Filme: Bohemian Rapsody
Bohemian Rapsody (2018)
Distribuidora: Fox Filmes do Brasil
Direção: Bryan Singer, Dex Fletcher
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Rami Malek, Lucy Boynton, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Mike Myers, Gwilym Lee, Aidan Gillen, Allen Leech, Tom Hollander, Aaron McCuster
Direção de Arte: Rachel Aulton, David Hindle
Montagem: Newton Thomas Sigel
Bohemian Rhapsody é uma celebração exuberante do Queen, sua música e seu extraordinário cantor principal Freddie Mercury, que desafiou estereótipos e quebrou convenções para se tornar um dos artistas mais amados do planeta. O filme mostra o sucesso meteórico da banda através de suas canções icônicas e som revolucionário. Durante esse processo, foi consolidado o legado da banda que sempre foi mais como uma família, e que continua a inspirar desajustados, sonhadores e amantes de música até os dias de hoje.
A crítica abaixo foi escrita pela colunista Anna Carolina Perucci
Uma das bandas mais influentes das últimas décadas teve sua história (ao menos partes importantes dela) contada na cine biografia “Bohemian Rapsody” (2018), de encher os olhos e ouvidos de qualquer espectador. Num longa metragem recheado de belas cenas e reproduções de momentos icônicos do Queen, a curadoria das músicas é certeira. Os responsáveis pela produção musical do filme são Brian May (guitarrista) e Roger Taylor (baterista), integrantes da banda. É difícil se conter na cadeira, pelo menos o pezinho vai balançar ao ritmo dos grandes sucessos da banda.
Por ser um filme baseado na vida de pessoas e em fatos que estão marcados na memória do público, foi uma produção delicada de sair do papel. Desde 2010 é falado sobre a produção de um filme contando a origem e trajetória do Queen, mas apenas em 2017 o projeto saiu do papel para tomar forma. Foram muitas especulações, escolhas e trocas de elenco e produção, mas justiça seja feita, a espera valeu a pena. Dirigido por Bryan Singer e Dexter Fletcher o filme é empolgante, engraçado e com uma bela dose de drama digna da Realeza do Rock’n’Roll.
O filme traz a bonita e difícil trajetória do “nascimento” de Freddie Mercury (Rami Malek), um jovem de Zanzibar, criado em Londres, que não se encaixava nos padrões esperados pela sua família – vinda de uma cultura de costumes muito conservadores – e nem pela sociedade da época. Sempre buscando o seu lugar no mundo Freddie conhece Brian May (Gwilym Lee) e Roger Taylor (Ben Hardy) num clube no show do trio Smile e se oferece como vocalista quando o vocalista do trio os abandona após uma apresentação. Com uma nova formação o Smile, na semana seguinte, se apresenta no mesmo clube, mas agora com Freddie nos vocais e John Deacon (Joseph Mazzello) no baixo. E assim nasceu o Queen, em um clube pequeno e escuro, cheio dos “desajustados” de Londres.
O início da banda é contado de forma deliciosa, leve e engraçada, como todo início de love story, mas com um foco especial na descoberta e metamorfose de Freddie.
Momentos importantes como a gravação do primeiro álbum do grupo são reproduzidos e faz o espectador se conectar ainda mais com a história. Ver jovens criativos, cheios de paixão por música e que não dão a minima para opinião dos figurões da indústria é um deleite, e saudoso até mesmo para mim que não tenho idade para ter acompanhado a banda.
Uma das linhas condutoras do filme é a relação de amor e afeto entre Freddie e Mary Austin (Lucy Boynton) que foi um dos grandes amores da vida do cantor e sua companheira de vida inteira, pra quem ele compôs “Love of my Life” e que traz um dos momentos mais lindos e emocionantes (entenda emocionante como um rio de lágrimas para mim) presente em um momento muito íntimo do casal e relembrando a primeira apresentação do Queen no Brasil diante daquele público massivo, que não tem o inglês como língua materna, mas cantou uníssono cada palavra dessa música que é uma das declarações de amor mais bonitas de todos os tempos.
Ao se reinventar e não se acomodar nos padrões esperados, o Queen, como qualquer banda enfrentou diversos desafios diante do público, das grandes gravadoras, imprensa e deles mesmos. Os impulsos e personalidade de Freddie foram um dos obstáculos mais difíceis para que a banda continuasse a reinar plenitude no caminho do sucesso. O filme traz momentos em que mostra o estrelismo e egoísmo do vocalista e seus delírios que hora traziam a criatividade dele e dos parceiros a tona mas que também trazia conflitos e dificuldades no caminho.
Um ponto forte que ressalto sobre o filme é mostrar que todos na banda são produtivos de várias maneiras. O Queen foi uma banda de compositores, cantores e instrumentistas, que contribuem e participam dos processos de concepção por inteiro, é uma inspiração!
A vida pessoal mais dissecada é a do vocalista. Rami Malek interpretou com precisão a forma de falar, os trejeitos no palco, no caminhar. Freddie foi uma aparição neste mundo e o ator nos eleva com sua performance, digna de pelo menos uma indicação da Academia.
Há quem diga que o assunto mais polêmico não foi trato de maneira objetivo, a homosexualidade de Freddie, mas é ressaltado em momentos específicos que o próprio cantor dizia não querer ser bandeira para nenhuma causa, que ele queria ser ele mesmo, mas ao ser ele mesmo ele abriu caminho para que várias pessoas também se avaliassem e se sentissem à vontade para ser quem elas são. Representatividade importa, essa é a lição! Não é defeito ser fora dos padrões, buscar o que te faz bem, mas sem nunca esquecer de não ultrapassar os limites da saúde e do bom senso. Essa é a mensagem que fica ao ver a vida de Mercury representada no filme.
O filme chega até a fase pregressa e conturbada de Mercury em que ele se afasta de sua família ( banda + família + Mary) e se afunda em festas, drogas e comportamentos de risco. Após isso é contada da descoberta do HIV, o reencontro com Jim Hutton (Aaron McCusker) e o retorno da banda no Live Aid (1985). A sequência que reproduz o concerto foi gravada no Estádio Wembley e este momento de tirar o fôlego coroa essa homenagem a banda e aos fãs que são milhares pelo mundo até hoje.
A produção é muito bonita e conta com dignidade a história desta banda de seu vocalista icônico, todos lendários membros da Realeza do Rock’n’Roll.
Assista ao trailer aqui