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Durval Discos | Crítica [Relançamento]

¨Durval Discos¨ é um filme lançado em 2002 que marca a estréia na direção de longa metragem da brasileira Anna Muylaert. De lá pra cá Anna vem nos presenteado com fabulosos filmes. Por isso a remasterização desse seu primeiro filho e relançamento nas salas de cinema não é apenas merecido, mas é a doce e irônica constatação da prova do tempo ao qual o filme foi submetido. Vinte anos se passaram e Durval Discos se mantem sólido como um filme gracioso, contendo em sua historia uma das melhores reviravoltas do cinema nacional, e nos dá lição que nem toda novidade perdura.

Durval é personagem principal que dá nome a loja de discos localizado e um bairro residencial de São Paulo. Seu principal conflito está no fato que vende discos de vinil em um momento em que os CDs os estão substituindo por terem melhor qualidade sonora e mais apelo comercial. É uma realidade incontornável a qual o protagonista encara com engraçado mal humor e resistencia. Sua loja, abrigada dentro da própria casa em que divide com sua mãe idosa, funciona como um refúgio ao seu mundo particular agora ameaçado pelas novas tecnologias. E assim somos apresentados a essa realidade em que a primeira metade do filme nos envolve com esse calmo cotidiano do solteirão, incapaz de fazer a própria comida que deseja. Rapidamente podemos confrontar sua dependencia financeira e sua falta de sucesso em arrumar uma namorada com o próprio insucesso empresarial. Mas o filme esconde até sua metade duas realidades: a verdadeira personalidade de Durval e a pergunta que deixa no ar.

Durval é um homem mais doce e familia que aparenta e isso só é demonstrado graças a chegada de um terceiro personagem importante e sua reviravolta super engraçada na história. Na realidade é uma tragédia, que pode ser interpretada como humor trágico, devido as reações pitorescas daquelas pessoas que demonstram estarem totalmente fora da própria realidade que vivem, seja o protagonista com sua falta de noção de mundo, seja sua mãe pela aparente falta de propósito de vida. Ainda assim, suas decisões nos cativam, para alem de fazer rir.

Por outro lado, o filme tem um desfecho pode-se dizer bastante realista, mas deixa uma incerteza sobre o destino dos personagens e seus vizinhos como se perguntasse a nós mesmos qual será o futuro dessas pessoas e consequentemente qual será o nosso futuro. Os CDs ganham a guerra contra os LPs? Bem, sabemos que atualmente quem está voltando é o velho disco de vinil, e encontrou-se um substituto para o CD através das plataformas digitais. A resposta desses 20 anos que se passaram é irônica e combina muito com o filme. Ao mesmo tempo a escolha do final foi de uma esperteza tremenda já que nos deixa claro que o novo sempre se sobrepõe. Não temos controle de absolutamente nada de nossas vidas e tudo pode acontecer. Essa remasterização em 4K traz de volta um candidato a clássico brasileiro que muitos não conhecem e merecem aprecia-lo. Um filme leve, engraçado com excelentes atuações e direção precisa. Um filme redondinho e grande como os LPs de seu herói.

Nota:  4,5  de 5

Vitor Damasceno

Estudante de cinema atualmente vivendo em Buenos Aires.

Um comentário sobre “Durval Discos | Crítica [Relançamento]

  • Adorei o texto, Vítor! Durval diverte e faz pensar. Uma gostosura de filme.

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