News: Para “país de leitores” e “potência olímpica”, falta trabalho
Quem vê televisão aberta já deve ter esbarrado com o filmete em que Elisa Lucinda, poeta e declamadora, fala da importância dos livros em sua infância e adolescência. Em torno do bordão “Leia mais, seja mais”, está no ar (mais) uma campanha de incentivo à leitura promovida pelo Ministério da Cultura, com investimentos, este ano, de R$ 373 milhões – leia mais aqui.
Sempre fico meio triste diante de iniciativas do gênero. Não que elas não sejam importantes e necessárias: até hoje me lembro da campanha “Ler é sonhar, ler é viver”, dos anos 1970, que tinha um jingle maneiro. Não sei se ela formou algum leitor, mas levava sobre a atual a vantagem de não apelar para um contraproducente imperativo – “Leia! Seja!” “Eu não!” – e me ajudou a me sentir menos extraterrestre, eu que era um solitário leitor compulsivo rodeado de não-leitores sarcásticos.
Se as iniciativas são simpáticas, concentrar em campanhas culturais o esforço da “formação de leitores” é semear em solo árido. Sem um profundo – lento, custoso e politicamente pouco rentável – avanço educacional, os resultados serão sempre magros. E esse avanço não está no horizonte.
Aqui e ali, isoladamente, uma semente mais bem dotada pode até vingar, mas não passará disso. O erro é análogo ao da obsessão – bastante atual – em transformar o Brasil numa “potência olímpica” só com investimentos em atletas de ponta, sem a sabedoria e a paciência de integrar a prática maciça de esportes à formação educacional da população e esperar que o tempo faça o resto.
A verdade é que o Brasil está muito longe de ser um país de leitores. Em relação à Argentina, que o é faz tempo, estamos atrasados um século e meio, ainda à espera de um presidente como Domingo F. Sarmiento (1868-1874), que transformou a educação pública universal e de qualidade em prioridade absoluta.
O caminho será longo. Antes de se candidatar a ser um país de leitores, o Brasil precisará deixar de ser um país que – nas escolas, nas ruas, campos, construções – despreza a leitura. E precisará sobretudo deixar de ser um país em que os índices de alfabetização plena estão em franco retrocesso.
O recém-divulgado Indicador de Alfabetismo Funcional de 2011 (Inaf), pesquisa conduzida pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, pinta um quadro alarmante: na última década (em relação a 2001-2002), o percentual de brasileiros plenamente alfabetizados caiu de 49% para 35% no ensino médio e de 76% para 62% no ensino superior! Apenas um em quatro brasileiros pode ser considerado plenamente alfabetizado, ou seja, capaz de “dominar plenamente as habilidades de leitura, escrita e matemática”.
Só um alfabetizado pleno – quarto e último degrau de uma escadinha que começa no analfabeto e passa pelo analfabeto funcional e pelo alfabetizado em nível básico – pode ser leitor de literatura. Também só ele, apreciando literatura ou não, pode ser um bom médico, um bom engenheiro, um bom economista etc.
“Leia mais”? Beleza. Que tal ensinar?
Fonte: Veja
É assim que quero que seja na minha casa, todos leitores. Meu marido passou a ler, meu filho aprendeu a ler e ja tem os livro dele. Quero que ele siga o exemplo dos pais e aprenda e dê valor a literatura. É disso que o Brasil precisa, mais leitores.
Adorei a sua postagem e estou refletindo sobre o que você escreveu, é muito interessante saber desses dados e ainda a relação da Argentina com a leitura e o Brasil. Que vergonha!