Filme: As Viúvas
Direção: Steve McQueen
Roteiro: Steve McQueen, Gillian Flynn
Elenco: Viola Davis, Liam Neeson, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki, Colin Farell, Daniel Kaluuya, Robert Duvall, and Cynthia Erivo
Após um grande assalto que terminou na morte do grupo de bandidos, suas esposas se encontram imersas em uma série de problemas. Não que suas vidas fossem maravilhosas, já que seus relacionamentos eram marcados por inúmeros problemas e desgastes. Mas agora, elas precisam corrigir as falhas deixadas por eles e lidar com toda a carga emocional que esses óbitos trouxeram.
Em “As Viúvas”, novo filme de Steve McQueen, diretor de “Shame” e “12 Anos de Escravidão”o foco são na vida de um grupo de mulheres em busca de resolver os problemas deixados por seus maridos que podem custar a suas vidas. Elas precisam se unir, mesmo sendo desconhecidas umas das outras, e por em prática o último plano de seus maridos.
Viola Davis (Veronica Rawlings) e Liam Neeson (Harry Hawlings) são duas potências. Todas as cenas em que se encontram juntos – sejam nas românticas ou nas que refletem a crise conjugal pela qual eles passam – são repletas de expressividade. McQueen consegue, ao focar nos rostos e ao percorrer com a câmera o corpo dos dois, estabelecer que os gestos de cada um deles entreguem personagens completos em sua composição.
A quantidade de personagens a ser desenvolvidas, prejudica o desenvolvimento das “pessoalidades” de cada um. Há alguns que se fossem eliminados da narrativa, em prol do desenvolvimento de outros, não fariam falta. Os dois candidatos mesmo – Colin Farrel (Mulligan) e Brian Tyree Henry (Manning) – são os grandes “vilões” da trama polítca do filme, mas acabam sendo ofuscados por, respectivamente, seu pai (Robert Duvall, em poucas cenas, mas sempre muito bem) e seu irmão (Daniel Kaluuya).
Em uma sequência o diretor consegue afirmar o que pouco antes havia sido discutido entre as personagens dos candidatos. No primeiro encontro entre os dois, ao se falar do porquê cada um merece o cargo, o fator “morar na região” é levantado. Mulligan diz que conhece bem a área na qual a suja família atua politicamente há 30 anos. Manning ressalta que isso é uma inverdade, já que ele mora na parte boa do distrito e desconhece a dura realidade da população pobre.
A sequencia em que o carro de Farrel sai do terreno baldio no qual ele exalta o projeto de seu pai – projeto que insere no mundo empreendedor as mulheres negras daquele distrito -, e vai em direção a sua casa situa e divide bem quem são aquelas pessoas em pé de guerra por um cargo político. No fundo ambos querem manter o poder financeiro, mas há muita obviedade nas tensões raciais que estão em jogo.
A câmera foi posicionada em cima do capô do carro de maneira que não vemos quem está dentro do veículo, exceto uma mancha do que seria o motorista. em off Mulligan e sua assistente discutem sobre a vida sexual dela – o que na verdade é apenas uma briga de egos feridos. A câmera começa seu deslocamento da esquerda, mostrando a miséria daquela região pobre, segue por uns dois quarteirões, centralizando aos poucos no vidro do veículo, e vira à direita, adentrando na área mais abastada na qual Mulligan mora.
Há no filme duas atuações que merecem ser destacadas. A primeira de Daniel Kaluuya como Jatemme Manning o irmão do candidato (Jamal) Manning, um criminoso sem escrúpulos que mesmo em sua estrutura sádica não ficou caricato como o típico traficante em busca de ascensão poderia ser. Ele parece ser, em princípio, mais centrado que o irmão no tipo de ação que deve ser feita para garantir a vitória na candidatura. Estratégias sujas e violentas, mas que garantiriam o cargo. Infelizmente, a personagem perde força e desaparece após algum tempo, ressurgindo apenas para finalizar o seu arco.
A outra atuação em evidência é a da belíssima Elizabeth Debicki (Alice) que inicialmente parece ser apenas uma moça sonsa e vitimizada pelos relacionamentos abusivos com o esposo e com a mãe e, se mostra alguém em busca de mudanças e disposta a se arriscar naquele plano para ter sua liberdade. Ao ver essa moça ao lado de Viola, somos levadas a pensar em como apenas as duas já dariam “conta do recado” de conduzir o filme.
O roteiro é assinado pela autora de “Garota Exemplar”, Gillian Flynn, ao lado do diretor. O que podemos ler em seus livros é reforçado aqui, porém, repito que o excesso de personagens privou o filme de um desenvolvimento melhor. “As Viúvas” fala sobre realidades distintas e aposta em sororidade no momento de crise que atinge a todas aquelas mulheres. O suporte e o apoio dado uma a outra pode ser a única esperança de vida. Elas se ajudam e se mantém. Mas algumas escolhas não “arrematam” o filme de maneira satisfatória.
Ao fim sentiremos que algumas peças não se encaixam tão bem e que o protagonismo das mulheres, vendido no título e nas divulgações, não é tão grandioso assim.
Nota: 3,5/5