Livro: Vox – Christina Dalcher
Título: Vox
Título original: Vox
Autor: Christina Dalcher
Tradutor: Alves Calado
Ano do lançamento da edição: 2018
Série: Vox #01
Páginas: 320
Editora: Arqueiro
Onde Comprar: Amazon
O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.Esse é só o começo…Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
…mas não é o fim.Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
Estranho é perceber como a nossa sociedade pode caminhar para um retrocesso do que para um sucesso! Mesmo as mulheres hoje tendo o poder de fala, ainda são muito silenciadas, uma vez que, o machismo do mundo continua caminhando a passos cegos. Uma distopia é mergulhar em problemas postos para que talvez nunca chegue a acontecer.
Vox mostra uma sociedade americana dominada por ideias conservadoras e pessoas que possuem nenhum escrúpulo, dispostas a tudo para tornar o mundo que vive um retrato meio que fiel rodeado por seus preconceitos e um retrocesso na vida de seus habitantes lamentável. A Dra. Jean McClellan, uma mulher na casa dos quarenta e poucos anos, doutora e pesquisadora de neurolinguística, hoje é como uma escrava do lar. Mãe e ao mesmo tempo mulher de um lar, ou o que chamamos “do lar”. Todas as mulheres são proibidas de trabalhar, estudar e de ter voz ativa dentro da sociedade ou na sua própria casa. Elas não possuem voz em nenhuma decisão ou até mesmo opinião. Como pode isso?
Independente da idade, aqui todas as mulheres usam braceletes metálico com um contador. Cada palavra dita aciona esse contador, todas possuem somente cem palavras por dia. Caso a mulher não cumpra descargas elétricas vão sendo acionadas na culpada, desde pequenos choques ou aquela voltagem mortal. Me surpreendi aqui!
Os personagens são honestos, existem aqueles que vamos amar, outros que vamos odiar até entender todo o contexto da trama. Jean é inteligente e bem real apresentando junto seus defeitos. Qual ser humano não possui? O núcleo familiar foi muito bem desenvolvido. E de forma coerente vemos ouros personagens sendo pincelados.
Gírias, palavrões, hesitações, pausas, levam os diálogos do livro serem bem reais. Não possui excesso daquele monólogo cansativo e explicativo. E um ponto que eu gostei muito foi que o autor não preocupa com descrições (e não precisa, não é mesmo?). Mesmo que tenha alguma característica necessária para que possa compor a cena.
Consegui ficar preso em todo o momento, a leitura flui tão rapidamente que quando vamos parar, o livro já está no fim. Eu gostei de tudo, em cada entrelinha. O mundo de Dalcher é muito possível acontecer em nossos dias. Muitos governos podem voltar naquele militarismo privando das liberdades civis, mesmo que a nossa Constituição nos priva de tal mal. Alguns momentos os avanços são corridos, outros momentos eles estagnam. A ambientação demora um pouco para que o leitor possa estar fixo no livro e entendendo o que realmente e onde está se passando tudo. Podendo enxergar na imaginação esse país diatópico. E olhem que tudo isso se passa entre 2019, 2020, período em que estamos vivendo.
A edição da editora Arqueiro ficou parecida com a edição americana. A diagramação me surpreendeu muito, como a tradução que não se perdeu em seus diálogos. Mesmo que o português mude algumas gírias, consegui senti-las coerentes, não tão inventadas. Não percebi erros que prejudicassem o livro.
Leitura bastante indicada para quem possui aprofundar e até entender como as mulheres ainda são privadas de direitos iguais como qualquer homem.