabalho sonoro de Kiko Ferraz e Christian Vaiz dá profundidade às cenas, enquanto a trilha sonora composta por Léo Henkin e Kiko Ferraz adiciona leveza e diversão, pontuando bem os momentos de maior emoção.

Embora a narrativa seja bem amarrada, talvez falte maior desenvolvimento sobre o passado de Nadi e suas motivações. A ausência de informações mais detalhadas sobre sua origem e a forma como lida com seus próprios traumas poderia ter enriquecido ainda mais a complexidade da personagem.

No geral, ¨Placa-Mãe¨ é uma animação que combina temas sociais, familiares e políticos de maneira corajosa e bem articulada. É uma obra relevante, que, ao mesmo tempo em que diverte, provoca reflexões importantes sobre o mundo em que vivemos, sendo recomendada tanto para adultos quanto para crianças.

Placa-Mãe

Estréia: 03 de outubro de 2024

1h 45min | Animação

Direção e roteiro: Igor Bastos

Elenco: Ana Paula Schneider, Vitor Gabriel Pereira, Ana Júlia Silva Guimaraes, Aurea Baptista, Marcelo Crawshaw, Carlos Cunha, Otto Guerra, Teffy Marcondes, Cassiano Ranzolin, Marcio Simões

Distrivuição: O2 Play

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