Maníaco do Parque | Crítica
É uma pena que o Brasil não tenha a tradição do Halloween, com a prática de se fantasiar e maratonar filmes de terror. No entanto, o que não falta no país são histórias verdadeiramente assustadoras. Uma dessas histórias acaba de chegar exclusivamente ao catálogo do Prime Video para os assinantes da Amazon. Trata-se do caso do serial killer que dominou os noticiários no final da década de 90. Seja pela extensa cobertura jornalística, seja pelo sensacionalismo barato, todos daquela época souberam quem era Francisco de Assis Pereira.
No início do longa, acompanhamos Elena (Giovanna Grigio), uma jornalista do Notícias Populares que luta para emplacar uma manchete de capa no jornal. Contudo, ela constantemente esbarra no machismo que impera na redação. Enquanto isso, o filme também foca em Francisco, mostrando suas atividades aparentemente normais, como seu trabalho de motoboy e seus passeios de patins pelas ruas de São Paulo.
Como o elenco destacou durante a pré-estreia realizada em Belo Horizonte, o filme não tem a pretensão de romantizar a tragédia vivida pelas vítimas, mas sim de contar essa história para que as novas gerações conheçam os horrores daquele período. E isso foi bem-sucedido: o filme retrata de forma gráfica o terror enfrentado pelas vítimas, além de mostrar como Francisco usava sua astúcia para convencê-las, a fim de cometer os crimes.
Francisco, interpretado por Silvero Pereira, exibe todo o seu sadismo e crueldade, sempre guardando uma lembrança de suas vítimas após cada crime. Paralelamente, vemos Elena mergulhar em seu trabalho jornalístico, buscando provas e evidências dos crimes, apesar da negligência da polícia, que inicialmente deu pouca atenção ao caso. O delegado Medeiros (Augusto Madeira) não demonstrava o empenho necessário nas investigações, até que o caso alcançou repercussão nacional.
A direção de Maníaco do Parque, assinada por Maurício Eça, opta por utilizar uma trilha sonora bastante pop, com músicas de Charlie Brown Jr., o que confere ao filme um tom de ação, em vez de suspense, com um verniz contemporâneo. Em determinados momentos, a busca de Elena se mistura com seu drama pessoal e os embates constantes com sua irmã Martha (Mel Lisboa), desviando o foco do horror central da trama.
O protagonismo feminino, centrado na jornalista Elena, revela dois horrores distintos: o de ser mulher no Brasil e o descaso das autoridades em relação ao caso. Além disso, o filme explora a crueldade fria com que Francisco tratava suas vítimas. Na época, tanto os programas policialescos, que ainda não tinham tanto destaque na TV aberta, quanto o jornalismo sério, disputavam espaço para explorar o caso do Maníaco do Parque, gerando uma superexposição que, infelizmente, não é tão bem abordada no longa.
No final, o que se destaca é a atuação extraordinária de Silvero Pereira como Francisco, que se sobressai em meio a uma história já aterrorizante por si só.
Ficha Técnica:
Direção: Mauricio Eça
Elenco: Giovanna Grigio, Silvero Pereira, Xamã, Mel Lisboa, Christian Malheiros
Roteiro: L.G. Bayão
Direção de Arte: Denise Dourado
Cinematografia: Marcelo Trotta
Distribuição: Prime Vídeo