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De repente adolescente, Camila Fremder , Clara Alves, Iris Figueiredo, Jim Anotsu, Julie Dorrico, Keka Reis, Luly Trigo, Olívia Pilar, Socorro Acioli, Vitor Martins | Resenha

De repente adolescente é uma antologia contendo dez contos. Todos trazendo como plano de fundo a adolescência, seja ela com o seu modo de ver o mundo ou questões pessoais.

A ÚLTIMA SUSPEITA, de Camila Fremder – Karina tem quase quinze anos e não menstruou, isso a frustra. Ver as amigas tendo que usar absorventes, comer chocolate, ficar se TPM, isso tudo a incomoda. Para afastar dessa neura, ela decide investigar o seu vizinho que se mudou recentemente. Ele tem agido de forma estranha e isso despertou em Karina em fazer igual aos filmes preferidos de suspense que ela ama, solucionar um mistério.

Conheço Camila do Snapchat em fazer diversos personagens, de alguns livros com parceria com Jana Rosa e com o podcast É nóia minha? Gosto muito de sua forma de se comunicar. Em seu conto achei muito breve, mas ela trouxe um plot interessante da frustração da protagonista juntamente com o mistério que ela decide resolver. A escrita é cativante, traz certa aproximação de conhecer mais a personagem e saber logo o que o vizinho tem andado fazendo de tão suspeito.

EU ESTOU AQUI, de Clara Alves – Bianca decidiu entrar num concurso de escrita, no intuito de salvar suas notas, pois está correndo o risco de repetir de ano. Isso tudo depois de ter que se mudar de casa e também de escola. A relação com sua mãe é conturbada, por sentir a ausência da matriarca, o que também sente o impacto do abandono do irmão por conta de um evento. Isso tudo tem crescido é está prestes a explodir em uma erupção.

Essa trama já me ganhou nas primeiras páginas, pois vi uma trama consistente, com sentimentos aflorados nas entrelinhas, fazendo com que o leitor gere uma identificação com a protagonista e consiga se envolver. Eu amei essa pequena jornada de Bianca em busca de se encontrar e também da sua escrita. O que só me incomodou foi o motivo do conflito entre o irmão, Bianca e sua mãe. Achei fraco pela grandiosidade que se acarretou.

A REVOLTA DOS SALGADOS, de Íris Figueiredo 5 – Rachel é uma adolescente cadeirante que vive sua vida normal, porém situações e pessoas colocam obstáculos para impedir dela ser inclusa na sociedade, no caso no ambiente escolar. Seu professor de educação física e a escola enviou um comunicado aos seus pais informando que Rachel não participaria das aulas práticas, e sim fazer trabalhos sobre esportes e durante essas aulas ela ficaria na biblioteca. Sem saber o que fazer ela coloca esse lugar de livros como seu passatempo, e além de aumentar seu gosto pela leitura uma situação a motiva a se candidatar ser representante de turma. Uma corrida de ganhar votos é iniciada, e Rachel está obstinada a ganhar.

Esse conto foi muito bom! Íris inseriu uma narrativa por meio de listas, conversas do Whatsapp, tweets, comunicados, entre outros meios de comunicação de forma leve, estimulando uma dinâmica envolvente e diferente, o que foi que me instigou a despertar ainda mais o endereço de conhecer mais a protagonista e sua história. A autora apresentou temas relevantes como capacitismo, sororidade, irmandade feminina e o despertar do interesse pela leitura.

A BATALHA DAS MAMONAS VERDES, de Jim Anotsu- Luzia vive em Arraial Curral del Rey, um lugar que diariamente brinca com seus amigos e mora em uma casa simples com sua mãe. O ano é 1889, a República havia sido proclamada e a expansão territorial estava em ascensão. Arraial está com seus dias contados e em breve se tornará a capital de estado, mas para isso acontecer terão lutas.

Esse conto me surpreendeu. Eu não estava entendendo o início, mas aos poucos o autor foi situando, e quando compreendi fiquei chocado. A voz narrativa é Arraial Curral del Rey, o lugar que logo depois veio ser substituído pela cidade de Belo Horizonte. O autor trouxe uma trama dramática forte e muito bem escrita. A reflexão central é como os opressores tem seus nomes exaltados, e isso vem de geração em geração. Os oprimidos são silenciados e totalmente esquecidos.

MENINA-MOÇA, de Julie Dorrico – Maíra está na transição de pré para adolescente. Ela vive com sua família no interior de Roraima e tem identidade indígena, especificamente ao povo macuxi. Imersa na cosmologia e histórias contadas por seu avô, mãe, ela relata de forma leve as vivências das suas raízes.

Esse conto é permeado de representatividade e e relevância acerca da cultura brasileira, com o compartilhamento de algumas histórias do folclore. A autora pertence ao povo macuxi, portanto, ela traz riquezas de detalhes, aborda as dificuldades de ser índio em meio a uma sociedade desrespeitosa às raízes da nação. Achei o drama inserido desnecessário, mas num todo o conto foi interessante de ler.

CASA NOVA, de Keka Reis- Gabriela não vê seus pais há três anos, após sua mãe pedir o divórcio e ele cortar todos os contatos. Porém ele se arrependeu e ela aceitou dar uma nova chance. O conto então é narrado pela protagonista na primeira noite em que ela volta a ter contato com ele.

O conto foi bem fluido, distribuindo sentimentos melancólicos por meio das palavras, o que foi interessante acompanhar essa reconexão entre pai e filha. Algo que me incomodou foi o pai de Gabriela soltar algo referente a mãe e deixar no ar, pois acredito o que ele iria dizer era um ponto crucial entre a verdade dos fatos e uma nova visão e compreensão que a filha poderia ter dele.

SEGUNDA CHANCE, de Luly Trigo – Bethânia é uma adolescente repetente e está prestes a pegar o resultado da última prova para saber se passará de ano, a noite seria o baile de formatura e no dia seguinte partirá para um intercâmbio no Canadá. Chegando em sua casa após as aulas se depara com uma situação chocante, seu mundo está prestes a rodopiar e a alegria que estava pulsando em seu coração começou a esmorecer.

Esse conto foi tocante, envolvendo amizade, primeiro amor, principalmente a relação entre os pais e os conflitos que as vezes certas famílias enfrentam. Ela com maturidade, apesar de sofrer, consegue criar forças e se posicionar com o furacão ao seu redor. Luly entregou uma trama fofa e emocionante ao mesmo tempo.

ENTRE ALGODÕES-DOCES E MONTANHAS-RUSSAS, de Olívia Pilar – Após de dois anos sem se verem Duda e Lara se reencontraram. Com treze anos agora, as duas compartilham de várias histórias. Duda está sentindo algo diferente quando olha PH, irmão mais velho de Lara, mas quando está com sua amiga de infância sente as mesmas emoções. Em uma noite em um parque de diversões Duda descobrirá mais sobre si mesma.

Um conto rápido e bem leve de ler. A autora aborda de forma orgânica a autodescoberta da bissexualidade de Duda, em uma noite ela fica reflexiva por situações em que vive e se questiona o que é aquilo. Durante a noite repostas vão sendo expostas para ela, e de forma instigante nos leva ao fim desse conto aguçando a curiosidade sobre como irá terminar a conclusão da protagonista.

A MAIOR ARTISTA DE MARANGUAPE, de Socorro Acioli – Rosélia Regina, quer dizer, Rayllane, almeja o estrelato na atuação. Seu sonho e seu objetivo é ser uma grande atriz. Tendo uma oportunidade de fazer um teste na cidade grande, ela e sua mãe, mudam para Fortaleza, afim de realizar seu sonho. Porém tudo desmorona e não resta mais chances de idealizar o que sempre sonhou, mas as vezes o que você almeja venha num caminho mais árduo e curvas mais alongadas.

Esse conto foi divertido e cativante. Primeiramente percebemos uma menina de quinze anos soberba e confiante que irá realizar seu sonho de primeira, depois percebemos como o choque de realidade a levou a pôr os pés no chão e aceitar a realidade e aproveitar as oportunidades que a vida lhe dá. A autora soube trilhar a jornada de Rayllane de forma leve e comovente. Amei!

AGULHAS E BOLINHAS, de Vitor Martins – Murilo perdeu o seu avô, que considera como pai há um ano, desde lá o convívio com sua avó/mãe tem sido complicado. Para então tentar distrair, sua avó decide inscrevê-lo em aulas de bordado, hobby que o seu avô/pai ensinou um pouco. Murilo não ficou tão animado, mas se surpreenderá com que está por vir.

Esse conto que fecha a antologia foi bem cativante e consegue captar a atenção do leitor com misturas de nostalgia e saudade de alguém que você amava que já se foi. Murilo, uma criança de doze anos enfrentando o luto e arriscando a validar a memória do seu avô foi lindo de acompanhar, tão lindo que ficamos com vontade de ler mais.

O livro contém também um jogo de perguntas entre os autores, o que podemos compreender melhor as histórias, sentimentos e motivações das trama que cada um escreveu.

Luke

Jornalista como profissão e bookaholic por prazer. Amo livros, especialmente os New Adults. Sou viciado em séries, mas sempre paro pela metade para começar outras. Aerosmith, Bom Jovi e todas essas bandas antigas são minhas preferidas. Aliás, sou extremamente nostálgico.

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