Na mira dos lançamentos: Companhia das Letras (agosto/2015)
Olá, leitor!
Confira os lançamentos do mês da editora Companhia das Letras:
RIO DE JANEIRO – Histórias de vida e morte, de Luiz Eduardo Soares
O antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro que inspirou o filme Tropa de Elite, conhece o Rio de Janeiro como poucos. Pesquisador de renome, intelectual com presença constante nos jornais e ex-integrante da área de Segurança Pública dos governos estadual e federal, convive há décadas com as mazelas da cidade: o tráfico de drogas, a corrupção policial, a violência.
Este livro é resultado dessa experiência singular. O líder do tráfico que deseja sair do crime e procura o então secretário em busca de uma salvação impossível. Os policiais que metralham a casa da família do autor em represália a suas tentativas de sanear a corporação. O rico que abandona uma vida de luxo e conforto para se tornar traficante de drogas. Tudo isso está neste Rio de Janeiro.
Mas os relatos ultrapassam o memorialismo. Vistos em conjunto, compõem uma instigante interpretação do Brasil contemporâneo. Em busca das origens do autoritarismo policial no país, Luiz Eduardo recupera a pungente história de Dulce Pandolfi, vítima da tortura do regime militar, que revela a experiência pela primeira vez. Em busca das raízes da corrupção na polícia e seus elos com a política federal, mobiliza lembranças de quando foi candidato a vice-governador do Rio de Janeiro pelo PT, em episódios possivelmente relacionados aos primórdios do Mensalão.
Escrito com mão leve, ritmo de thriller e faro jornalístico, o livro é um retrato impactante das desigualdades, do racismo, da degradação da política, da violência do Estado e do ódio que se derrama sobre a cidade, colocando em risco a beleza exuberante do eterno cartão-postal do Brasil.
NOS CAMINHOS DO BARROCO – Roteiros visuais no Brasil – Vol. 2, de Glória Kok
Poucas vezes um livro sobre arte atingiu um equilíbrio tão harmonioso entre clareza narrativa, simplicidade e erudição. Neste segundo volume da Coleção Roteiros Visuais no Brasil, Glória Kok e Alberto Martins fazem uma instigante incursão pelo período Barroco, guiando o leitor desde os primórdios do movimento até a sua consolidação como identidade nacional. Se a arte é em grande medida feita de forma, luz e movimento, entender o Barroco é saber como os artistas se apropriaram dessas ferramentas para criar a sua identidade.
Ainda que instintivamente todos saibam sobre a arte barroca – seja pelo legado das cidades históricas como Tiradentes e Ouro Preto, seja pela figura do mestre Aleijadinho e suas igrejas, ou ainda pelos versos ácidos de Gregório de Matos, o Boca do Inferno, que disparavam críticas contra todas as classes sociais -, este é um livro essencial para quem deseja conhecer um período importante da história da arte no Brasil.
NOVA REUNIÃO – 23 livros de poesia, de Carlos Drummond de Andrade
Em 1969, Drummond publicou sua Reuniãoem um único volume. Recolhia, ali, os dez livros que escrevera até então, incluindoAlguma poesia (1930), sua obra de estreia. Mais tarde foi acrescentando outros volumes, até 1983, quando trouxe a lume, já sob o nome Nova reunião, dezenove títulos de sua lírica. Depois da morte do poeta, os netos Luis Mauricio e Pedro Graña Drummond complementaram a obra com trechos de livros posteriores.
O resultado, ideal para estudantes e amantes de poesia, é esta Nova reunião de 23 livros em um único volume. Um amplo painel da obra de Carlos Drummond de Andrade, que atravessou boa parte do século XX construindo um depoimento – lírico e político, metafísico e sensual – sobre o Brasil.
PARA EXPLICAR O MUNDO, de Steven Weinberg
Nesta envolvente história da ciência, o prêmio Nobel Steven Weinberg conduz o leitor através de séculos de grandes descobertas, da Grécia Antiga à Bagdá medieval, da Academia de Platão ao Museu de Alexandria e à Royal Society of London.
Os cientistas da Antiguidade e da Idade Média não apenas desconheciam o que sabemos hoje sobre o mundo – eles não sabiam o que era preciso conhecer, ou mesmo como descobri-lo.
Ao longo dos séculos, porém, na luta para resolver mistérios como o movimento dos planetas ou a alta das marés, a ciência moderna encontrou espaço para emergir. Essa é a história que figura no centro deste livro memorável.
Aristóteles, Descartes, Kepler, Copérnico, Galileu e Isaac Newton são alguns dos protagonistas deste enredo armado com leveza e humor – sem a menor cerimônia, o autor faz um acerto de contas com as contribuições de cada um deles.
Por que o modelo coperniciano, segundo o qual os planetas giram em torno do Sol, prevaleceu sobre a noção anterior, que considerava a Terra como o centro do Universo? As evidências empíricas dessa afirmação demorariam setenta anos para vir à tona – mas a teoria de Copérnico era mais simples e elegante.
Os atritos duradouros entre as esferas rivais da religião, tecnologia, poesia, matemática e filosofia ocupam lugar de destaque. Uma história da ciência digna do nome não é apenas uma história de cientistas e ideias, mas um relato das condições para o surgimento de um novo campo do conhecimento.
Weinberg demonstra de forma primorosa como a emergência do moderno método científico, entendido como um modo de interrogar o mundo em busca de explicações bem fundamentadas e confiáveis, é em si uma descoberta.
Para explicar o mundo retraça esse processo com alento e precisão inéditos – assim como o impacto imensurável dessa busca sobre o conhecimento humano.
A GAROTA NA TEIA DE ARANHA – Millennium vol. 4, de David Lagercrantz
Uma muralha virtual impenetrável: é assim que se pode definir a rede da NSA, a temida agência de segurança americana. Quando a mensagem “Você foi invadido” piscou na tela de Ed Needham, responsável pelos computadores que guardam alguns dos maiores segredos do mundo, ele custou a acreditar. A tentativa de localizar o criminoso também não trazia frutos, as pistas não levavam a lugar nenhum, cada indício terminava num beco sem saída. Que hacker seria capaz de algo assim?
Para o leitor que acompanha a sérieMillennium, criada por Stieg Larsson, só há uma resposta possível: a genial e atormentada justiceira Lisbeth Salander está de volta. Mas por que Lisbeth, uma hacker fria e calculista que nunca dá um passo sem pesar as consequências, teria cometido um crime gravíssimo e ainda provocado de forma quase infantil um dos maiores especialistas em segurança dos Estados Unidos? Depois de finalmente se livrar da polícia sueca e de todas as acusações que pesavam sobre si, que motivo ela teria para se atirar em outro lamaceiro político?
É o que se pergunta Mikael Blomkvist, principal repórter da explosiva revista Millennium, além de amigo e eventual amante de Lisbeth. Mas Blomkvist precisa lidar com seus próprios demônios: afundada numa crise sem precedentes, a revista foi comprada por um grupo que pretende modernizá-la. Nada mais repulsivo ao jornalista que prefere apurar e pesquisar suas histórias a ceder às demandas e ao ruído das redes sociais. Ainda assim, há tempos o repórter não emplaca um de seus furos, e por isso não hesita em sair no meio da madrugada para atender a um chamado que promete ser a grande história de sua carreira.
Presos a uma teia de aranha mortífera, Lisbeth e Blomkvist terão mais uma vez que unir forças, agora contra uma perigosa conspiração internacional. Uma volta em grande estilo da dupla que mudou para sempre os romances de mistério e aventura.
A QUEDA DO CÉU, de Davi Kopenawa e Bruce Albert
Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica.
Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade – foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador.
A vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo.
Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami – com intuição profética e precisão sociológica – chamam de “povo da mercadoria”.
HAMLET, de William Shakespeare
Um jovem príncipe se reúne com o fantasma de seu pai, que alega que seu próprio irmão, agora casado com sua viúva, o assassinou. O príncipe cria um plano para testar a veracidade de tal acusação, forjando uma brutal loucura para traçar sua vingança. Mas sua aparente insanidade logo começa a causar estragos – para culpados e inocentes.
Esta é a sinopse da tragédia de Shakespeare, agora em nova e fluente tradução de Lawrence Flores Pereira. Mas a trama inventada pelo dramaturgo inglês vai muito além disso: Hamlet é um dos momentos mais altos da criação artística mundial, um retrato – eletrizante e sempre contemporâneo – da vida emocional de um Homo sapiens adulto.
DEVAGAR E SIMPLES, de André Lara Resende
André Lara Resende herdou do pai, Otto, o dom da palavra, o prazer do convívio, a clareza de raciocínio e o foco no que importa. E aprimorou essas qualidades ao longo
da vida. Este livro é um exemplo dessas virtudes – como também o haviam sido Os limites do possível e Bolhas e pêndulos.
Há três tipos de escritores, notou Schopenhauer: os que escrevem sem pensar, os que pensam enquanto escrevem e os que pensaram muito antes de escrever. André é, claramente, da terceira estirpe. Por isso, todos os treze artigos aqui reunidos têm alguns eixos comuns, que não derivam apenas de um passageiro interesse do autor no momento em que os escreveu.
Alguns são imprescindíveis para o debate público do momento no Brasil, como “O mal-estar contemporâneo” e os artigos da seção Para repensar o Estado. Outros são muito relevantes para entender o atual debate no mundo e seu significado para o Brasil, como os da primeira seção,As fortunas do crescimento. Há um belo texto inédito, “Em busca do heroísmo genuíno”, e dois substanciosos artigos – “Desenvolvimento como liberdade, cidadania e espírito público” e “Vida pública, capitalismo de massa e os desafios da modernidade” – que fundamentam a posição do autor sobre o indispensável repensar sobre o Estado e a necessidade de revalorização da vida pública – ambos necessários tanto no Brasil como no mundo.
O leitor que se debruçar sobre estes textos, na ordem que lhe aprouver, verá que este livro passa, com galhardia, no teste de Harold Bloom para uma obra que valha a pena: aquela que o leitor sente que de alguma forma lhe diz respeito; que lhe pode ser útil; que lhe ajuda a entender melhor sua circunstância e o mundo em que vive. E, por fim, que constitua prazerosa leitura, como este Devagar e simples que o leitor tem em mãos. – Pedro Malan
O LIVRO DAS SEMELHANÇAS, de Ana Martins Marques
“Houve um tempo em que se usava/ nos livros/ papel de seda para separar/ as palavras e as imagens.” Tais versos, como muitos outros deste O livro das semelhanças, expõem com o wit e a delicadeza característicos da autora esse tatear entre as palavras e as coisas.
Em outro poema, significativamente intitulado “Não sei fazer poemas sobre gatos”, a autora admite – com graça e um certo veneno – que as palavras “soltam-se ou/ saltam/ não capturam do gato/ nem a cauda”, para depois concluir, com autoironia devastadora: “sobre a mesa/ quieta e quente/ a folha recém-impressa/ página branca com manchas negras:/ eis o meu poema sobre gatos”.
Pois graças a esses e a outros textos, esta nova reunião dos poemas de Ana Martins Marques parece ser a culminação de um dos caminhos mais relevantes da lírica brasileira dos últimos anos. Estão aqui, com uma força que já podia ser antecipada em seus livros anteriores, peças que versam, sobretudo, a respeito da tentativa – sempre temerária, mas também desafiadora – de recuperar o mundo e as coisas por meio da palavra. Porém a autora sabe que vivemos tempos fraturados, em que experimentamos aquilo que poderia ser nomeado como uma certa falência da mimese, pois traduzir o real literariamente é deparar com o abismo que se interpõe entre o mundo sensível e a folha em branco. E Ana desconfia do quanto isso tem de frágil, de problemático – e de igualmente fascinante.
Dividido em quatro seções (“Livro”, “Cartografias”, “Visitas ao lugar-comum” e “O livro das semelhanças”), esta obra desperta o leitor para o prazer sempre iluminador e sensível de uma das vozes mais originais da poesia brasileira. Do amor à percepção de que há um espaço – geográfico, quase – para o lugar-comum, do entendimento da precariedade do nosso tempo no mundo à graça (mineira, matreira) proporcionada pela memória: eis uma poeta que nos fala diretamente. Ou, como diz em um de seus versos: “Ainda que não te fossem dedicadas/ todas as palavras nos livros/ pareciam escritas para você”.
O CASO SAINT-FIACRE, de Georges Simenon
O caso Saint-Fiacre é o décimo terceiro livro protagonizado por Jules Maigret, em que, finalmente, conhecemos seu passado. Ele é filho do administrador de um castelo ao sul de Paris, para onde volta pela primeira vez desde o enterro do pai. O motivo? Um bilhete anônimo: um crime seria cometido no local durante a missa de finados.
Antes do fim do sermão, a condessa de Saint-Fiacre morre subitamente. Sua família está falindo. O filho é um aproveitador. O secretário, seu amante e possível herdeiro. Os atuais administradores do castelo, oportunistas em potencial. O padre, um omisso.
Mais que investigar os suspeitos, o maior desafio de Maigret é enfrentar as lembranças que Saint-Fiacre lhe desperta.
“A habilidade de Simenon é suprema. Algumas passagens de sua obra são sublimes, tão boas quanto o que encontramos em Proust ou mesmo Flaubert.” – John Banville
Bob é um bartender solitário e desiludido, que tenta encontrar razões para continuar vivo. Três dias depois do Natal, seu marasmo é interrompido por um latido abafado. Esse filhote de cachorro mudará para sempre a sua vida. Nessa mesma noite, ele conhece Nadia, uma garota sofrida que, como ele, busca algo em que acreditar.
Unidos pelo desejo de resgatar o cachorro, Bob e Nadia estreitam seus laços. Quando as coisas parecem ter tomado rumo, eles se encontrarão em um jogo sujo, que envolve a máfia chechena, um assassino, dois trambiqueiros profissionais, um policial e o próprio dono do cachorro. Em A entrega, Dennis Lehane volta às ruas de Boston num explosivo enredo de morte e traição.