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Matrix (1999)

Por fim, encerramos aqui com Matrix, um clássico de 99 que foi inovador pela sua tecnologia e narrativa. 

Será que vivemos no mundo real? Será que o que vivemos é realidade ou apenas parte criada por nossa mente? Somos manipulados por um grande sistema ou estamos livres para tomar as decisões? Em meio a esses questionamentos, conhecemos o mundo de Matrix e toda sua complexidade, filme que agora está disponível na HBO Max.

Dirigido por Lana e Andy Wachowski, “Matrix” apresenta um universo simples e um complexo ao mesmo tempo. Regado, principalmente, por efeitos especiais, o que foi uma inovação para o ano de 1999. Estrelado por Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss e Hugo Weaving, os atores dão um show de atuação na obra.

Entre a realidade e a simulação

“Matrix” começa quando conhecemos o nosso protagonista, Thomas Anderson (Reeves), um cara simples que vive uma vida dupla: pela manhã, ele trabalha fixado em uma empresa comum e à noite é conhecido por ser o hacker Neo. No início da trama, podemos ver Neo e sua inquietação em relação ao mundo a sua volta. Em um dado momento ele recebe mensagens do misterioso Morpheus (Fishburne), homem que sabia que Neo tinha um propósito muito maior do que ser um cara comum.

 A analogia que Matrix estabelece com “Alice no País das Maravilhas” é a junção perfeita de referências. Na cena em que Neo é atraído por Morpheus e este oferece a escolha entre as pílulas azul ou vermelha, por exemplo. Ele fala que se Thomas escolher a pílula azul sua vida será a mesma, vivendo alienado e sem questionamentos. Mas, se tomar a pílula vermelha, o Mestre ensinará a seu aprendiz, onde fica o País das Maravilhas e até onde vai a toca do Coelho Branco.

Pela definição de Morpheus, Matrix nada mais é do que uma realidade simulada de todas as nossas emoções, sentidos, habilidades e tudo mais para manter os humanos sob controle. Assim fica mais fácil transformá-los em baterias para gerar energia às máquinas. A função de Morpheus é fazer com que as pessoas sejam livres desse grande Sistema que as aprisiona.

Neo estranha que sua realidade nada mais é do que um mundo vivido por máquinas e que existe uma grande batalha entre humanos e máquinas. Tudo o que o protagonista acreditava cai por terra. Além disso, para Morpheus, Neo representa O Escolhido, aquele que irá libertar a todos da Matrix e salvar a humanidade do controle das máquinas.

Referências religiosas em “Matrix”

Impossível discordar das referências religiosas: o fato de Neo ser “O Escolhido” e ter relações diretas com Jesus, o próprio Salvador que vai libertar o povo. Entretanto, em “Matrix”, Neo tem a função de libertar o povo do império das máquinas.

Além de outros elementos como na conversa com Trinity, que significa Trindade, há vários momentos que podemos entender essa referência e sua importância. Quando Neo a conhece, ele estranha o fato de Trinity ser uma figura feminina e não masculina. Em resposta, ela afirma que muitos se confundem por isso.

Em um segundo momento, Trinity conta a Neo que conhece mais sobre ele do que imagina. Vale ressaltar que a personagem torna-se um fio condutor entre Neo e Morpheus, além de auxiliar o Escolhido em sua jornada, dentro e fora da Matrix.

Outros símbolos e referências

Outro fator que chama atenção é o nome da nave: “Nabucodonosor”, . Este era o nome do rei babilônico responsável por destruir o templo de Jerusalém e ligar o povo ao Salvador.  Dentro da nave encontramos Cyper, cujo significado soa como “Judas”. Cyper trai O Escolhido e, em outra referência bíblica, faz isso por meio de um jantar caprichado, da mesma maneira que Esaú, que trocou a bênção de seu pai por um prato de comida.

O filme apresenta outros signos e pessoas importantes. Por exemplo, o Oráculo, que fala para Neo sobre o poder de suas decisões e como o fato dele lidar com elas e como isso interfere dentro e fora do universo de Matrix. Do outro lado temos o antagonista agente Smith, que representa a Inteligência Artificial dentro da Matrix. Porém, ele não pode exercer mais funções além daquela para a qual foi programado.

Seu único objetivo é manter a ordem na Matrix, exterminando programas e humanos que fogem dessa regra, apresentando certa instabilidade na realidade simulada. Fora de Matrix, Smith representa o domínio das máquinas em aprisionar os humanos e impedir que libertem sua mente e entendam a realidade em que se encontram.

O que é real?

Matrix discute muito a questão da realidade simulada e a verdadeira realidade. É possível ver também questões até filosóficas como o próprio Mito da Caverna de Platão em que um dos prisioneiros ao ser libertado da caverna toma um susto ao se deparar com o mundo exterior. O mesmo processo acontece com Neo ao se deparar com sua realidade. O estranhamento foi tanto que Neo até vomitou por estar desacreditado.

O longa nos instiga a questionar nossa realidade e formas de mudar o Sistema. Talvez, uma analogia que parece simples e pequena. Podemos notar como hoje nossa população do nosso país mudou a forma de pensar sobre os mais variados assuntos: aborto, sexualidade, desigualdades sociais. Hoje é possível notar que o mundo já questiona determinados padrões impostos pela mídia e pelos governantes.

Inovação nos efeitos especiais: “Matrix” é um marco

Outra reflexão que faço sobre essa grande obra é que Matrix também é uma “fuga” da realidade em meio ao próprio contexto apresentado. A obra é recheada de efeitos especiais como desvio de balas, grandes saltos de edifício, cenas em câmeras lentas, o que foi uma inovação para a época.

Esses efeitos deram todo um fôlego para a trama, deixando o filme ainda mais eletrizante. Como na cena em que Neo vai salvar Morpheus de ser sequestrado. As diretoras usam a câmera lenta nas cenas de subida pelas paredes e movimentos rápidos e lentos de forma instigante. Ou na cena em que Neo consegue parar as balas com as mãos – a velocidade é diminuída quando vai de encontro a Neo. É possível ver o caminho da bala de forma minuciosa e detalhista e quando ela cai no chão, isso ocorre lentamente.

Outro elemento que dá sentido à trama é a criptografia: tecnologia que pode ser comparada tranquilamente com o mundo real. Hoje o código se tornou tão importante que tudo está ligado às redes, como trânsito, sistemas, governos e a própria internet. Descrita por meio desses símbolos, causam grande efeito na sociedade, sejam elas falsas ou verdadeiras.

Coadjuvantes

Talvez “Matrix” falhe por não apresentar de forma mais profunda Morpheus nem Trinity. Afinal, apesar da jornada ser de Neo, ambos têm arcos interessantes dentro da trama. Pode ser que isso seja desenvolvido em filmes futuros.

“Matrix” foi um sucesso estrondoso de bilheteria e crítica. Muito mais que um filme, a obra se tornou uma franquia de sucesso, rendendo duas continuações: “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolution”, além de trazer novas perspectivas sobre a trama. Neo representa todos nós que buscamos da forma mais sincera nos questionar sobre nossa realidade. O Escolhido é o retrato de uma sociedade que agora entende a sua realidade, o que é a ilusão e como modificá-la a seu favor.

Escrita pelo colunista convidado Marcos Tadeu

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