Filme: “Conquistar, Amar e Viver Intensamente”

Conquistar, Amar e Viver Intensamente (Plaire, aimer et courir vite. França, 2018)

Direção e roteiro: Christophe Honoré

Elenco: Vincent Lacoste, Pierre Deladonchamps, Denis Podalydès, Clément Métayer

Diretor de fotografia: Rémy Chevrin

Produtores: Philippe Martin, David Thion, Olivier Père

Produção: Les Films Pelléas, Arte France Cinéma.

Distribuidor brasileiro: IMOVISION

Sinopse: Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor e dramaturgo que vive em Paris. Arthur (Vincent Lacoste) é um jovem estudando em Rennes. Eles se encontram na esquina entre um teatro e cinema. Vivem uma história em um período complicado dos anos 90, onde o amor paira sobre a morte e a ternura luta contra o desespero, porém, a vida continua contra todas as probabilidades.

O cinema dito das minorias é um dos mais difíceis de conquistar o grande publico que ainda vê com olhos cautelosos o amor e vida sexual gay. A matemática que explicaria isso é surreal e provavelmente não assertiva. O fato é que o cinema consegue imprimir para gerações futuras retratos de tempos únicos. “Conquistar, Amar e Viver Intensamente” é um filme que consegue ir fundo em duas coisas: estar apaixonado e viver. O que temos aqui é um filme audacioso em mostrar esses temas de uma forma elegante como pouco se vê.

Nessa história temos dois heróis: Jacques e Arthur. Um escritor veterano e um jovem estudante. O jovem enfrentando o mundo e sua sexualidade sem o mesmo peso do outro que, embora não seja tão mais velho, empregou a si um peso ao medo de ser feliz e amar que não deveria.

Talvez seja difícil ao leitor entender que existem dois momentos históricos divisores de tempos na vida dos gays. O primeiro em que a sociedade os via como doença e a Aids ajudou muito esse entendimento. E o segundo momento, a partir da primeira metade dos anos 90, em que a Aids foi controlada e melhor compreendida e os gays passaram a afirmar seus direitos, ao passo que a internet deu voz e união a tantos jovens solitários e perdidos na descoberta de sua sexualidade. Consequentemente, a diversidade da sexualidade foi constatada e é continuamente explorada.

É interessante como os heróis podem representar esses dois momentos. O escritor Jacques tem muitas dores internas não resolvidas e provavelmente sua experiência pessoal tenha traumas que atrapalham sua liberdade. Já o jovem Arthur carrega o frescor da nova geração que tudo pode e desfruta da liberdade como algo que não precisa pedir licença. A história de amor dos dois na realidade acaba sendo o embate dessas duas gerações tão próximas.

A elegância do filme é constada na atuação dos atores, em destaque ao ator principal Pierre Deladonchamps que vive o escritor Jacques. Sua vida sofre nova perspectiva quando conhece o estudante Arthur. Nele vê a juventude que gostaria de recuperar. É muito bonito ver nos olhos do escritor um grito de desespero, uma carência e o amor questionando suas certezas. Parabéns ao ator que consegue esse efeito. O embate das gerações acontece mais na cabeça dele enquanto que Arthur consegue desconstruir muitas das suas certezas. Se o jovem decide viver esse amor, ele vai e não se preocupa em antes validar suas decisões com os pais e amigos.

Existe um conjunto de detalhes no filme que reforçam a qualidade do diretor, Christophe Honoré, representado a muitos como herdeiro da Nouvelle Vague, movimento do cinema francês que repercuti além do tempo. É interessante que uma terceira geração é apresentada sutilmente na figura do filho do escritor. Para sua pouca idade, lida com reflexão misteriosa os problemas afetivos do pai. Absorve tudo muito mais rápido que todos e é apenas uma criança.

“Conquistar, Amar e Viver Intensamente” concorreu ao prêmio máximo do importante Festival de Cannes de 2018 na França. Para a quantidade de assuntos difíceis que lida é leve e consegue ser forte em não oferecer um final gratuito. Embora seja um tipo de desfecho que pessoalmente me incomode, acho corajoso e consigo respeitar.

Nota: 5,1  de  5

Trailer Oficial: