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Filme: “No Portal da Eternidade”

No Portal da Eternidade (At Eternity’s Gate. França, 2019)

Direção: Julián Schnabel

Roteiro: Jean- Claude Carrière, Julian Schnabel

Elenco:  Willem Dafoe, Rupert Friend, Oscar Isaac, Mads Mikkelsen, Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Anne Consigny, Niels Arestrup.

Produtor Executivo: François-Xavier Decraene, Deepak Nayar.

Produção: Iconoclast

Distribuidor brasileiro: Diamond Films

Apresentação: Willem Dafoe dá vida a Vincent Van Gogh, interpretação que lhe rendeu o prêmio Copa Volpi de melhor ator no Festival de Veneza deste ano. O filme se passa nas aldeias de Arles e Auvers-sur-Oise, onde Van Gogh se refugiou para escapar das pressões de Paris. Ali, o artista é tratado gentilmente por alguns e brutalmente por outros. Enquanto o também pintor Paul Gaugin se afasta do amigo devido à sua intensidade, seu irmão Theo continua inabalável em seu apoio.

É curioso o interesse cada vez maior sobre Vincent Van Gogh. De modo geral (e pouco justo) podemos falar que seus quadros fogem do convencional, possuem características próprias, mas acima de tudo conseguem imprimir uma gama de sentimentos complexos. Ok, a maioria em geral faz isso, só que existe algo na “brutalidade” de seus traços que fogem da compreensão apressada. Mas está ali, restando a pergunta obvia: quem afinal era esse cara?

Reconstruir a personalidade de alguém tão icônico é doloroso e inacabável. Chega a ser engraçado esse pintor esquecido ser reconhecido tanto tempo depois e se tornar cada vez mais uma referência pop. De qualquer maneira, foi muito corajoso o trabalho do diretor do filme. Também pintor, Julián Schnabel se empenhou em construir uma história que não fosse o retrato do herói que naturalmente se destoa da sociedade de sua época. De maneira simples, o diretor tentou nos mostrar as circunstâncias que fizeram  Van Gogh pintar desde o mais simplório dos objetos, até a paisagem exuberante.

As circunstâncias que me refiro não se limitam a uma inspiração divina ou trauma circunstancial. Nesse caso percebemos o pintor buscando o lugar desse combustível para seus desejos. Esse artista era contemplativo, mas gostava de tirar sua próprias fotografias, mostrando a nós seu olhar peculiar. E justamente nesse ponto é que chegamos a questão central do filme.

Passamos longo tempo tentando entender aquela personalidade que de nada tinha de excêntrica. O Van Gogh do filme achava que precisava ensinar as pessoas como ver o mundo e depois percebeu que não tinha que fazer nada disso, tinha que apenas retratar o que via. Curioso que atualmente esse artista é cada vez mais notado por imprimir uma realidade peculiar em seus quadros: aquela arte ensina e retrata ao mesmo tempo.

Há que se fazer um parentese gigante que toda essa condução do filme não seria a mesma sem o trabalho incrível do ator Willem Dafoe. Particularmente me incomoda as incorporações de atores em cinebiografias e não temos isso nesse filme. Dafoe carrega um caminhão de emoção e consegue tornar realidade aos nossos olhos, uma quantidade absurda de sentimentos. Peço que desconsidere todos os clichês possíveis. O ator se deleita com a riqueza da natureza, com as dores do mundo, com a necessidade de não pertencimento, com os problemas do afeto dos estranhos, com a reciprocidade dos amigos, enfim, é tanta emoção e comportamento que consegue retratar que espero realmente que não passe despercebido a você.

Por fim existe um divertidíssimo diálogo do pintor com um padre que mais uma vez no faz pensar o quanto os artistas são vítimas de seus próprio tempo e o quanto sem essa circunstância, não romperiam as fronteiras do comum. Tudo bem que “o artista tem de ir aonde o povo está”, mas ele por vocação deve tirar o homem da escuridão que vive.

Nota: 5  de  5

“o artista tem de ir aonde o povo está”, trecho da música ‘Nos bailes da vida’, de Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981. 

Trailer Oficial: 

Vitor Damasceno

Estudante de cinema atualmente vivendo em Buenos Aires.

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