Homem com H | Crítica
Existe uma fórmula muito usual nas cinebiografias de grandes nomes da música que, por serem usadas à exaustão, acabam se tornando clichês — e, muitas vezes, resultam em filmes problemáticos. No entanto, esse não é o caso de Homem com H, cinebiografia do cantor Ney Matogrosso, interpretado por Jesuíta Barbosa, conhecido por Malasartes e o Duelo com a Morte (2017) e Pantanal (2022).
Falando em clichês cinematográficos, o filme se inicia com Ney ainda criança, sofrendo abusos do pai, que não compreendia seu jeito de ser. O pai exigia que o filho se “endireitasse”, recorrendo, por vezes, à agressão física para tentar moldá-lo. Em seguida, após uma transição temporal da infância para a juventude, vemos Ney em sua breve passagem pela Força Aérea Brasileira. É nesse momento que ele começa a entender seus desejos e vontades. Vale destacar que, até então, ele ainda não utilizava o nome artístico, sendo conhecido apenas como Ney de Souza Pereira.
Prosseguindo com a narrativa, o filme mostra a vida pregressa de Ney antes do estrelato com os Secos & Molhados. Nessa fase, ele sonhava com uma carreira artística, mas não necessariamente como cantor — oportunidade que surgiria apenas mais tarde.
A partir do momento em que o jovem Ney de Souza Pereira se entende como Ney Matogrosso, sua vida ganha um novo significado. É então que ocorre sua estreia com os Secos & Molhados, grupo no qual ele finalmente consegue explorar sua proposta artística. No entanto, esbarra na censura imposta pela ditadura civil-militar (1964–1985), que vetava seu rebolado e sua maquiagem, considerados subversivos pelo regime.
Apesar dos muitos altos e baixos da carreira de Ney, o filme não se omite em mostrar suas fragilidades e as partes menos gloriosas de sua trajetória. Essa honestidade narrativa enriquece a produção.
Quando Acontece o Exagerado
Um fator importante na história de Ney Matogrosso é a breve, porém marcante, passagem de Cazuza por sua vida. Sem medo de ser ofuscado, o filme relata essa relação de forma direta, sem amenizar os fatos. Assim, dá espaço tanto às canções quanto à vida íntima do casal, revelando os abusos de Cazuza (Jullio Reis) com álcool e drogas — e como isso afetou a relação entre os dois. Posteriormente, Ney conhece Marco de Maria (Bruno Montaleone), com quem teve uma longa relação até a morte do companheiro, em decorrência do vírus HIV.
Por fim, é imprescindível destacar como Jesuíta Barbosa dá vida a Ney Matogrosso no cinema, entregando uma interpretação digna de prêmio. Mesmo com a presença de alguns clichês cinematográficos, usados em excesso em certos momentos, isso não impede que Homem com H seja um filme fiel, emocionante e profundamente respeitoso com a trajetória de um dos maiores ícones da música brasileira.

Ficha Técnica:
Homem com H
Estréia 01 de março de 2025
Duração: 02h09min
Genero: Biobic, Comédia dramática
Direção e roteiro: Esmir Filho
Elenco: Jesuíta Barbosa, Bruno Montaleone, Julio Reis, Hermilia Guedes, Carol Abras, Lara Tremouroux, Rômulo Braga, Mauro Soares
Diretor de Fotografia: Azul Serra
Diretor de Arte: Thales Junqueira
Figurinista: Gabriella Marra
Montador: Germano de Oliveira
Produção: Paris Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes