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Em coletiva do filme “A última Floresta”, Davi Kopenawa denuncia descaso de autoridades brasileiras | Notícia

“Os invasores estão com muita raiva, querendo roubar nossa terra”, diz o líder político e xamã Davi Kopenawa a um grupo pequeno de jornalistas em uma sala virtual onde ocorre a coletiva do filme “A Última Floresta“.

Autor do celebrado livro “A Queda do Céu”, agora é responsável pelo roteiro do filme dirigido por Luiz Bolognesi, vencedor do prêmio de público no 71º Festival de Berlim.

Kopenawa é direto, afirma com potência o desejo de vida e de preservação da sua cultura. “Nosso povo quer continuar vivendo”, diz ele em certo momento, antes de completar que é difícil fazer com que “o povo da cidade” entenda isso em português.

A dinâmica linguística é poderosa. A tradução sempre é imprecisa, mas evidencia a riqueza que é possível através de um um outro sistema de signos. O filme, que estréia nos cinemas em 9 de setembro, é a mostra maior disso.

Quando perguntado sobre como foi exibir o filme em uma aldeia em que o cinema era uma novidade, Kopenawa, repleto de uma poseia única responde que ver um filme é como sonhar junto com os outros.

De novo, o português não dá conta. Para realizar as gravações, Bolognesi foi convidade a permanecer dez dias na aldeia. Segundo o diretor, foi uma experiência positiva de “perda de controle”.

Armas e o garimpo

Davi Kopenawa usou bastante o tempo da entrevista para falar sobre os ataques comuns do garimpo às comunidades indígenas no Brasil.

Explicou que as armas são instrumentos de caça e defesa, e que nunca deveriam ser usadas para tirar a vida de alguém. Ainda assim, o que vemos nos últimos anos é uma invasão constante e impune de territórios no Brasil.

Enquanto no país se discute julgamento do marco temporal e quando manifestações enormes são realizadas em frente às sedes dos três poderes – devidamente ignorados pela grande mídia – Kopenawa profetiza que a busca desenfreada pelo dinheiro trará problemas ainda maiores que a Covid-19.

Para ele, quanto mais se degrada a natureza e se consome os recursos naturais, mais a sociedade promove a própria destruição. Citando o sonho de outro xamã, Kopenawa afirma:

Vai ter outra doença muito forte para outra cidade, porque outra cidade é muito numerosa e não dá pra caber todos no nosso planeta. A doença vai diminuir o número do povo da cidade. resceu o número do povo da cidade e vai ter que minimizar pra não mexer mais na Terra, deixar o planeta protegido. Assim o xamã Pedrinho falou e tô repassando para vocês pensarem…”

O passado é agora

As palavras de Kopenawa são, para muitos, um alerta vazio. Dentro da mentalidade ocidentalizada de culto à razão, é fácil se apegar às seguranças de um racionalismo vazio. A nossa própria noção de profecia trata de desdenhar de toda e qualquer espiritualidade – que não seja a nossa, fique claro.

Mas, como apontou Bolognesi, num relato curioso de relação com os atores indígenas, o passado na cosmovisão que eles adotam não é estanque. “O mito não está no passado, pode ter acontecido ontem”, afirma.

Poderosas e influentes, as histórias movem e constrõem as relações de sentido dos acontecimentos e as narrativas de poder que perduram.

A história de violação das terras de povos originários remete ao princípio da colonização, mas, somente em 2020, mais de 10 mil garimpeiros ilegais invadiram as reservas, derrubando a floresta, envenenando os rios e espalhando Covid-19 e outras doenças entre os indígenas.

A estreia do filme nos cinemas está marcada para o dia 9 de setembro, e, na semana seguinte, dia 16, o documentário ficará disponível plataforma de streaming do Itaú Cultural, das 19h às 23h.

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