Filme: Nasce uma Estrela
Qual o preço da fama?
Na quarta versão do filme “Nasce Uma Estrela” de 2018, dirigido, roteirizado e interpretado por Bradley Cooper ao lado da cantora pop Lady Gaga, a pergunta que prevalece é “qual o preço da fama?”
O longo conta, mais uma vez, a história de uma jovem cantora que vai do anonimato a fama, ao conhecer – ou seria se tornar conhecida? – por um famoso cantor. No caso dessa versão as personagens são Jack e Ally. Ele, um consolidado cantor cowntry, ela, uma garçonete com o desejo de cantar para o mundo. Em uma noite, em um bar, eles se conhecem e iniciam um romance que culminará na decolagem da carreira da moça.
Em meio aos amores e ao sucesso, há o vício de Jack. Alcoolista, o cantor está decaindo a tempos. Seus colegas de banda parecem não se importar. Estão todos ludibriados com a fama e os bens materiais que o dinheiro conta. O músico só pode contar com seu assistente, melhor amigo e irmão, Bobby (Sam Elliott) que o vigia e cuida – na medida do possível -, de seu bem estar.
Desde a primeira conversa do casal há no ar o questionamento de como as pessoas conseguem lidar com os louros da fama. Jack é o exemplo de que o sucesso alcançado, não é garantia de estabilidade emocional. Ele é o cara que tem tudo. Até mesmo um amor. Quando Ally opta por ficar com ele, sua vida ganha um certo brilho. Mas, tomado pelo ciumes, pelo medo de perder seu porto seguro (mais) um motivo para se autodestruir surge.
“Nasce Uma Estrela” parece transitar pelo autobiográfico, quando percebemos “coincidências” entre a tentativa de Ally adentrar ao meio musical e a história contada por Gaga sobre sua trajetória. Tanto personagem como intérprete são julgadas por sua aparência e precisamos optar por alterar o gênero musical com o qual se apresentam. Essa é a possibilidade dada a elas caso queiram integrar o mainstream.
Apesar dessas semelhanças, a interpretação de Gaga não é tão exuberante quanto apontavam as primeiras impressões sobre o filme. Ela está bem, mas até a iniciante sair da fase de inexperiência e se tronar uma cantora bem sucedida é como se a inocência dela fosse abobalhada por demais. Após essa fase inicial, Ally se torna pop e Gaga parece mais confortável em adentrar em um papel que ela já interpreta há anos: o de diva pop desenvolvida para atender a demanda do mercado.
Durante toda a narrativa de “Nasce Uma Estrela”, o diretor cria semelhanças entre a protagonista e Barbra Streisand, atriz que protagonizou a versão anterior a essa. A cada close no nariz, esse paralelo é reafirmado. Ele também aplica em algumas cenas esse foco, para afirmar a troca de olhares ou os carinhos entre o casal, pelo toque de suas mãos. Esse escolha rende cenas românticas e bonitas.
Porém, não podemos negar duas coisas. Primeiro que Stephanie Germanotta, e aqui eu desloco a pessoa da personagem Lady Gaga para afirmar que, é uma cantora mais potente do que o gênero pop permite a ela. Segundo que a química entre o casal deixa o filme confortável e agradável de se ver.
As músicas se encaixam bem na obra, mas nem todas tem o mesmo impacto ao serem ouvidas depois. A primeira parte, repleta de country/folk é muito marcante, enquanto adentrar ao pop tornam as músicas tão comuns que elas não impactam tanto. Como compensação, temos uma última sequência de canto, cantada de maneira emocionante por Lady Gaga. E podem ter certeza que a voz de Cooper é uma delícia de ser ouvida várias vezes.
Escolher humanizar Jack, foi o maior acerto do roteiro de “Nasce Uma Estrela”. Quem lembra da versão dos anos 1970 sabe o quanto a personagem de Kris Kristofferson era um babaca, egoísta e arrogante que buscou destruir a carreira de sua “pupila”. Nesse filme, Cooper dá a Jack escolhas ao permitir que a personagem demonstre preocupação com a possibilidade de sua amada ir ao fundo do poço.
Apesar da ideia do nascer da estrela de Gaga/Ally, quem realmente desponta ao fim do filme é Bradley.
Nota: 3/5
Ouça a trilha completa aqui.