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Raia 4 (2019) | Crítica

O gênero coming of age parece ter chegado para ficar. Quem acompanha as repercussões de festivais brasileiros – Senda Gramado e Brasília os mais comentados – leu e ouviu de críticos muitas comparações entre “Raia 4” com outros filmes ao qual o julgaram assemelhado, estes como “Boyhood”, “Lady Bird” e “As Vantagens de ser invisível”. Com seu lançamento nas salas agora em 2021, procuro ao contrário me distanciar dessas comparações para observar o filme a partir daquilo que ele é.

Mais vantajoso do que comparar este longa com outros da tradição estadunidense, e com os quais ele divide apenas um estilo temporal, é ter como parâmetro a produção anterior de Emiliano Cunha que estreia em longas depois de apresentar como currículo curtas como “Tomou café e esperou” (2013), “Sob águas claras e inocentes” (2016), e a série “A Benção” (2020) a que tivemos acesso antes da estreia deste longa de 2019. Esta produção pregressa aponta as direções que podemos esperar, um controle firme da direção e a expectativa de se colocar em tela dilemas morais fundamentais, bem como um certo nível de truques da direção para o expectador, como piscadelas que apontam para qual o jogo cênico que se está sendo colocado em jogo.

Em “Raia 4”, também roteirizado por Emiliano, acompanhamos a jovem pré-adolescente Amanda no meio da preparação para um torneio de natação enquanto se vê em meio a descoberta da própria sexualidade, se atraindo por uma colega da equipe que já está envolvida com outro menino. Lugar comum e sem brilho, retratanto o cotidiano de uma família de classe média com ecos de uma paternidade quase ausente, o filme quase se perde na rotina da protagonista enquanto aposta numa sensação de estranheza e posiciona suas peças para o truque que provoca a reviravolta final. Uma cena de filmes de terror aqui, um ato de agressão injustificado acolá e tudo isso passa despercebido pelo expectador.

A escolha de se trabalhar com atletas juvenis oferece certo charme, que se esvai do incômodo inicial com as situações corriqueias. As cenas na água são belíssimas tanto em sua entrga quanto na fotografia e passam muito bem a sensação de segurança que Amanda sente na água. Outro truque, uma vez que segurança também pode significar perigo. O problema com essa condução, no entanto, se encontra na narrativa que soa forçada em seus últimos momentos. Passado o choque, a pergunta acerca de uma razão para o acontecido parece apontar em um caminho difuso que pouco oferece à trama. Soa como um “eu posso e eu fiz” do roteiro, em que a subversão não recompensa e sim trai o investimento do espectador.

Com uma narrativa visual muito bem executada e mostrando um verdadeiro passo largo na história do cinema nacional em termos de fotografia, “Raia 4” é ganhador de três prêmios no Festival de Gramado: Júri da Crítica, Fotografia (assinada por Edu Rabin) e Melhor longa gaúcho. A produção chega aos cinemas em 06 de maio, e em plataformas digitais (NOW, Google Play, Apple Tv, iTunes e Youtube Filmes) no dia 20/05.

Raia 4 (2019)
Brasil
Gênero: Drama
96 minutos
Roteiro e
direção: Emiliano Cunha

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