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Maratona das Décadas – De Volta para o Futuro

Entre os dias 6 de Julho a 1º de Agosto, aconteceu no Palácio das Artes, mais especificamente no Cine Humberto Mauro, a Mostra De Volta para o Futuro e dentro da mostra um dia inteiro de Maratona das Décadas. O evento apresentou  um panorama do gênero, destacando o desenvolvimento histórico e a pluralidade de estéticas e de narrativas. Dessa maneira, mais de 50 filmes compuseram a mostra como os clássicos “De Volta para o futuro” e “ Viagem do Homem à Lua”.

Além disso, destaco a Maratona das Décadas na qual a curadoria selecionou filmes desde o inicio do cinema do gênero de ficção, de 1902 até 2022, com lançamentos recentes. Confira aqui um resumão do que foi essa Maratona das Décadas e vem comentar conosco!

Os pioneiros na Maratona das Décadas

As duas primeiras décadas

É preciso reconhecer a importância histórica de “Viagem à Lua(1902)”, de George Méliès, o pai dos efeitos visuais. Na história somos apresentados a  um grupo de homens viaja à Lua, sendo levados por uma cápsula lançada de um canhão gigante, mas acabam sendo capturados por homens-lua. As qualidades técnicas desse filme e de como isso foi revolucionário na sétima arte é de se impressionar. Méliès, ilusionista, faz isso muito bem em sua obra, com efeitos de transição e fades.

Ao assistir à obra percebi que o diretor deixa praticamente a câmera parada, enquanto os cenários e pessoas são movidas de formas em diferentes velocidades. Como consequềncia, a impressão em que se tem é de que estamos diante de um teatro, com trocas de cenários e figurinos. Alem disso, a produção aborda toda a forma que é conduzida a questão de como homem chegou até a Lua e o que ele fez a partir do seu conhecimento, ainda que ele algumas vezes, seja atrapalhado por seres extraterrestres. Um registro histórico que vale a pena ser lembrado por toda sua inovação tecnica.

Mary Shelley no cinema

Em “Frankenstein(1910)” surgem outros questionamentos em relação a ficção-científica. Podemos notar na obra como é a relação entre criador e criatura, pois neste momento o homem cria a sua versão. Entretanto, o resultado é sua versão maligna. É muito rico como que nessa obra o debate de homem x monstro é quase que todo tempo falado em sua obra. Parte importante da obra, se caracteriza por apresentar esse monstro como uma criatura feia, cruel e violenta. Mas a medida que o seu criador, Victor Frankenstein começa a se apaixonar, o monstro também deseja isso, receber amor. Curiosamente a forma que o monstro se deixa ser vencido é através de Frankenstein e sua noiva principalmente pelo amor que existe entre eles.

Robert Louis Stevenson no cinema

“O Médico e o Monstro (1920) muito se assemelha ao filme anterior, mas vemos melhor aqui a importância da ciência na sociedade. Dr. Jackyll, um médico renomado por tratar de pessoas em busca das curas para suas dores, sofre com a pressão de ser perfeito. Uma frase importante ao longo da obra diz que “Nós transformamos em quem devemos ser” e isso talvez seja a grande moral da obra. Desssa maneira, o protagonista começa cada vez mais a ficar obsecado por um novo tipo de ciência, até descobrir uma fórmula que o transforma em um monstro.

Toda essa dualidade do médico altruísta e do monstro egoísta faz esse filme se tornar grandioso, justamente pelas entrelinhas. Mais uma vez aqui, as mulheres tem papel fundamental na obra, ainda que isso não seja muito visto na época. Gina é a mulher que decide enfrentar o monstro sozinho e somente ela é capaz de conseguir trazer o doutor de volta a sua humanidade.  Outro questionamento que a obra lança ao telespectador é sobre como os monstros existem dentro de nós mesmos. Esse lado cruel da humanidade, talvez seja representado por nossos monstros e o mal que fazemos a outros, um filme que merece ser visto e apreciado e foi incrível poder assisti-lo na maratona das décadas.

Décadas de 1930 e 1940

Em “O Homem Invisível(1933)  James Whale nos mostra essa história em um misto de gêneros, desde ação, comédia, ficção cientifica e terror. Neste filme um cientista, ao buscar uma nova droga, acaba se tornando o homem invisível. O fio condutor dessa obra é a violência, pois o cientista não aceita ajuda. Assim sendo, ao descobrir o poder de se tornar inversível instaura o caos em Ipping, em uma vila remota da Inglaterra, soltando cavalos na cidade, atrasando os idosos, toda forma de criar uma confusão, usando de sua invisibilidade..

Depoisa, chegamos em 1940 com “Delírios de um Sábio” uma obra negada pela crítica e público que só recebeu o seu devido valor anos mais tarde. Aqui é possível ver como os efeitos visuais, uso de cores e miniaturização foram elementos inovadores para a época. Um tema que muito se espalhou com a evolução do cinema, como questões atreladas ao uso de radiações e invenções malucas. Na história conhecemos um cientista que trabalha na selva sul-americana e miniaturiza seus colegas quando sente que sua megalomania está ameaçada.

Todo filme se passa em torno de como o Dr. Thorkel descobre uma importante mina de uranio na selva e realiza experimentos estranhos em prol da ciencia. O climax acontece quando um grupo de cientistas, convidado pelo doutor, começa a estranhar o sumiço de animais e tentar desvendar a situação. Porém, eles acabam sendo enganados pelo doutor e encolhidos. Uma obra que mostra o quão ambicioso é o homem e quanto ele está disposto a passar por cima de seus companheiros em prol do que acredita ser o progresso.

Pós guerra

As consequências da bomba atômica

Nos anos 50, somos apresentados a uma obra que já ganhou várias versões. “Godzilla” (1954), um clássico filme de monstro assinado por Ishirô Honda aborda com maestria a questão de medo e paranoia dos efeitos colaterais da guerra. Na obra o monstro é tratado como uma resposta da natureza a forma que a humanidade não honrou a natureza. O monstro representando essa resposta é genial para época. Além disso, aborda como o Japão enquanto potência mundial precisa lidar com essa questão no quesito social e político e na forma que ele precisa se organizar para salvar os seus cidadãos. Em suma, uma obra que vale a pena cada minuto em tela.

O medo da Inteligência artificial

O ano de 1968, foi a época de um clássico que marcou gerações“ 2001: Uma Odisséia no Espaço”, de Kubrick. Neste filme vemos desde as primeiras civilizações de humanoides até a humanidade moderna buscando o seu lugar no espaço. “2001” tenta ser mais contemplativo do que realmente uma simples história.

Ele esbarra até em questões que pouco se falava como a Inteligência Artificial e como essa tecnologia pode ser positiva ou negativa para a sociedade. Entretanto, fiquei com a impressão que é um filme cansatívo, talvez por seu ritmo mais lento. Tudo bem que filmes de ficção em sua maioria demora mesmo, mas aqui achei mais do que o habitual. Dessa maneira, não é um filme que mexe muito comigo, mas entendo de sua importância histórica para o contexto da época.

Soap Opera da ficção científica

Chegamos em um ano que foi um marco para história da ficção na maratona das décadas. Com a chegada de “Star Wars-Episódio IV – Uma Nova Esperança”, em 1977, George Lucas constrói uma história sólida de muitas reviravoltas e feito com poucos recursos. Star Wars é aquela franquia que ninguém esperava nada dela e surpreendeu, angariando assim uma legião de fãs.

Na história vemos a Princesa Léia sendo mantida refém pelas forças malignas do Império quando precisa ser resgatada por Luke, Chewbacca, Han Solo, C3PO e R2D2. “Uma Nova Esperança” funciona justamente por ser um filme leve, cativante e divertido, o começo da jornada de Luke para se tornar um Jedi. Impossível de falar de Star Wars, sem mencionar a importância do vilão icônico Darth Vader e que mais pra frente entendemos as razões pelo qual se deixou levar pelo lado sombrio da Força.

Harrison Ford on the set of “Blade Runner”, directed by Ridley Scott. (Photo by Sunset Boulevard/Corbis via Getty Images)

Dois grandes filmes de Ridley Scott na Maratona das Décadas

Alien: O Oitavo Passageiro

Em 1979 fomos surpreendidos com “Alien: O Oitavo Passageiro” de Ridley Scott. O diretor é certeiro ao criar um filme de origem de aliens espaciais que não envelhece de maneira ruim, além de colocar uma mulher como protagonista no início dos anos 70, destacando assim a atriz Sigourney Weaver. O longa aposta em uma mistura de ficção com terror psicológico. Em uma das cena mais clássicas do cinema, vemos o alien saindo da barriga de um tripulante da nave com sede de sangue. O filme é certeiro ao apostar no suspense e em toda tensão criada na relação monstro x humanidade. Um longa com uma estética moderna e muito atual para a época, sem dúvida, um dos filmes do diretor bem aclamado por crítica e público.

Blade Runner

Em seguida, no filme “Blade Runner – O Caçador de Andróides“, Ridley Scott propõe uma reflexão mais filosófica em uma sociedade moderna. Mas, além disso, busca mostrar como cada pessoa está sempre a procura de algo de forma desenfreada. Somos apresentados a Deckard que precisa encontrar os replicantes que voltaram à Terra e dar um destino final a essas criaturas. Um filme que é um primor, tanto em suas qualidades técnicas, quanto narrativamente falando.

Todo o conceito dessa sociedade do futuro reforça ao público como estamos querendo sempre renegar os marginalizados e dar fim a eles. Mas como lidar com esse conflito se somos sua imagem e semelhança? Essas são questões são abordadas no longa de maneira categórica e intencional, magistralmente. Harrison Ford se destaca mais uma vez, vindo de uma leva de personagens iconicos. Se Han Solo fez com que sua força na indústria aumentasse, Decakrd também salta aos olhos por seu jeito sóbrio e carísmático ao lidar com os replicantes.

Leia aqui a sequência da cobertura da maratona das décadas, uma análise da trilogia De Volta Para o Futuro.

Escrita pelo colunista convidado Marcos Tadeu

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