A Noite do Fogo | Crítica
Filme destaque da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, logo estará disponível na Netflix
De modo extremamente simplista, podemos dizer que o cinema dos países latino-americanos possuem duas frentes principais. A primeira inclui os filmes feitos para o mercado doméstico, bucando um espaço que em geral tomado por produções estrangeiras. A segunda é feita daqueles que, por sua vez, são voltados justamente para esse mercado externo. Em especial esses filmes geram indicações em prêmios internacionais.
Um filme tocante
Nesse segundo tipo de produção, aposta-se em filmes mais eruditos. Em geral, são informativos e buscam por meio da potência narrativa apresentar história empáticas e informar sobre a cosmovisão dos artistas desses países. Anda nessa tentativa, “Reze pelas Mulheres roubadas” (“Noche de Fuego”, no original), foge da curva. E faz isso ao focar em uma história trágica e mórbida, sem jamais cair para o caminho fácil da exposição gráfica. Pelo contrário, evocando ares de documentário, a diretora Tatiana Huezo entrega uma história tocante, repleta de sensibilidade.
O filme retrata o aumento da violência causada pelo tráfico de drogas em uma cidade localizada na Serra Mexicana. Com calma, temos uma imersão íntima na infância e adolescência de Ana (Ana Cristina Ordóñez e Mayra Membreño conforme o tempo) e suas duas amigas, Paula (Camila Gaal e Alejandra Camacho) e María (Blanca Itzel Pérez e Giselle Barrera Sánchez).
Em uma narrativa extremamente paciente, vemos a protagonista ir à escola, brincar na água, explorar casas abandonadas e brigar com a mãe, que sempre parece exausta por lidar com os perigos da vida que levam.
Jornada de amadurecimento
Através de uma jornada de amadurecimento, pouco a pouco pequenos e perturbadores acontecimentos sussuram o crescente de um drama que se aproxima. Um vizinho desaparece da noite para o dia, militares constantemente passam pelo vilarejo, um professor sai porque alguém está lhe pedindo uma taxa de segurança.
Dessa forma, a questão de gênero logo se impõe. Enquanto muitas mulheres trabalham nos campos de papoula (base de heroína), Ana e suas amigas são obrigadas a cortar o cabelo para chamar menos atenção. A menina porgunta por que ela precisa ter o cabelo raspado, mas não obtém resposta de sua mãe Rita (Mayra Batalla), que a esta altura parece estar em um estado perpétuo de raiva, desespero e exaustão.
Há certa carga de tensão que cresce e se torna maior que o drama, isso por que a inocência das crianças constrasta com a percepção dos espectadores que já entenderamo que está acontecendo. É como se um pavio estivesse queimando, e os personagens nada pudessem fazer para apagar a centelha. Nós, na segurança de apenas acompanhar a história, sabemos onde ela vai chegar. E quando chega, impossível não se comover.
Ficha Técnica
Direção: Tatiana Huezo
Título original: Noche de Fuego
Gênero: Drama
Ano: 2021
País de origem: México