Diversos

O Homem Invisível | Crítica

Você não viu, viu?

Uma crítica comum ao clássico filme de 1933 é que a estrutura narrativa nos apresenta uma trama maniqueísta, com bem e mal muito bem estabelecidos. Natural para um filme da primeira metade do século passado, onde o público ainda era educado a assistir um filme. Ao atualizar a obra, “O homem invisível” de 2020, parece apostar fundo nesse maniqueísmo, mas usa isso para fins catárticos, afinal, o público de hoje gostaria de sentir qualquer tipo de afeição por um maníaco abusador?

Produzido pela Blumhouse Productions e pela Universal, “O homem invisível” vem no lastro de produções duvidosas que começaram com uma releitura morna de drácula e um remake sofrível de “A Múmia”. Assim não é de se imaginar que tenha tido uma campanha morna de divulgação, que em certo não faz jus à qualidade da obra. Na trama, acompanhamos Cecilia, vivida por Elisabeth Moss, e sua fuga de um marido que a mantém em cárcere privado. Tempos depois, depois de aparentemente forjar o próprio suicídio, seu ex abusivo, que também é um cientista enlouquecido, usa da ciência para se tornar invisível e aterrorizar a vida de sua ex.

A percepção do roteiro em fazer a conexão entre o homem invisível e a ameaça de um relacionamento violento é o grande diferencial deste filme. Quando a polícia se recusa a acreditar na história de Cecília, ou quando seus amigos se recusam a “enxergar” o problema, preferindo por trata-la como louca, o filme faz uma óbvia defesa das mulheres em situação de risco. Assim, quando ela decide resolver o assunto por conta própria, entendemos suas motivações e torcemos por ela, especialmente se estamos familiarizados com a situação real das semelhantes vítimas no dia a dia. Mas sejamos justos, o roteiro para isso aposta naquele já falado maniqueísmo que transforma os vilões em monstros desprovidos de humanidade que é ainda mais irreal do que a tecnologia de inviabilidade apresentada no filme.

No mínimo curioso que o diretor e roteirista Leigh Whannell, seja o mesmo que escreveu a franquia “Jogos Mortais”, nos trazendo um vilão hediondo, mas humano. Ao olharmos nessa direção, nos resta imaginar que, de fato, a decisão por um psicopata absoluto foi deliberada. Chuto, inclusive, que tanto o foi pelo peso narrativo da trama – nenhum diretor quer se arriscar em pisar em ovos neste tema – quanto pela natureza do projeto, que nasceu para ser parte de um universo compartilhado de monstros – e que, talvez por escolha de produtores, não fecha essa porta.

Felizmente, graças ao talento imenso de Moss, esse aspecto não cresce no filme, ofuscado por uma performance que apaga os momentos mais forçados tão logo eles se apresentam. Cabe também apontar a presença de cena de Aldis Hodge e Storm Reid, que quando estão em tela, nos fazem crer na realidade que vemos.

Por fim, “O homem invisível” de 2020 é um suspense coerente em sua forma, que prende a atenção e faz um excelente comentário social, em que os defeitos são menos marcantes que suas qualidades. Devido à pandemia, infelizmente teve vida curta nos cinemas e deve ser disponibilizado para o streaming rapidamente.

O Homem Invisivel (The Invisible man, 2020)


Direção e roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Aldis Hodge, Storm Reid
Produtora: Blumhouse Productions e Universal Studios

11 comentários sobre “O Homem Invisível | Crítica

  • Lembro de que quando vi o trailer do filme no instagram eu pensei “eu já vi esse trailer de filme, mas tem muito tempo”. Fui logo buscar e vi que ele era um remake. Sinceramente, esse não é bem o estilo de filme que eu gosto de assistir, mas o trailer provocou curiosidade e lendo a sua crítica agora acabei ficando mais curiosa. Fiquei querendo saber como o “marido” foi desenvolvido durante o filme e como a trama se desenvolve. Parabéns pela crítica!

    Resposta
  • Bacana essa crítica a respeito da mulher desacreditada, acredito que foi bem representada na película. Eu conheço as versões anteriores e nao sabia que tinha esse novo filme. Pena não ter ficado tanto tempo nos cinemas, mas assim que der vou ver pela Net mesmo.
    Küss

    Resposta
  • Eu queria muito que esse filme chegasse logo nas plataformas de streaming, pois foi um que eu queria ter visto nas telonas, e infelizmente não consegui. Eu confesso que não curti muito o remake de “A múmia”, talvez por ser ofuscado pelo mais cômico que até hoje muita gente se lembra e até gosta (como eu, rsrs).
    Bjks!

    Mundinho da Hanna
    Pinterest | Instagram | Skoob

    Resposta
  • Interessante o fato de usar isso para fins catárticos. Confesso eu ainda não consegui ser atraída por esse tipo de roteiro, embora muitos filmes vêem apostando nesse tipo de narrativa. Muito bacana tudo o que você escreveu sobre esse filme! Eu já ouvi falar dele, porém essa é a primeira vez em que leio mais sobre ele.

    Resposta
  • 31 de maio de 2020

    Responder
    Interessante o fato de usar isso para fins catárticos. Confesso eu ainda não consegui ser atraída por esse tipo de roteiro, embora muitos filmes veem apostando nesse tipo de narrativa. Muito bacana tudo o que você escreveu sobre esse filme! Eu já ouvi falar dele, porém essa é a primeira vez em que leio mais sobre ele. Gostei desse teor crítico através desse roteiro e do que a vítima sofre no dia a dia.

    Resposta
  • Gostei bastante dos pontos que você destacou e tenho muita curiosidade de assistir as duas versões do filmes que até o momento ainda não tive a oportunidade. Está é a primeira resenha crítica que leio sobre filme e espero Assistir o longa em breve!

    Parabéns pelo seu trabalho!
    Bjs Aruom Fênix 💜
    Blog Leituras de Aruom

    Resposta
  • Olá!
    Ainda não assisti ao filme e essa foi a primeira resenha que vi sobre ele, e fiquei bastante curiosa. Gosto bastante de suspense, então acredito que irei gostar..
    Adorei os pontos que você trouxe e espero assistir em breve.
    Beijos

    Resposta
  • Eu quero muito assistir esse filme! Vejo varia pessoa fazendo ótimas críticas em relação a ele. Seu post só meu deixou mais curioso ainda <3 parece ser um filme bem tenso

    Resposta
  • Oi, tudo bem? Ainda não assisti mas vi o trailer e fiquei bem curiosa para conferir ainda mais pela atuação da Moss. Quando um estúdio vai fazer um remake tem uma responsabilidade muito grande, não apenas pelo sucesso anterior quanto pela expectativa dos fãs. Tem vários remakes que não curti muito como Spider man de volta pra casa. Achei meio fraco aquele ator. Um abraço, Érika =^.^=

    Resposta
  • Eu queria muito ter ido ao cinema para assistir essa obra, porém como você mesma ressaltou, a pandemia deu curto prazo para o mesmo nas telonas. Que pena! Tenha certeza que o filme me agradaria, e falo isso tão simplesmente por ter gostado muito da visão que passou em sua crítica. Eu não tinha lido nada a respeito. Só comentários esparços.
    Abraços

    Resposta
  • Pingback: Lista – Cinco filmes de monstro que você não deveria deixar em 2020

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.