Mais que Amigos | Crítica
A sequência de abertura de “Mais que Amigos” é um exércicio de auto-consciência e metalinguagem. Isso é uma marca do projeto, que foi anunciado no Festival de Toronto como “a primeira comédia romantica sobre homens”, em uma rima cômica com uma piada recorrente dentro do próprio filme.
Se isso é proposital ou apenas um reflexo do nosso mundo perfeitamente apontado na produção, é difícil dizer, mas ao mesno é preciso reconhecer essa intenção no filme, que optou por escalar na equipe majoritariamente um elenco LGBTA+ mesmo para representar os personagens heterossexuais.
A trama acompanha Bobbly Leiber (BIlly Eichner), um podcaster ranzinza que há muito renunciou aos relacionamentos, mas que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando se percebe apaixonado por um homem que representa todo o oposto do que ele imaginava querer.
Na superfície, nada mais do que uma comédia romântica como todas as outras, natural para um gênero que recicla sua fórmula há mais de cem anos. Mas há aqui algo que falta na maior parte dos enlatados, há coração. Coração para se contar uma história ainda não contada sem o engano da romantização cliché nem os já tão batidos esteriótipos.
O roteiro, assim como o protagonista, está sempre em conflito. Não por menos, o filme se inicia com a recusa a se fazer um “filme gay para toda a família”. A jornada de Bobby para aceitar o amor e do filme como uma verdadeira ponte entre públicos vai se construindo e se aceitando aos poucos. E não é sem percalços.
Seres humanos são assim, complicados. E a sociedade não se transforma de uma hora para outra. Não posso dizer o que ocorreu em outras seções, mas na minha pelo menos uma pessoa ficou incomodada com as cenas de sexo sugerido entre os protagonistas – e essa pessoa deixou a sessão.
O filme tem consciência disso. “Este é o mundo no qual vivemos, infelizmente. Mesmo com ótimas críticas (…), os heterossexuais, especialmente em algumas regiões do país, não foram ver ‘Bros. É decepcionante, mas é o que é”, tuitou recentemente Eichner, que além de protagonizar, foi um dos roteiristas e produtores do filme.
Aos que não se viram envolvidos pela trama perdem. Perdem por não aproveitar um filme com um texto maravilhoso, interpretado por um elenco carismático e profundamente competente e por não experimentarem a montanha russa emocional que o filme provoca àqueles que entram no seu jogo cênico.
Ha problemas de ritmo aqui e ali, e seus valores podem passar desapercebidos a quem estiver distraído. Mas ainda assim, com o tempo, receberá sua justiça e será profundamente lembrado no futuro, afinal são as comédias romanticas um fenômeno de gerações.
Ficha Técnica
Título: Bros (Original)
Ano: 2022
Dirigido por Nicholas Stoller
Estreia: 6 de Outubro de 2022 ( Brasil )
Duração 115 minutos